Vigilância eletrônica se multiplica nas ruas e nas casas

Só este ano foram registrados mais de 2.300 casos de residências e estabelecimentos comerciais alvos de ladrões. Investimento em câmeras é visto como aliado contra ações dos criminosos


Por Eduardo Valente

17/09/2017 às 06h30- Atualizada 19/09/2017 às 14h06

Retificada em 19-09-17, às 14h04
Moradores usam múltiplos equipamentos, como câmeras de vigilância, lanças e cercas elétricas, na tentativa de proteger seus imóveis (Foto: Marcelo Ribeiro)

Sorria, você está sendo filmado. A mensagem que ilustra a presença de câmeras de segurança é cada vez mais vista nas ruas e em estabelecimentos privados de Juiz de Fora, fruto do aumento da sensação de insegurança. Mas de tão comum, a presença dos dispositivos passa despercebida, embora estejam em todos os lugares. Basta colocar os pés nas ruas que a probabilidade de estar sendo captado por uma câmera é grande, afinal, elas estão em fachadas de condomínios, nos coletivos, táxis, elevadores e também nos estabelecimentos comerciais. Sem falar daquelas colocadas em pontos estratégicos em vias de grande movimento, tanto com foco na redução da criminalidade como no monitoramento do fluxo de tráfego e das infrações de trânsito.

Apesar de toda esta vigilância eletrônica, o número de furtos e roubos a residências e estabelecimentos comerciais, tentados e consumados, ainda impacta. Entre janeiro e julho deste ano, a Polícia Militar registrou 2.361 ocorrências desta natureza, sendo mais da metade (1.330) de furtos consumados a residências. Embora o índice seja menor do que o observado em igual período do ano passado, não é possível comemorar, uma vez que a redução tenha sido pouco significativa, de 3,9%. Ainda assim, para muitos moradores e comerciantes, o investimento compensa, mesmo que não seja escudo contra ações criminosas.

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Furtos e roubos a residências têm um preço alto. Para um morador do Bairro Poço Rico, que pediu para não ser identificado, a violência custou R$ 32 mil em bens e sua saída da casa própria. Diante do medo, ele hoje vive de aluguel em um apartamento. Anexo à moradia, o comércio do morador também foi alvo dos ladrões. Para ele, a instalação de câmeras no estabelecimento não é uma possibilidade, em razão do gasto neste momento e por desacreditar na eficiência diante da audácia dos bandidos. “Perdi computador, impressora fiscal, software de automação e todos os meus equipamentos de som, pois sou músico. Estes ainda não comprei novamente, e nem sei se farei, pois eram violões caros, microfones profissionais e outros aparelhos. Hoje, sinceramente, trabalho para reduzir o prejuízo deste último assalto.” O último de 18 roubos, aliás. “Vou fechar a loja e já deixei a minha casa para viver de aluguel em um apartamento. A casa coloquei para alugar a um preço baixo, informando aos inquilinos o motivo de estar abrindo mão da minha propriedade.”

Em outro caso identificado pela reportagem, uma igreja evangélica do Centro, na qual a direção preferiu não se identificar, foi alvo de ladrões no fim do ano passado. Na época, o cofre foi arrombado na madrugada, e os ladrões fugiram com aproximadamente R$ 16 mil. Desde então, os religiosos investem continuamente em segurança, privada e eletrônica. Além das câmeras e do reforço do alarme, foram colocadas cercas, sensores, concertinas e vigilantes à paisana.

Olho vivo privado

Há pessoas que não esperam pelo pior. A prova mais recente é a iniciativa de moradores do Bairro Aeroporto, na Cidade Alta, que estão fazendo de duas vias um verdadeiro olho vivo. Por iniciativa e recursos próprios, eles se organizaram para instalar 17 câmeras nas ruas Maria Sá Barreto e Herminda Serqueiros Vasconcelos, com possibilidade de estender o projeto para a Rua Mario Cruz Meier. Embora o local não tenha histórico grave de violência, alguns casos pontuais foram suficientes para mobilizar a comunidade.

Grupo de moradores investe em ‘olho vivo privado’

O caso do Bairro Aeroporto chama atenção pela organização da comunidade. O aposentado Luiz Carlos Santos, 74 anos, é o representante da Maria Sá Barreto, onde quatro câmeras já operam. Segundo ele, recentemente, duas rodas do carro de seu filho foram furtadas. O veículo foi deixado sobre tijolos. “Uma semana depois, arrombaram o portão dele e levaram duas bicicletas. Fiquei preocupado e percebi que algo deveria ser feito para evitar novas ocorrências. A primeira ideia foi a de colocar vigilantes, mas descobrimos que teríamos problemas com a legislação.”

