Irmão da jovem que deixou bebê na lixeira diz que ela estava fora de si

Ele a acompanhou até a Regional Leste e diz que “ela vinha apresentando um quadro de depressão”


Por Daniela Arbex (colaborou Bárbara Riolino)

19/04/2018 às 17h46- Atualizada 20/04/2018 às 17h58

Um bebê recém-nascido foi encontrado dentro de um cesto de lixo em um dos banheiros da Regional Leste, em Juiz de Fora, na noite desta quarta-feira (18). A mãe da criança é uma universitária de 21 anos. A estudante de uma faculdade particular da cidade deu entrada na unidade com fortes dores abdominais. Ela estava acompanhada do irmão mais velho e se encaminhou para o banheiro durante o atendimento médico. Voltou do local transtornada e com forte sangramento. Chorando muito e sem conseguir explicar o que estava havendo, a menina foi examinada. Os médicos constataram que ela apresentava dilatação uterina. Ao ser questionada se teria entrado em trabalho de parto, ela negou. No entanto, uma funcionária da regional encontrou um bebê do sexo masculino dentro da lixeira do banheiro. Apesar da gravidade do caso, ele aparentava estar em bom estado de saúde. A estudante foi presa em flagrante e encaminhada para o Hospital João Penido, onde está sendo mantida sob escolta policial.

Procurada pela Tribuna, a família da jovem está muito abalada. Segundo o irmão mais velho da universitária, a atitude dela não condiz com o seu comportamento habitual. Mãe solteira de uma menina de 1 ano, a estudante foi apontada como uma pessoa zelosa e amorosa com a filha. Desempregada há alguns meses, ela vinha fazendo doces em casa para tentar garantir algum tipo de renda. “Isso que aconteceu não condiz com o comportamento dela. Minha irmã é uma mãe excepcional. Ela não sabia que estava grávida e, embora nada justifique, acho que ela se desesperou. Depois de sair do banheiro, não falava coisa com coisa. Há tempos, ela vinha apresentando um quadro de depressão. Voltava do emprego em uma operadora de call center chorando muito, sentindo-se humilhada. Estava vivendo sob forte pressão emocional. Acabou sendo demitida”, contou o irmão, chorando.

PUBLICIDADE

Ainda de acordo com o familiar, os pais da menina – uma costureira e um autônomo -, não sabem o que fazer. “Somos trabalhadores. Todos nós lutamos muito. Fiz curso técnico em radiologia, mas não consegui emprego. Por isso, estava vendendo os doces que minha irmã vinha fabricando em casa. Não sabemos como lidar com o que aconteceu”, contou o rapaz que ainda não sabe qual será o destino da irmã. “O atendimento que ela recebeu na Regional Leste foi muito humano. Ela foi bem assistida pelos médicos, mas estava fora de si. Não conseguia explicar nada. Minha irmã não é uma bandida. Esse não é o estado normal dela”, lamentou.

Psiquiatra não descarta quadro patológico grave

O psiquiatra José Laerte explica que casos de psicose puerperal imediatamente após o parto ou em situações tardias não são raros e são caracterizados pela perda da capacidade crítica e de julgamento da paciente. “Em uma situação dessas, em quase 100% dos casos, a gente está diante de um quadro psiquiátrico grave, no qual temos que pensar em uma situação patológica. Ninguém em sã consciência comete um ato desses. O zelo com a cria é um instinto feminino. Por isso, geralmente, após a prisão, a avaliação médica é necessária. Apesar de graves, quadros como esse têm tratamento, inclusive com bons recursos psicofarmacológicos”, explica.

O psiquiatra forense Glauco Corrêa enfatiza que só uma avaliação psiquiátrica pode definir se, no momento do ato, a mulher tinha ou não capacidade de entendimento do que estava fazendo. “A avaliação vai apontar se essa mãe agiu assim por estar enferma, o que não é incomum, já que o pós-parto é um momento crítico de vulnerabilidade da mulher, quando ela pode ser acometida por psicoses que podem levá-la a ser tomada por sentimentos de nulidade, incapacidade, ou por impulsos agressivos em relação a criança. Uma vez que a Justiça acate o laudo pericial de ausência de crítica, o que ela faz é sentenciar a pessoa a tratamento ambulatorial ou hospitalar.”

A assessoria da Polícia Civil informou que a ocorrência será investigada pela 6ª Delegacia de Policia Civil. A competência poderá ser transferida se for verificado tipo penal de responsabilidade de delegacia especializada. Em contato com o Hospital João Penido, a unidade comunicou que nenhuma informação a respeito do caso, bem como os estados de saúde da mãe e da criança, será repassada à imprensa.

O conteúdo continua após o anúncio

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.