Não há santo que aguente


Por Júlio Black

11/03/2017 às 07h00

Oitava estação da Via Crucis teve todos os personagens furtados, incluindo até mesmo a cruz que Jesus carregava. (Foto: Fernando Priamo)
Oitava estação da Via Crucis teve todos os personagens furtados, incluindo até mesmo a cruz que Jesus carregava. (Foto: Fernando Priamo)

Vandalismo não tem fim, felicidade sim. As esculturas em metal criadas pelo artista Yure Mendes para representar as 14 etapas da Via Crucis, distribuídas na parte final da Estrada Engenheiro Gentil Forn – na subida para o Morro do Cristo – foram mais uma vez alvo de vândalos. Foi o que a Tribuna constatou na última quinta-feira, apenas três dias antes da Via-Sacra Jovem, que acontece na manhã deste domingo. Tanto os visitantes eventuais quanto turistas ou os fiéis que participarem do evento religioso devem encontrar um cenário desolador se prestarem atenção no que aconteceu com as obras, feitas em aço carbono. A terceira estação da Via Crucis (em que Jesus cai pela primeira vez) estava destruída, e todas as imagens foram arrancadas do local – para não dizer furtadas -, e as grades que a cercavam também haviam sido arrancadas, mas estavam jogadas nas proximidades. A situação não era exatamente mais “otimista” nas sétima (Jesus cai pela segunda vez), oitava (Jesus encontra as mulheres de Jerusalém) e décima (Jesus é despojado de suas vestes) estações, com as imagens de Jesus Cristo tendo sido levadas, além de outros personagens que representam o martírio de Jesus em sua caminhada até a crucificação. Nas demais estações, a impressão é que faltam peças dos personagens que deveriam estar representados. Artista que foi convidado por Neiva Rocha Souza (integrante do Apostolado e idealizadora do projeto), para representar por meio do metal a Via Crucis, Yure Mendes soube dos atos de vandalismo por meio da Tribuna e lamenta a depredação do trabalho artístico-religioso e salienta que esta não é a primeira vez que o fato acontece. “Esse problema é endêmico, já tivemos que fazer duas ou três restaurações de maior porte desde que criei as obras, há cerca de dez anos. A gente vai, arruma, mas vandalizam de novo”, diz Yure. “A última vez que fizemos uma restauração maior foi há dois ou três anos, mas há um custo para isso. É preciso entrar em contato com a Prefeitura, solicitar caminhão, carro de solda, funcionários.” De acordo com o artista, durante todo este tempo, houve apenas um caso de levarem uma escultura inteira antes do caso observado esta semana. Geralmente, são levadas apenas pequenas figuras ou partes delas, como braços, pernas ou lanças. “Buscamos reforçar a solda, mas mesmo assim eles conseguem arrancar. E nem sei o motivo para isso, pois como o material utilizado é o aço carbono seria necessário roubar todas as esculturas para vendê-las e conseguir algum dinheiro.” Ciente do ocorrido, Yure Mendes declarou que pretende ir até a subida do Morro do Cristo para avaliar o estrago e ver o que pode ser feito. Ele diz que costuma passar eventualmente pelo local para ver a situação e fazer pequenos reparos. “A última vez que fui não havia esse vandalismo grave. Mas eu moro em Benfica, então fica difícil saber de tudo com maior rapidez. Eu nem sei a quem recorrer, porque não tenho como fazer esse trabalho de restauro e manutenção por conta própria”, afirma, acrescentando que já desistiu de colocar placas de metal indicando as etapas da Via-Sacra porque todas são arrancadas em pouco tempo.

Artista quer transferir esculturas

Situação é pior na terceira estação, que teve toda a escultura furtada e as grades arrancadas; apenas a base permanece no local. (Foto: Fernando Priamo)
Situação é pior na terceira estação, que teve toda a escultura furtada e as grades arrancadas; apenas a base permanece no local. (Foto: Fernando Priamo)

Para Yure Mendes, há fatores que facilitam a ação de vândalos: as esculturas estarem em um local ermo, de pouco movimento, iluminação precária e pouca vigilância; o portão de acesso ao Morro do Cristo fica no final da subida, o que facilita o acesso dos depredadores. “Eu não vejo isso acontecer na Praça CEU, em Benfica, onde tenho outras obras. Há uma negligência total. O local passa por limpeza apenas na semana da Via-Sacra, no resto do ano fica abandonado”, critica, comentando ainda que acreditava que o vandalismo diminuiria desde que o horário de acesso ao Morro do Cristo havia se tornado restrito.

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Insatisfeito com a situação, Yure já pensa em uma decisão radical: retirar as esculturas da Estrada Engenheiro Gentil Forn e transferi-las para outro ponto. “Eu não posso fazer isso por conta própria, é preciso pedir autorização à Prefeitura. Mas penso seriamente em fazer esse pedido, guardá-las em um depósito e conversar com o governo municipal e a arquidiocese para instalá-las em outro local, de maior movimento e que venha a inibir o vandalismo.”

A Prefeitura de Juiz de Fora informou, por meio de nota, que enviou uma equipe ao local nesta sexta-feira para verificar o estado de conservação das obras, acrescentando que também houve danos que teriam sido causados por veículos que passam pela via. Disse ainda que deve enviar uma solicitação de reposição e reparo das peças aos setores responsáveis pelo serviço. No que diz respeito à vigilância, a PJF afirmou na mesma nota que a Guarda Municipal realiza rondas periódicas, mas que qualquer morador pode denunciar danos ao patrimônio por meio do telefone 153.

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