Taxistas enfrentam crise e perdem carros na Justiça

Categoria aponta crise no movimento de passageiros como um dos motivos para as dificuldades enfrentadas para pagar os táxis e ainda a parcela de R$ 20 mil cobrada da PJF dos novos permissionários


Por Daniela Arbex

24/08/2018 às 07h00- Atualizada 24/08/2018 às 07h28

A crise dos táxis em Juiz de Fora parece ter chegado ao pior momento. Dois taxistas tiveram seus carros apreendidos esta semana por falta de pagamento das parcelas do financiamento dos veículos. Um terceiro já está com uma ordem de busca e apreensão deferida pela Justiça. Todos eles foram contemplados na última licitação realizada pela Settra para o setor, em 2014. Dos mais de 400 novos permissionários, 70 fizeram alienação fiduciária junto a Cooperativa de Crédito de Livre Admissão da Mata Mineira Ltda (Sicoob Credimata). Destes, cerca de dez não estão conseguindo honrar as parcelas do financiamento, alegando como causa a queda no movimento de passageiros. A situação é considerada gravíssima por representantes da categoria que querem que a Prefeitura refinancie o valor de R$ 20 mil cobrado pela Prefeitura dos novos permissionários.

Taxistas
Esta semana dois táxis foram apreendidos pela Justiça por problemas no pagamento do financiamento e estão em estacionamento na área central (Foto: Fernando Priamo)

Um dos que tiveram seu carro apreendido é o taxista R. O carro adaptado que dirige há dois anos foi levado no início da tarde de quarta-feira, da Rua Francisco Vaz de Magalhães, no Bairro Cascatinha. Ele estava com um cliente, quando um oficial de justiça determinou que o motorista desligasse o veículo e descesse, porque o mesmo seria rebocado. “É meu único sustento. Fui pego de surpresa. É muito desagradável”, lamentou. Segundo R., o financiamento dele foi de 48 prestações de R$ 2.500. Desse total, ele estima ter conseguido pagar menos de 30%. “A situação está muito ruim para o nosso lado”, afirma o motorista. O problema já vem sendo discutido desde 2016, época em que a entrada de veículos por aplicativo resultou em uma estimativa de queda do número de clientes de táxi em torno de 40%. Além disso, a recessão econômica e o aumento em da frota também eram apontados como causas da diminuição do número de passageiros.

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A Tribuna também teve acesso à ação de busca e apreensão em alienação fiduciária que tramita na 6ª Vara Cível da Comarca de Juiz de Fora e tem como valor da causa a quantia de R$ 90.059,32. De acordo com o processo, em 15 de maio de 2017, o réu na ação tomou empréstimo para aquisição de veículo adaptado na Credimata. O valor a ser pago era de 42 parcelas de R$ 2.557,06, sendo a primeira com vencimento em 16 de junho daquele ano e a última aos 10 de novembro de 2020, com alienação fiduciária em garantia do veículo Chevrolet Spin L.T ano 2015/2016. Apenas quatro meses depois, as parcelas deixaram de ser pagas pelo permissionário, que está com saldo devedor superior a R$ 90 mil.

O presidente do Conselho Administrativo da Sicoob Credimata, Adalberto de Souza Lima, considerou que a busca e apreensão dos veículos é uma situação “inteiramente triste” para a cooperativa, mas disse que a medida extrema se mostrou necessária. “Nós financiamos em torno de 70 veículos, me parece que nove ou dez é que tiveram alguns problemas, os outros estão com as prestações em dia. Nós fizemos esse financiamento a todos os taxistas, porque somos uma cooperativa de crédito, e todos eles são associados e donos da empresa. Quando se financia é preciso saber das garantias, porque o dinheiro não é nosso, ele é de todos os associados. As inadimplências, quando existem, nós temos todo interesse em regularizá-las, mas chega em um ponto que tem que ter uma medida um pouco mais drástica, muito a contragosto nosso. Nós sabemos que existem aí algumas questões que afetam muito os taxistas hoje, porque temos uma concorrência brava, sem nenhuma responsabilidade, sem nenhum imposto e pode ser uma das causas que atingem mais a alguns e menos a outros. Temos todo interesse, esperamos, damos prazo, oferecemos renegociação. Onde tiver uma possibilidade de evitar uma apreensão de veículo, a gente toma essa atitude. Mas, nesse caso, não há outra medida, porque também somos responsáveis pela segurança dos recursos. Mas são fatos isolados. A cooperativa está disposta a continuar financiando para aqueles que tiverem necessidade”, concluiu.

Sindicato quer negociar cobrança da PJF

Apesar do tom conciliatório do presidente da Credimata, a preocupação entre os motoristas quanto ao futuro do negócio na cidade é evidente. O presidente do Sindicato dos Taxistas, José Moreira de Paula, afirma que vai entrar com pedido na Prefeitura de refinanciamento do valor de R$ 20 mil exigidos pela administração municipal que concedeu 542 permissões para exploração do serviço de táxi na cidade na licitação de 2014. Caso a entidade não seja atendida, ele garante que recorrerá à Justiça.

Ainda, ontem, um grupo de taxistas participou de uma reunião, na Settra, a portas fechadas, com o titular da pasta, Rodrigo Tortoriello. Em um áudio gravado durante o encontro é possível ouvir o secretário criticar o vazamento de informações para a imprensa sobre o problema. Em nota, a Settra não comentou a questão, disse apenas que mantendo um “diálogo aberto” com a categoria. A secretaria, através do seu titular, disse que “auxiliará na busca por uma intermediação junto às instituições financeiras”. Enquanto isso não acontece, os dois veículos apreendidos seguem sendo mantidos em um estacionamento no Centro.

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