PM, bombeiros e Samu se unem em projeto contra trotes


Por Sandra Zanella

23/09/2016 às 14h54

Mais de mil trotes são recebidos diariamente pela Polícia Militar em Juiz de Fora. Das cerca de três mil ligações feitas por dia para o Centro de Operações da PM (Copom) via 190, 34% são relativas a “brincadeiras” que só prejudicam o atendimento policial. O número é ainda mais assustador se levarmos em conta as quase mil ligações incompletas realizadas a cada 24 horas. Ou seja, em 33% do total dos telefonemas, as pessoas que estão do outro lado da linha desligam antes de se comunicarem. Com isso, mais de dois mil atendimentos diários apenas ocupam os militares, que poderiam estar mobilizados em emergências policiais. A situação do Corpo de Bombeiros e do Samu não é muito diferente: as centrais de cada um dos órgãos também sofrem com a média de 10 a 15% de trotes no total de ligações recebidas pelos números 193 e 192.

Para tentar frear esse avanço e buscar uma redução dos índices, as três corporações se uniram em um projeto. O objetivo é levar a situação para dentro das escolas públicas, expondo, por meio de palestras e atividades, os prejuízos causados a toda uma rede de emergência em decorrência dessa prática. Na manhã desta sexta-feira (23), representantes da PM, dos bombeiros e do Samu se reuniram no 2º Batalhão da PM para traçarem as primeiras diretrizes da iniciativa. De acordo com o chefe do Copom, major Júlio César Assunção, o público alvo, de 6 a 14 anos, foi escolhido porque já foi identificado que a maior parte das falsas urgências parte de crianças e adolescentes.

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“Na prática, o projeto representa uma tentativa de diminuição no número de trotes que a Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros e o Samu vêm recebendo. Essas ligações são muito prejudiciais para o nosso recurso operacional. Viaturas chegam a ser deslocadas para setores onde não existe ocorrência, deixando de atender a outros casos.” Ainda de acordo com o major Assunção, levando o problema para dentro das instituições estaduais e municipais de ensino, a expectativa é de que os alunos também se tornem multiplicadores desse trabalho, mostrando que a prática ilegal, também considerada crime, prejudica o serviço operacional, causando transtornos para o público.

“Vamos envolver pedagogos da própria polícia. O Samu e o Corpo de Bombeiros também têm projetos que caminham no mesmo sentido. O objetivo é a integração desses órgãos no combate aos trotes”, resumiu o chefe do Copom. A próxima reunião acontece no dia 19 de outubro, quando deverá ser montada a grade curricular do projeto e definidos os parceiros, determinando as escolas nas quais o trabalho será oferecido.

Empenho de aeronave
Em um dos casos de trote que chamou mais atenção da PM até o helicóptero Pégasus chegou a ser empenhado. “Seria um possível sequestro, em que o solicitante inclusive foi um adulto. Houve a confiança daquela informação, o carro teria passado em determinado local sentido BR-040. Acionou-se a aeronave para fazer o rastreamento do veículo, mas, chegando ao local, não existia fatos”, contou o major Assunção. Conforme ele, o suspeito de fazer a falsa comunicação de crime não foi identificado porque a ligação partiu de um número privado. “Mas temos um processo em que acionamos a operadora para fazer a identificação do telefone. O caso ainda está sendo apurado.”

Ainda segundo o chefe do Copom, apesar de as milhares de ligações mensais que não procedem sobrecarregarem todo o sistema, na maioria dos casos a farsa é descoberta sem o empenho de viaturas. “Eles dizem, por exemplo: tem um bandido na minha casa. A forma calma de falar já pode identificar se tratar de um trote. O próprio policial está treinado para isso. Ele faz uma série de perguntas e vê que existe uma série de incoerências. Mas em alguns casos a viatura acaba sendo empenhada de forma desnecessária, e o prejuízo é ainda maior.” Ele lembrou que, enquanto a linha está ocupada, outras pessoas que vivem verdadeiras situações de urgência não conseguem contato com a polícia. “Temos um recurso de emergência gratuito, que é o 190, porém a população de um modo geral não sabe utilizá-lo.”

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