Queda de árvores em JF preocupa no período chuvoso

Só em janeiro deste ano, Corpo de Bombeiros precisou cortar ou podar 30 árvores com risco iminente de queda. O caso que mais chamou atenção ocorreu na Avenida Rio Branco, que teve pistas fechadas após o problema com uma vegetação de grande porte


Por Renan Ribeiro

15/02/2018 às 07h00- Atualizada 15/02/2018 às 07h39

No dia 30 de janeiro deste ano, árvore caiu sobre dois carros e fechou pistas de Rio Branco, prejudicando o tráfego da área central (Foto: Olavo Prazeres)

O número de domicílios localizados em áreas arborizadas em Juiz de Fora ajuda a compreender a falta que as árvores fazem no perímetro urbano. O índice da cidade, de 55,5%, é menor que a média nacional, de 68%, conforme o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), fazendo com que o município ocupe a posição 3.925 no total de 5.570 cidades listadas pelo levantamento e, ao mesmo tempo, fique em 522º lugar entre as 853 localidades mineiras. Os exemplares existentes ainda sofrem baixas, especialmente nessa época do ano, em que a combinação de chuvas e ventos pode afetar as estruturas das plantas. O Corpo de Bombeiros precisou cortar/podar 30 árvores com risco iminente de queda do início do ano até agora. O que dá quase uma árvore por dia em janeiro. Os bombeiros também cortaram 18 exemplares que estavam caídos nas vias públicas. No ano passado, os cortes e podas feitos pelos Bombeiros somaram 211 ocorrências com risco iminente de queda no período chuvoso, sendo 59 casos apenas em janeiro. Foram cortadas 63 árvores caídas em via pública, sendo oito somente em janeiro.

Uma das ocorrências que mais chamou a atenção desde o início desse ano foi a queda de uma árvore e parte de outra sobre dois carros, no dia 30 de janeiro. O acidente sem vítimas ocorreu na Avenida Rio Branco, na altura do Círculo Militar, mesmo local onde um ano antes caíram galhos de outra árvore, sobre um ônibus. Em ambas as situações, ninguém se feriu. Ainda não foram divulgados os motivos que podem ter levado os exemplares a cair. No dia 30, os ventos chegaram a uma velocidade considerada moderada, de 24,4km/h, com 32,7mm de chuva acumulados no dia. No entanto, pode ser que, além das condições climáticas, a árvore tivesse algum problema que está além do alcance dos olhos, como alguma doença, ou até mesmo idade avançada.

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De acordo com o analista ambiental do Instituto Estadual de Florestas (IEF), Arthur Valente, está evidente a fragilidade da árvore, embora não seja possível precisar a causa de sua queda, sem uma análise mais detalhada. Ele explicou que, para evitar esse tipo de acidente, é fundamental fazer a avaliação periódica dos exemplares. Além do acompanhamento, ele lembra a necessidade de cuidar do manejo correto da poda e, em caso de problemas mais sérios, proceder com o corte preventivo da árvore. Preocupada com esse tipo de acidente, a Secretaria de Meio Ambiente (SMA), em parceria com a Empresa Municipal de Pavimentação e Urbanização (Empav), iniciou um trabalho de vistoria nas árvores. A análise parcial indica a necessidade de poda em algumas unidades.

Em 2017, na mesma região da Avenida Rio Branco, outra árvore já havia caído sobre um coletivo (Foto: Leonardo Costa)

“É normal a queda de galhos, principalmente nessa época do ano. É fundamental pensar que as árvores são necessárias. Elas ajudam a proporcionar um conforto térmico, já que temos muitas pessoas, muitos carros e muito concreto, especialmente na região central”, comenta Valente. Ele acrescenta a importância de as pessoas comunicarem ao poder público sobre qualquer alteração que possa ser perceptível. “Há casos em que as folhas, por exemplo, ficam visivelmente adoecidas. Há outros aspectos que realmente não são visíveis, mas a Prefeitura tem meios de verificar a saúde das árvores. Então, qualquer alteração deve ser reportada.”

