PM quer otimizar resposta do 190 com inovação tecnológica

Modelo para receber as 650 mil ligações anuais está em fase final de testes. Apesar de índice em queda, trotes ainda representam 25% das chamadas


Por Sandra Zanella

27/12/2017 às 07h00- Atualizada 27/12/2017 às 07h22

Centro de Operações da PM, que funciona nas dependências do 2º BPM, foi o primeiro do interior do Brasil a ter a tecnologia de computador e deve passar por novas mudanças

Trinta anos depois de a Polícia Militar de Juiz de Fora sair na frente com a criação do Centro de Operações (Copom), a corporação quer continuar na vanguarda e investe em novas tecnologias para otimizar em 2018 o atendimento no 190. Apesar de ser o número de emergência mais lembrado, o serviço é constante alvo de críticas de pessoas que não conseguem acesso à segurança pública em momentos de desespero. Sem revelar detalhes, o chefe do Copom, major Júlio César Assunção, afirmou estar em fase final de testes um novo modelo para receber as cerca de 650 mil ligações anuais. “No começo do ano, o Copom já deve ter cara nova”, e pode vir inclusive a deixar sua tradicional sede nas dependências do 2º Batalhão, em Santa Terezinha, com “tecnologia embarcada”. Outro sistema avançado em fase de teste promete criar uma espécie de anel de segurança para identificar veículos furtados e roubados. As campanhas de conscientização também continuam a fim de diminuir mais o índice de trotes, ainda responsáveis por um quarto das chamadas, totalizando em torno de 13.500 falsas comunicações por mês ou mais de 160 mil por ano. Esta é a mesma quantidade de telefonemas que, de fato, se referem a ocorrências policiais. Os 50% restantes são divididos em pedidos de informação, agradecimentos, desabafos, conexões interrompidas ou de competência do Corpo de Bombeiros (193) e do Samu (192).

“O que temos em mente nesses 30 anos de serviço com a comunidade é evoluir mais, porque somos o braço operacional de atendimento e emprego correto (de viaturas e militares)”, resumiu o major Assunção, à frente da chefia do Copom desde abril de 2015. “Tentamos sempre implantar novas tecnologias. Já temos o GPS nas viaturas, e o Olho Vivo já é uma realidade”, disse o oficial, lembrando a parceria com a Prefeitura no programa de monitoramento de pontos estratégicos da cidade por meio de câmeras, observadas em uma central integrada com o Copom. “Estamos caminhando a passos largos, sempre pensando na melhoria do atendimento”, garantiu.

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Para o major Assunção, o Copom “é a porta de entrada e o centro nervoso” da PM. “Somos invisíveis, até chegar a hora que precisam da polícia. O cidadão faz o primeiro contato. Havendo ocorrência, o telefonista faz perguntas básicas para conhecer o tipo, dando apoio ao solicitante, e registra as informações iniciais em um terminal. A ocorrência vai automaticamente para a tela do despachante ou operador de rádio, que empenha uma viatura ou policial a pé para atendimento.” O contato é mantido entre a equipe na rua e a central, e os dados vão sendo atualizados. Após o encerramento, o militar responsável in loco faz o Registro de Evento de Defesa Social (Reds), antigo boletim de ocorrência.

Mulher é suspeita de ligar 144 vezes em único turno

O número assustador de trotes recebidos pelo 190, que ultrapassa 13 mil por mês, é visto pela Polícia Militar como o grande empecilho para a excelência no serviço do Copom, porque, além de colocar em risco um emprego desnecessário de viaturas e policiais, ocupa desnecessariamente a linha, ocasionando reclamações de pessoas que não conseguem falar no telefone. De acordo com o chefe do Copom, major Júlio César Assunção, no último dia 7, uma mulher chegou a ligar 144 vezes para o 190 em um único turno, passando 12 trotes. Os demais telefonemas foram recheados de xingamentos, ofensas ou simplesmente interrompidos. “Já fizemos diversas ocorrências, e o Ministério Público está tomando providências”, informou o oficial. “Ela ocupou essas linhas todas. A principal prejudicada é a população, que tenta ligar e não consegue.”

No ano passado, até o helicóptero Pégasus chegou a ser empenhado em um sequestro fictício. O trote pode ser enquadrado no artigo 340 do Código Penal. A norma prevê detenção, de um a seis meses, ou multa para comunicação falsa de crime.

Os 30 anos de funcionamento do Copom foram comemorados em solenidade na sexta-feira (15) no auditório da 4ª Região Integrada de Segurança Pública (Risp), no Bairro Nova Era, Zona Norte. Além do major Assunção, o evento contou com a presença do comandante da 4ª Região da PM, coronel Alexandre Nocelli, e de várias autoridades.

Para conscientizar principalmente as crianças e os jovens, identificados como os principais autores das “brincadeiras”, a Polícia Militar desenvolve trabalhos junto a instituições de ensino. “O número de trotes reduziu com as campanhas e envolvimento da mídia. Mas sempre estamos fazendo trabalhos de conscientização junto às escolas”, disse o major Assunção, acrescentando uma novidade: os militares também estão levando crianças até o Copom para entenderem de perto como funciona o serviço e como o trote prejudica o bom atendimento. “Assim conseguem perceber que, com a linha ocupada, uma pessoa está deixando de ser atendida.”

Sola de coturno para catalogar 80 bairros

Atualmente, o Centro de Operações da Polícia Militar (Copom) conta com 14 militares por turno, que se revezam garantindo o atendimento 24 horas. Os chamados são diretamente registrados no computador, sendo as viaturas e policiais acionados via rádio, conforme a disposição apontada pelo GPS. Mas nem sempre foi assim. Quando foi criado em 1987, o serviço já era inovador, mas muitas mudanças ocorreram. “Antes do Copom, havia uma sala de operações com telefonista, que recebia ligação, anotava em papel e passava para outro militar, que fazia empenho da viatura no 2º Batalhão. Aqui foi o primeiro Copom no interior do Brasil a ter a tecnologia de computador. Nosso sistema de dados alimentava Belo Horizonte. A preocupação era catalogar os bairros, mas o policial tinha que ir a pé, era tudo bem manual, trabalho de sola de coturno mesmo. Chegamos a 80 bairros e quatro mil pontos de referência por meio desse trabalho, em convênio com a Prefeitura. Hoje temos mais de 240 bairros catalogados pelo nosso sistema informatizado”, contou o chefe do Copom, major Júlio César Assunção, revelando a pretensão da PM de lançar uma revista resgatando a história.

“Naquele época, o rádio tinha bastante ruído, mas eram poucas chamadas. Havia mais lesão corporal, desentendimento entre casais, bem diferente da nossa realidade hoje. Também não havia os serviços especializados, como Rotam e Choque”, detalhou o oficial. “O 190 era analógico, hoje é digital. Nosso contato ainda é feito por rádios, mas temos outras tecnologias, como celular, internet, geoprocessamento e GPS nas viaturas. Os delitos que existiam eram bem diferentes, hoje temos diversos que não se imaginava ter. E o policiamento é mais diversificado. São épocas diferentes, a população era menor, por isso também aumentou a demanda”, avaliou.

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