Eu respeito, tu respeitas


Por Daniela Arbex, Repórter

05/09/2016 às 17h55- Atualizada 05/09/2016 às 18h27

 

Eduardo não era um menino como os outros. Franzino e baixinho, o estudante do ensino fundamental tinha medo de falar. Por não ser igual, sempre foi tratado diferente. Os colegas da escola estadual onde ele estava matriculado, no Pará, jamais conseguiram enxergá-lo como parte do grupo. Eram rudes com ele. Vítima de bullying, o menino foi perseguido diversas vezes, apesar das reclamações de sua família junto à instituição de ensino. Eduardo faleceu esta semana, aos 12 anos de idade, após sofrer ferimentos no intervalo de uma aula. A instituição de ensino afirma que ele caiu sozinho durante uma brincadeira. No hospital, no entanto, ficou constatado que o pulmão dele foi perfurado. Não há explicações suficientes para os hematomas no corpo do garoto que, após o episódio, sofreu cinco paradas cardíacas. O caso e as versões contraditórias estão sendo investigados.

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O tratamento dado a Eduardo em vida fala muito sobre a morte da tolerância. Em uma sociedade de aparências, ser tornou-se insuficiente. É necessário ter alguma coisa, vender uma imagem que, apesar de falsa, é carregada de simbolismo. Nesta realidade invertida, ninguém é valorizado pelo que é, mas pelo tamanho da sua mentira. Reflexo do mundo adulto, esses meninos e meninas receberam quase tudo, menos o essencial. Não aprenderam a flexionar verbos necessários: “eu respeito”, “tu respeitas.”

Quando um pai ou uma mãe xinga no trânsito, ensina o filho a ser agressivo. Quando engana alguém, mostra o caminho da desonestidade. Quando faz pouco do outro, dá aula prática de indiferença. Quando estabelece o silêncio no lugar do diálogo, alimenta dúvidas e medo.

Filósofo e escritor, Mário Sérgio Cortella observa que escolarização não é sinônimo de educação. Para ele, a juventude tecnológica está bem formada, porém mal educada. Para alguns, há tantas opções que não se consegue encontrar nenhuma. A ideia do esforço é cotidianamente confrontada com a imediatização das necessidades.

Em tempos de equívocos, assassinato pode ser tratado como acidente, bullying torna-se brincadeira e desrespeito é confundido com personalidade. Se queremos um mundo melhor para a infância e a juventude, precisamos começar a nos perguntar qual é a nossa parte nisso tudo.

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