Em nota, a Empav informou que realizou a poda de algumas árvores da Avenida Barão do Rio Branco, sobretudo as que estavam com erva de passarinho, que poderiam colocar as espécies em risco. “No entanto, vale ressaltar que condições climáticas adversas são situações imprevisíveis que contribuem para quedas de árvores”, ressaltou o órgão.

Tomógrafo importado da Alemanha é usado para identificar apodrecimentos, donos ocultos e regiões ocas das árvores (Foto: Carolina Bedin/Secretaria de Meio Ambiente)

O professor do Departamento de Botânica da UFJF, Fabrício Alvim, reitera a dificuldade do cuidado unitário. Ele diz que o monitoramento sanitário das espécies é necessário, embora seja muito difícil conseguir, porque contemplar a todos os exemplares é uma tarefa árdua. Alvim também destaca que as ações previstas pelo Plano Municipal de Arborização Urbana ajudam nesse controle. “Esse tipo de acidente faz parte da biologia da planta. Elas envelhecem, podem ficar enfraquecidas e podem ter problemas intrínsecos. O diagnóstico sanitário pode ajudar a evitar esse tipo de problema, mas fazê-lo de forma unitária é muito complicado, pela quantidade de árvores que temos. O trabalho do fiscal ambiental é muito difícil. Mas nós não podemos atacar as árvores, como se a presença delas apresentasse risco, pelo contrário, elas representam qualidade de vida.” O professor ainda diz que não basta arborizar a cidade toda, é necessário conseguir prestar uma boa manutenção às espécies com cuidados.

Quem autoriza as intervenções na arborização da cidade é a Secretaria de Meio Ambiente. A pasta recebe mais de 90 pedidos de poda de mais de 50% da copa, ou corte de árvores. Um engenheiro florestal faz uma avaliação e encaminha um laudo à Empav, que realiza a poda ou corte em locais públicos. Podas simples não precisam ser autorizadas. A permissão também é necessária em terrenos particulares, embora a poda, nesses casos, sejam responsabilidade do proprietário. A secretaria ainda orienta que, em caso de risco iminente de queda de árvores, o Corpo de Bombeiros deve ser acionado pelo 193.

A implantação de ações previstas no Plano Municipal de Arborização, descrito pela Lei 13.206 de 2015, está em andamento, entre elas, há a informatização de todas as ações, dados e documentos, além do mapeamento dos exemplares arbóreos. Esse trabalho não tem prazo para ser concluído. A intenção, segundo a Secretaria, é fazer um inventário qualitativo e quantitativo da arborização viária e urbana do município, retratando a situação atual, para que o trabalho possa ocorrer pautado pela melhor técnica, “desde a avaliação do local do plantio, passando pelos tratos culturais de preservação da espécie nativa plantada, bem como o seu manejo e o consequente incremento da vegetação, substituição de indivíduos arbóreos inadequados para determinado local e o efetivo plantio nas áreas desprovidas de vegetação”. As atividades previstas no plano foram iniciadas com a plantação de 120 árvores nativas da Mata Atlântica às margens do Rio Paraibuna. Outras 280 mudas serão ainda plantadas no local. Também foi realizado o plantio de cerca de 50 mudas nativas da Mata Atlântica na praça do Bairro São Judas Tadeu.

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Tomógrafo

Juiz de Fora foi uma das primeiras cidades de Minas Gerais a receber um tomógrafo portátil importado da Alemanha. O aparelho chegou no final do primeiro semestre de 2017. Ele capta imagens capazes de identificar em tempo real apodrecimentos, danos ocultos, regiões ocas, entre outros problemas, e é utilizado como um recurso complementar à avaliação do profissional. O instrumento é usado, conforme a secretaria, com base em critérios como a importância da espécie, porte, localização, expressiva beleza cênica, raridade, perigo ou ameaça de extinção. Cerca de 50 árvores passaram pela avaliação do tomógrafo até agora, sendo necessários quatro cortes. A Secretaria de Meio Ambiente ainda ressaltou que o equipamento não pode ser usado em períodos chuvosos, pela possibilidade de dano e também de comprometimento do resultado.

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