Morre, aos 70 anos, o cantor e compositor Flavinho da Juventude

Sambista, que estava internado na Maternidade, morreu vítima de complicações de diabetes


Por Vívia Lima

19/09/2020 às 16h27- Atualizada 19/09/2020 às 19h52

Flavinho, em 2014, dias antes do lançamento do CD “Flavinho da Juventude – uma História de Vida (Foto: Felipe Couri/Arquivo TM)

A cultura de Juiz de Fora está em luto. A cidade perdeu, neste sábado (19), o cantor e compositor Flavinho da Juventude. Considerado um dos mais talentosos e requisitados nomes do samba contemporâneo, Flávio Aloísio Carneiro morreu vítima de complicações de diabetes, aos 70 anos de idade. Flavinho estava internado desde a última semana no Hospital Maternidade Therezinha de Jesus.

Pelas redes sociais, muitas pessoas externaram sua tristeza diante da partida de uma das principais referências do samba de Juiz de Fora. A sambista Sandra Portella escreveu “Meu Mestre Flavinho da Juventude, a quem devo tantos ensinamentos, se foi.. Ele me ensinou a perceber o racismo, a lutar pelos meus sonhos. Com ele aprendi a amar Cartola, Chico Buarque, os Novos Baianos e os Sambas de Enredo. Flavinho era politizado, indomado, debochado, irreverente, alegre, um ser humano incrível, um intérprete diferenciado e com timbre único, um grande compositor premiado, um bravo guerreiro da vida”.

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Assim como ela, vários artistas, políticos, amigos e familiares demonstram respeito e admiração em diversas postagens. A Funalfa, local onde ele atuou por alguns anos, emitiu nota de pesar ressaltando a alegria e a versatilidade de Flavinho nos palcos e na sua trajetória como intérprete.

O corpo será velado na capela 4 do Cemitério Municipal, e o sepultamento irá acontecer neste domingo (20), às 10h.

Complicações

Em virtude da doença, Flavinho já havia amputado as duas pernas e, por isso, não conseguia se locomover sozinho, nem mesmo se alimentar. Nos últimos tempos, familiares e amigos iniciaram uma campanha na internet a fim de conseguir uma cama hospitalar, uma vez que, por permanecer deitado por horas, seu corpo já apresentava ferimentos e, por isso, seria mais confortável que ele ficasse neste tipo de leito. Segundo familiares, ele conseguiu o equipamento, no entanto, faleceu antes mesmo de utilizá-lo. A cama será doada.

História

Formado em química, foi no samba que ele fez sua carreira e escreveu seu nome na história da música juiz-forana. A trajetória artística dele seguia junto de sua militância social. Filho de mãe lavadeira, era analfabeto até os 21 anos. Foi engraxate e fez bicos em diversas áreas e, aos 52 anos, formou-se em química pela Universidade Federal de Juiz de Fora.

Flavinho da Juventude também assinou como autor ou co-autor mais de 40 composições. Algumas delas foram ecoadas durante desfiles de carnaval como no enredo da Juventude Imperial, sua escola de coração, Suas canções também enredaram a Turunas do Riachuelo e Águia de Ouro.

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Conforme a Funalfa, em parceria com Roberto Medeiros, criou “Zumbi, Rei Negro de Palmares”, que levou a Juventude Imperial ao tetracampeonato em 1973. Em 1979, deu vida a outro sucesso do carnaval de Juiz de Fora intitulado “A Juventude Tem um Tarol, que Anuncia a Morte do Rei Sol”, com Hegel Pontes. Em 2004, brindou a escola com mais um samba-enredo: “Martinho de Todas as Vilas”, em parceria com Messias da Rocha.

Dez anos depois, já celebrando cinco décadas como cantor e compositor, lançou o CD “Flavinho da Juventude – uma História de Vida”. Flavinho presidiu ainda o Batuque Afro-brasileiro de Nelson Silva, foi membro do Conselho Municipal de Valorização da Pessoa Negra, vice-presidente do Conselho Municipal das Pessoas com Deficiência Física e militante em defesa das causas LGBTQIA+.

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