Tempestade do fim de semana em JF foi a maior desde 2001

Foi o sexto maior acumulado de precipitações em 24 horas desde 1960, ano que o Inmet disponibiliza dados históricos sobre chuvas na cidade


Por Eduardo Valente

13/03/2018 às 19h01

A forte tempestade registrada em Juiz de Fora entre a noite de sábado (10) e a madrugada de domingo (11) pode ser considerada um ponto fora da curva. De acordo com dados históricos do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), este foi o sexto maior acumulado de precipitações em 24 horas dos últimos 58 anos, com 126,8 milímetros. Desde 2001 não chovia tanto na cidade, quando o pluviômetro instalado no Campus da UFJF registrou 147,4 milímetros, o maior índice da história. Com uma coincidência: naquele ano, a chuva também foi registrada em 12 de março. Este período, aliás, se repetiu mais uma vez entre os dias mais chuvosos da história, como foi o caso de 11 de março de 1981, com acumulado em um dia de 125,7 milímetros. A fim de comparação, em todo o mês de março são esperados, no município, 198,3 milímetros de chuvas.

A precipitação deste fim de semana foi resultado de uma associação de eventos climáticos, tendo como carro-chefe o sistema meteorológico chamado de Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). Comum no verão, a ZCAS é popularmente conhecida como rio aéreo, dada sua capacidade de transportar grande carga de umidade da região da Amazônia para o Sudeste brasileiro, passando pela região central, onde há pouca chuva ao longo do ano, como é o caso do Distrito Federal e o Estado de Goiás. Na Zona da Mata de Minas Gerais, a ZCAS criou áreas de instabilidade atmosférica, que tiveram como combustível o calor e a alta umidade relativa do ar, que se manteve superior a 70% durante toda a tarde. Em alguns momentos, mesmo sem chuvas, o índice chegava a 93%, dando a sensação de tempo abafado. As mesmas características foram identificadas em outros municípios onde a tempestade castigou, como foi o caso de Muriaé, Ubá e Cataguases.

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Ônus e bônus

Em Juiz de Fora, apesar de a forte tempestade ter resultado em 85 ocorrências na Defesa Civil, além de outros atendimentos pelo Corpo de Bombeiros relacionados a quedas de barrancos, árvores, trincas em paredes e pontos de alagamentos, outros aspectos positivos devem ser considerados. As represas que abastecem o município tiveram respostas rápidas da grande concentração de chuvas. O manancial João Penido, que apresentava dificuldade em se recuperar este ano, saltou de 63,2% de acumulação, na sexta-feira (10), para 78,3% nesta terça (13). Em 28 de fevereiro, há duas semanas, o índice era de 52,9%. “De sábado para domingo o lago subiu mais de 30 centímetros, o que é muito. Já passaríamos o ano com tranquilidade, e agora teremos um boa recuperação. É bem provável que a represa supere o período de estiagem com mais de 40% de acumulação”, avaliou o diretor-presidente da Cesama, André Borges de Souza, em entrevista na última segunda-feira (12).

Represa Chapéu D’Uvas está no maior nível de acumulação desde 2013 (Foto: Leonardo Costa)

Ao mesmo tempo, Chapéu D’uvas, 11 vezes maior que João Penido, atingiu 87,6%, o maior patamar desde 2013, quando a Cesama começou a registrar diariamente o nível de água na represa, que além de servir ao abastecimento público também regula o nível do Rio Paraibuna. Se não fosse Chapéu D’Uvas, na madrugada de domingo, o rio poderia ter transbordado em diversos pontos. “A gente consegue controlar o volume destas fortes e atípicas chuvas, justamente para o impacto não chegar diretamente na parte central da cidade. Não é raro, por exemplo, que as águas do rio encostem na ponte. Diferente mesmo foi que tivemos um 2017 muito seco, e os maiores acumulados de chuvas, normalmente esperados em dezembro, estão ocorrendo agora, no fim do verão”, disse André.

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