Outras ideias com Juarestavão Carrasco Cachumba


Por MAURO MORAIS

02/08/2015 às 07h00

Juarestavão: É preciso discrição para atuar na profissão (Marcelo Ribeiro/29-07-2015)
Juarestavão: É preciso discrição para atuar na profissão (Marcelo Ribeiro/29-07-2015)

Quando conheço Juarez (ainda vou descobrir a grafia correta de seu nome), estamos em um evento da Prefeitura. O colega Marcelo Ribeiro, fotógrafo da Tribuna, é quem me apresenta o senhor de cabelos grisalhos dentro de um carro Fiat Doblò. Disse-me ele que o motorista é de uma simpatia rara, além de ter um nome para lá de incomum. Convido, então, aquele senhor de sorriso largo a contar-me sua história. Eis a primeira frase que ele solta: “Não sou muito de responder as coisas certas não. Sou meio duvidoso”. Fala aos risos, gargalhadas muitas com as quais me deparo em nossos três encontros, entre uma viagem e outra.

É preciso correr contra o tempo. O motorista se despede do serviço público em 18 de novembro deste ano. No dia seguinte, completa 70 anos, 29 deles dedicados a conduzir diferentes autoridades municipais, dentre elas, diversos presidentes da Amac. De agosto de 1986, quase um ano após ter feito concurso, até agora, viu passar apenas cinco prefeitos diferentes por seu ambiente de trabalho. E conta ter dirigido para poucos deles. “Carreguei, umas poucas vezes, o Tarcísio. O Custódio foram umas duas vezes só. O Bejani, não”, fala.

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Carrasco Cachumba

Sem cerimônias, o motorista tira a carteira de identidade do bolso e confirma seu nome: Juarestavão Carrasco Cachumba. Nem dá para guardá-la em lugar difícil, tal a incredulidade de todos a quem conta. “Quem me colocou esse nome foi minha madrinha. O motivo, não sei”, diz. “Carrasco é do pai, Chachumba da mãe”, completa ele, recordando-se da origem estrangeira dos dois lados: “Meu pai era descendente de espanhóis, e minha mãe, de poloneses. Meus avós vieram da Espanha, conheceram a dona de uma pensão em Santo Antônio do Muqui (ES), e lá eu nasci.” Na verdade, lembra, ele nasceu na também capixaba Cachoeiro de Itapemirim, mas, “naquele tempo, era comum ser registrado em Muqui”. Nem na infância, nem nos ambientes de trabalho, o nome lhe trouxe constrangimentos. Juares (agora está certo!) parece levar a vida na leveza que ela merece.

De trem: ES – MG

Irmão de oito, Juares conheceu logo cedo a estrada, mas foi numa ferrovia que viu o Espírito Santo dar lugar a Minas Gerais. Da janela de um trem. “Minha mãe morreu quando eu tinha 1 ano. Fui criado pela madrasta. Quando meu irmão foi embora para Varginha, mesmo sendo menor de idade, saí de Nova Venécia, no Espírito Santo, e fui para Colatina, onde peguei um trem para Belo Horizonte. No outro dia, fui para Varginha. Lá vendíamos quadros de paisagem. Rodávamos aquela região de Pouso Alegre, Wenceslau Braz, Itajubá até que vim para Juiz de Fora”, recorda-se ele, que desembarcou por aqui nos anos 1970. Trabalhou como cobrador, faxineiro de condomínio até tornar-se motorista profissional. Diz ter demorado para casar. Conheceu Maria da Conceição e com ela teve gêmeos. Rodrigo Cristiano e Valéria Cristina. Todos Carrasco. Para não ficar grande, Juares optou por não colocar Cachumba.

Calado por mais um ano

Motorista do Secretário de Governo José Sóter de Figueirôa Neto, Juares, morador do Barbosa Lage, não quer parar. “Estou tentando ver se consigo trabalhar por mais um ano. Ficar em casa é muito ruim”, lamenta. Aparenta gostar muito do que faz, com quem faz. Pergunto-lhe, então, se já deu conselhos para as autoridades. “Não. O que não pode é comentar o que acontece. Seja ruim, seja bom”, responde. Fica sabendo dos bastidores? “Muito pouco”. E quando ouve algo, guarda segredo? “Tem que guardar.” Já soube de alguma bomba? “Nós a estouramos antes”, responde, rindo. Juares se esquiva dos detalhes. Faço-lhe uma última pergunta: E já soube de algo antes de acontecer? “Ah, muita coisa eles não comentam dentro do carro. E se falar, mesmo, sou obrigado a ficar calado”, diz, às gargalhadas.

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