Na Rua Herminda Serqueiros Vasconcelos, dez câmeras já estão em funcionamento. Quem organizou o trabalho foi o morador e administrador de empresas Rodrigo Machado Brandão, 44. Ele explicou que a ideia foi convencer o maior número de moradores possíveis para viabilizar o investimento. “As câmeras são nossas, assim como todos os equipamentos necessários para que tenhamos acesso às imagens. Dividimos o custo pelas 15 casas que participam do projeto (R$ 1.000 para cada morador para dez câmeras na rua parcelados em dez vezes). E, depois, o único custo será o de monitoramento, que são R$ 70 rateados entre todos, além de um fundo de reserva que pretendemos implantar para manutenção dos equipamentos.”

O acesso às imagens é feito via internet, por meio de smartphone, e também fica gravado por 45 dias em centrais instaladas em algumas das casas participantes do projeto. Ou seja, no caso de furto ou roubo, tentado ou consumado, as imagens podem ser enviadas às autoridades policiais competentes. A empresa responsável pela instalação da rede, aliás, é também “olho vivo”, em alusão ao serviço de vigilância da Polícia Militar, composto por 54 câmeras espalhadas pelo Centro e em bairros com grande fluxo de pessoas.

Rede de vizinhos é outra medida de proteção adotada

Luiz Carlos Santos e Rodrigo Brandão mobilizaram moradores de ruas no Aeroporto para instalação de rede de câmeras (Foto: Leonardo Costa)

A comunidade também estabeleceu outras medidas de segurança para evitar assaltos. A principal delas foi ingressar ao programa Rede de Vizinhos Protegidos, da Polícia Militar, que ainda está em fase de implantação. A rede funciona por meio de um grupo do Whatsapp, com a presença dos moradores e dos policiais da companhia que atende o bairro. De acordo com o comandante Erick Leal Lopes, comandante da 99ª Companhia, responsável pelo policiamento da Cidade Alta, todas as medidas de autoproteção são bem-vindas para aumentar a sensação de segurança e reduzir a possibilidade de crimes. “É o que chamamos de triângulo do crime, formado pela oportunidade, ausência de vigilância e presença do infrator. Quando a gente consegue tirar pelo menos um destes elementos, reduzimos os índices de criminalidade.”

Por esta razão, o comandante vê com bons olhos a iniciativa da comunidade do Aeroporto. Na sua avaliação, a mobilização social é fundamental para a melhoria de um bairro, como é o exemplo destes moradores. “Em todos os locais onde a rede de vizinhos é implantada e outras medidas de autoproteção são colocadas em prática, verificamos uma redução significativa das ocorrências. No caso da rede, temos ainda a possibilidade de nos aproximar dos moradores, que passam a nos conhecer pelo nome.”

Imagem inibe crime, mas não é salvo-conduto

O mercado de vigilância eletrônica está em franca expansão. Não há números de movimentação do negócio na cidade, mas as empresas do setor garantem que a demanda é crescente. Para o sócio diretor da Lanetwork, empresa com sede no Rio de Janeiro, Alexandre Pinto, cidades que observam aumento da violência urbana são os potenciais clientes, e Juiz de Fora é um destes mercados. “A tecnologia está avançando, assim como a procura por câmeras. Elas estão cada vez mais poderosas, muitas delas acopladas com sistemas de automação e reconhecimento de face”, disse o diretor, que tem como clientes no município condomínios residenciais e empresas de médio e grande porte.
Porém, reconhece que as câmeras não são salvo-conduto para se livrar da criminalidade, embora sejam inibidores. “Infelizmente a impunidade é grande. Muitos bandidos avaliam que este tipo de crime compensa, pois, de um modo geral, eles acabam ficando presos por pouco tempo.”

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Até mesmo as autoridades policiais recomendam as câmeras. O titular da Delegacia Especializada de Repressão a Roubos, Rafael Gomes, no entanto, alerta que as imagens inibem as práticas delituosas, mas não erradicam a ação criminosa. Mesmo assim, ele considera os equipamentos importantes para a identificação dos infratores e a posterior retirada deles do convívio social. Ele lembrou que, recentemente, foi preso “um homem que efetuou oito roubos a farmácias e padarias da cidade. E todos estes estabelecimentos possuíam câmeras. Não era uma pessoa conhecida do meio policial, portanto, as câmeras foram essenciais para conseguirmos prendê-lo. Ou seja, os equipamentos falharam ao inibir o roubo, mas foram importantes para a apuração do crime”.

Cuidados

De acordo com o delegado, com o aumento da procura pelos dispositivos, alguns cuidados devem ser redobrados na contratação do serviço. Para ele, faz-se necessário buscar empresas conhecidas no mercado e com boas referências. “Infelizmente temos problemas relacionados a prestadores de serviços. Recentemente prendemos um grupo que havia assaltado o cofre em uma casa. O pedreiro que construiu o compartimento estava com os ladrões. Nada contra o trabalhador autônomo, mas até mesmo para fazer as garantias das câmeras, que são caras, é importante buscar uma empresa constituída.”

 

Retificação: diferente do que foi publicado originalmente, o custo para a instalação das câmeras, por morador, é de R$ 1.000, e não R$ 1.500.

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