Artista itinerante


Por Júlio Black

05/04/2017 às 07h00- Atualizada 06/04/2017 às 13h10

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Uma das reproduções das estátuas dos Profetas de Aleijadinho, em que Iriê lança mão das técnicas de tracejado e pontilhado (Foto: Leonardo Costa)

O artista plástico Iriê Salomão realiza nesta sexta-feira no Ateliê Marcas Mineiras, em Tiradentes, a abertura da exposição “Linhas Gerais”, que reúne duas séries distintas que vem desenvolvendo, uma desde 2014 e outra desde o ano passado. Além da mostra individual, Iriê estará em Niterói nesta quinta-feira, quando tem início o 5º Salão de Artes Visuais do Centro de Cultura França-Alemanha, no bairro de Icaraí, coletiva em que participa com outros 11 nomes.

A exposição em Tiradentes, com 16 trabalhos, será a primeira desde a série com os ladrilhos hidráulicos da fábrica Pantaleone Arcuri, que foi lançada em 2014. Ao contrário do trabalho anterior, “Linhas Gerais” apresenta parte de duas séries. A mais recente delas, iniciada no ano passado, reúne paisagens rurais mineiras em que utiliza a técnica mista de desenho sobre aquarela, criada a partir de fotografias antigas feitas pelo próprio artista há cerca de 15 anos e que ele define como “dois quadros feitos em apenas um”. “Um dos destaques é um trecho da Estrada União Industria na altura de Matias Barbosa, numa curva muito bonita onde há uma ponte abandonada e fica a antiga sede do DER”, adianta Iriê.

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Já a outra série reúne as reproduções das estátuas dos Profetas de Aleijadinho, que ficam em Congonhas do Campo. Os trabalhos, iniciados em 2014, são executados na delicada, complicada, longa e meticulosa técnica de achura – o artista cria figuras a partir das técnicas de tracejado e pontilhado. Quando a série estiver completa, serão 14 quadros representando os profetas (sendo que dois deles, Isaias e Daniel, ganharam duas versões), mais um retratando a Santa Ceia e outro a crucificação de Jesus Cristo. “Também estou fazendo alguns dos personagens que estão nos sete passos (capelas) que fazem parte do acesso à Igreja de Bom Jesus de Matosinhos, que compõem o maior conjunto escultório barroco da América do Sul”, diz.

Homenagem a Aleijadinho

Segundo Iriê Salomão, seu trabalho está sempre ligado à história de Minas Gerais, entre outros motivos por sua formação de historiador. Esse foi um dos motivos para ter iniciado os estudos sobre a vida de Aleijadinho ainda em 2008. “Percebi que as pessoas não conhecem a vida do Aleijadinho, ou conhecem de forma distorcida. Fui até Congonhas e comecei a estudar, e passei a saber ainda mais em 2014, quando participei de um seminário internacional com professores portugueses em 2014, na UFMG, ano do bicentenário da morte dele. Decidi fazer essa série em homenagem a um dos grandes artistas brasileiros, cuja obra está sendo destruída em Congonhas e ninguém faz nada. O próprio governo deixou o bicentenário de morte passar em branco”, critica.

Ao utilizar a técnica de achura como base de seu trabalho, Iriê acredita encontrar similaridades com o estilo predominante na época de Aleijadinho. “O barroco, na sua estrutura, é um estilo complicado, com muitos detalhes. Ele utiliza todo o espaço do objeto que você representa. Eu sou um desenhista barroco, mesmo que de forma diferente, mas preenchendo todos os espaços com detalhes, curvas, para chamar a atenção da pessoa. Quero que a pessoa pense ‘é muito traço’ ao observar meu trabalho. Que quanto mais olhe, mais enxergue. Esse é o barroco, que te prende à distancia e hipnotiza pela riqueza de detalhes quando nos aproximamos.”

A exposição em Tiradentes poderá ser conferida até 8 de maio. Já a coletiva da qual Iriê participa em Niterói ficará no Centro de Cultura França-Alemanha até 30 de abril. Para estar entre os 12 artistas participantes, Salomão precisou passar por dois processos de seleção, e o público terá a oportunidade de ver um dos profetas de “Linhas Gerais” e um da série sobre Pantaleone Arcuri, retratando o ladrilho do Castelinho da Família Bracher. “Foi uma surpresa ter sido selecionado e uma honra imensa por ser o único artista mineiro na coletiva. Estarei na abertura, quando haverá a premiação, e depois correrei para Tiradentes para participar da abertura da exposição, na sexta-feira. Será uma correria boa”, comemora Iriê Salomão, que espera encontrar um local para expor sua nova série em Juiz de Fora até o final do ano.

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