‘Infância’, novo espetáculo de Marcos Marinho, estreia nesta quinta

Com apresentações no Teatro Paschoal Carlos Magno, peça reúne cenas que relembram a infância do artista


Por Júlio Black

23/06/2022 às 07h00

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Marcos Marinho retorna aos palcos com espetáculo baseado nas lembranças de infância (Fotos: Divulgação)

O ator, dramaturgo e diretor Marcos Marinho foi buscar nas lembranças dos anos 1960 o fio condutor de sua nova peça, “Infância”, que estreia nesta quinta-feira, às 20h, no Teatro Paschoal Carlos Magno. Com ingressos já esgotados, o espetáculo terá outra apresentação, no mesmo horário e local, na sexta-feira – e vale lembrar que o uso de máscara no interior do teatro é obrigatório. Mas quem chegou atrasado terá uma nova oportunidade de assistir ao mais recente projeto de Marinho, pois já estão marcadas novas apresentações para os dias 2, 3, 9 e 10 de julho no Museu Ferroviário. Os ingressos antecipados podem ser adquiridos por pix, enviando o valor de R$ 40 (inteira) e R$ 20 (estudantes e maiores de 60 anos) por entrada para o número (32) 99115-0018, em nome de Marcos Marinho.
Marcos Marinho conta que “Infância” começou a ser escrito em 2020, durante a pandemia, mas a ideia surgiu no ano anterior, quando tinha feito algumas anotações em seus cadernos de lembranças, em particular do período escolar entre a primeira e quarta séries. “Essas lembranças envolviam questões importantes da época, como a ditadura, o AI-5, a Tropicália. Também tinha feito anotações relacionadas à família, à escola onde estudei (Escola Rural do Grama, atual Escola Estadual Hermenegildo Vilaça). Quando fiquei isolado, comecei a escrever, uma ideia foi puxando a outra”, relembra. “A pandemia deu a oportunidade de poder estar em casa e me concentrar na escrita do texto.”
Mas não parou na escrita. Marcos Marinho diz que, para preparar o espetáculo de uma forma geral, foi preciso se aprofundar nos conceitos exigidos – segundo ele – pela peça. “São, basicamente, os conceitos de teatro memória, teatro documental e narração, aos quais me dediquei durante a pandemia”, explica. “Paralelamente ao texto, fui construindo os objetos que uso em cena; são dez caixas, de onde vou tirando os objetos que me fazem falar sobre essas lembranças. Também comprei alguns livros, reli outros que já tinha, fui procurar cursos com cenógrafo, figurinista, e fiz um curso com a Marina Reis, que virou minha mentora para a produção dos objetos de cena – e tudo on-line, pois ela mora em São Paulo.”

Trabalho em equipe
Enquanto seguia no desenvolvimento do projeto, Marcos Marinho chegou a gravar algumas leituras do texto que foram postadas no YouTube (“O retorno confirmou que os assuntos que eu falo partem de mim, mas interessam a qualquer pessoa”, diz), e também partiu para tentar os editais. Mesmo não tendo conseguido apoio público, o ator e diretor não desistiu. “Decidi investir do meu bolso, fizemos uma vaquinha eletrônica, e a resposta foi ótima. Muitas pessoas colaboraram, e não só pela vaquinha, mas mandando valores direto para minha conta, comprando ingresso antecipado. E a equipe que está trabalhando comigo aceitou correr esse risco, é um pessoal maravilhoso”, elogia.

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E não é uma equipe pequena: ela inclui o maestro, músico e pesquisador musical André Pires; o DJ e pesquisador musical Tuta, do coletivo Vinil é Arte; o artista visual e ilustrador Ramon Brandão; o ator, palhaço e instrutor de artes circenses Julio Phenix; o técnico de som Raif Emerich; a produtora Heloisa Marinho; a já citada Marina Reis; e o escritor e contador de histórias Ulisses Belleigoli.
Foi Ulisses, aliás, quem sugeriu o livro-caderno “Infância – Caixas da memória”, com o texto da montagem, ilustrações de Ramon Brandão, marcador de páginas com sementes para serem plantadas pelo público e folhas em branco para anotações dos leitores/espectadores. O valor do livro-caderno é de R$ 20, que também serve para financiar todo o projeto.
Além do desafio de produzir um espetáculo com a boa e velha cara e coragem, Marcos Marinho teve outro contratempo: quando “Infância” estava para estrear, em maio, ele contraiu Covid e teve que adiar as apresentações. “Inicialmente foi um susto, mas felizmente estou vacinado com três doses, então a Covid foi branda. Houve a frustração, porque estava tudo preparado, mas me recuperei rapidamente com a ajuda de uma fonoaudióloga e deu para reorganizar tudo.”

Memórias, muitas memórias
Costurada a partir de dez cenas, “Infância” busca – por meio de um clima lúdico e onírico – mostrar as memórias do menino Marcos entre 1962 e 1968, incluindo a família, o Bairro Grama – para onde se mudou após morar na Rua Fernando Lobo, no Centro – e do mundo, além da descoberta da sua paixão pelas artes. Tudo por meio das caixas confeccionadas por ele e de onde são reveladas suas lembranças.
Relembrar essas histórias, para o artista, foi um processo que considera “bonito”, pois confirmou para ele a importância da escola na formação do ser humano – para o bem ou para o mal. “Quase todas as cenas aconteceram na escola ou em função dela, e pude lembrar do grande valor que ela tem para criar pequenos monstros ou direcionar a pessoa para um lado mais humano, solidário. “Tive a sorte de estudar numa escola que me proporcionou muita leitura, muito companheirismo, a dar valor à arte. Tínhamos muito teatro, concursos de música, saraus; são situações em que chego a lembrar do cheiro da sala de aula.”
Mas não foi apenas o ambiente escolar que despertou as lembranças do artista: havia a família e a vizinhança. “O Bairro Grama era muito rural nessa época, formado basicamente por granjas, sítios e algumas casas. E havia a convivência com a família, meu pai falava que no Rio de Janeiro havia muitos teatros, atores maravilhosos, e no Grama tínhamos um cineminha de bairro, um clube de futebol que existe até hoje e que realizava muitas festas culturais, com muita cenografia, roupas diferentes, e que me chamavam a atenção. E os circos estavam sempre ali no bairro, foram presentes até meados dos anos 90, e eu frequentei isso tudo. Foi esse universo que revisitei: da arte, da vizinhança, da família e das festas, e que fazem contraste com o ambiente político de repressão que havia na época.”

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