JF Terra de empreendedores: Hugo Borges, médico e presidente da Unimed


Por Júlia Pessôa

28/05/2017 às 07h00

Foto - Fernando Priamo
Foto – Fernando Priamo

As mãos correm pela mesa, acompanham a fala em gestos e até brincam com o celular que grava a entrevista. Sem querer, acabam revelando seu papel fundamental na trajetória do presidente da Unimed Juiz de Fora, Hugo Borges, anestesiologista durante décadas a fio em hospitais, bem antes de imaginar que seria um pilar na elaboração e implantação de um, como será o Hospital Unimed, empreitada prevista para janeiro de 2018. “É um projeto muito grande, um marco para a Unimed e para a cidade, mas vai dar certo. Entre outros motivos, porque estamos priorizando, entre outros aspectos, algo muito simples, mas ironicamente inovador na atualidade: gente que gosta de gente.”

Sem os protocolos e as formalidades esperadas de presidentes, o médico de 67 anos, enquanto tira o paletó e pensa sobre o assunto, foge de clichês romantizados sobre a escolha da medicina como carreira. “Quando comecei a aprender divisão celular e genética, fiquei encantado. Na minha época, os cursos superiores eram mais ‘tradicionalzões’, então acho que a biologia foi o que me levou a ser médico. Não queria exatas de forma alguma e me interesso bastante por humanas, inclusive acho fascinante sua profissão”, diz o gestor à repórter. “Sempre gostei muito de estudar, até porque sempre precisei”, completa ele, um dos mais novos dos 11 filhos de José e Rita Borges. “Precisava estar entre os melhores da turma. Senão perdia a bolsa e não teria como estudar em escola particular”, conta ele, bolsista por desempenho na Academia de Comércio durante toda a vida escolar. Também ao longo dela, conciliou estudo e trabalho, parando de contribuir com a “caixinha” das contas da casa apenas quando ingressou na UFJF. “Meus irmãos disseram que bancariam meus livros, mas que eu não precisava mais trabalhar, para que pudesse me dedicar mais à faculdade”, recorda-se.

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Se a medicina veio junto com a biologia, a opção pela especialidade, anestesiologia, carrega um tanto de poesia – ainda que não intencional. “Tirar a dor das pessoas é um privilégio. Chegar ao leito de alguém e poder dar tranquilidade, a paz de não estar mais em sofrimento é extremamente gratificante e simples de executar. Sou muito ansioso, acho que não conseguiria trabalhar em uma especialidade em que você receita um remédio, não dá certo, o paciente volta, tenta outro… a anestesia, se bem feita, é muito precisa”, explica o especialista.

Empreendedorismo de berço

Para Hugo, os méritos de sua atuação à frente da Unimed são frutos de trabalho em equipe. “É um time mesmo, só sai gol porque estamos todos jogando juntos o tempo todo”, diz ele, que, em relação a seu outro time, o Fluminense, não está assim tão feliz. “Ah, o Fluminense está dando muito mole, podia estar bem melhor. Mas o Abel (Braga) é um grande talento, um dos melhores técnicos do Brasil atualmente. Só ele para montar um time com a inteligência de misturar talentos jovens, como os meninos da base de Xerém e jogadores mais experientes, como o Diego Cavalieri”, pondera o médico. “Isso é inclusive algo que eu procuro fazer na Unimed, conciliar gente mais nova e mais experiente na equipe, tem que equilibrar mesmo a bagagem e a inovação”, avalia o gestor.

Pelo visto, não é só Abel Braga que estrutura times com sabedoria e, sobretudo, satisfação para quem está em campo. No ano passado, a Unimed JF foi eleita uma das dez melhores empresas mineiras para se trabalhar. Embora tenha perdido o pai ainda muito menino, aos 12 anos, a raiz do empreendedorismo de Hugo parece ter muito a ver com valores que vieram de José, alfaiate de mão cheia de Visconde do Rio Branco, que provavelmente desconhecia o conceito de empreender, embora o praticasse. “Meu pai era uma pessoa muito simples, muito pobre. Imagina, um alfaiate do interior com 11 filhos! Mas ele deixou um legado muito bacana, que a mim, foi em muito passado pelos meus irmãos, que conviveram mais com ele: ser correto, justo, se dedicar, estudar. E ser criativo. Ele, por exemplo, trabalhou muito em troca de serviços, uma ideia que é muito atual. Fazia terno para o dentista, trocava por consulta, e assim era com o médico, o dono do mercado…”, relembra.

Dos caminhões de cana ao Oscar

Foto - Fernando Priamo
Foto – Fernando Priamo

Da infância em Visconde do Rio Branco, Hugo tem lembranças que se traduzem mais em imagens. “Lembro-me de estar na rua e correr atrás daqueles caminhões de cana, de gente na caçamba jogando cana para a meninada pegar. A cidade girava em torno disto, por causa da grande usina que havia lá, do Mário Bouchardet”, diz ele, que deixou a cidade para viver em Juiz de Fora aos oito anos, e por aqui ficou. “Aqui é muito bom de se viver. É uma cidade em que se tem muita qualidade de vida, um custo relativamente barato e ainda pouca violência. Além de estar pertíssimo do Rio, um grande centro”, avalia o médico, de quem as filhas Débora, Thaís e Ingrid herdaram o amor por Juiz de Fora, cidade em que nasceram, cresceram e a que voltam com frequência e saudades. “Sempre dei muita liberdade para que se expressassem, fossem como quisessem. As três são muito diferentes, acho que justamente por isso. Adoro ser pai de mulheres”, derrete-se.

No ano passado, houve um disse-me-disse sobre uma possível candidatura do pai das três à Prefeitura, que ele descarta, mas na qual vê sentido. “Eu adoraria ter um cargo público, mas não tenho o menor talento para o processo necessário para isto acontecer. Não sei pedir voto, não sei me vender”, diz ele, que preza pela tranquilidade sempre que pode. Em casa, seu canto preferido é o deque, onde aposenta temporariamente o gestor para ser só Hugo. “Ponho minha música na altura que quiser, tomo um uisquinho, curto o momento. Acho que não conseguiria viver sem música, ficaria louco”, diz ele, que ouviu “tudo que há” de samba e MPB, mas anda em uma onda de ouvir jazz, como o Chet Baker que embala a entrevista.

Se pensa em se aposentar de fato? Sim, inclusive faz planos. “Quando eu abrir espaço para gente nova, meu sonho é viver em Tiradentes, ter um bistrozinho bem bacana”, idealiza ele, sem entretanto marcar data no calendário. Até porque há muito chão ainda a ser percorrido pelo rio-branquense, que recebeu, neste mês, o troféu 100 Mais Influentes da Saúde no país, conhecido como o “Oscar” do segmento, eleito por voto popular e pesquisas de mercado. Ainda com as mãos passeando sobre a mesa sem parar, o comentário de Hugo sobre o feito era previsível: “É uma conquista do time”, repete, modesto, o técnico.

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