A força da devoção e da imagem de Nossa Senhora Aparecida

Os artistas do Grupo Semana Santa levarão o musical escrito por Eduardo Crochet a três paróquias de Juiz de Fora


Por Renan Ribeiro

12/10/2017 às 06h30- Atualizada 13/10/2017 às 14h53

No ano do tricentenário do encontro da imagem de Nossa Senhora, o Grupo Semana Santa de Juiz de Fora recebeu a proposta de falar da fé na santa e da importância da imagem de Aparecida por meio da visão dos romeiros. Baseado na letra de Romaria, canção de Renato Teixeira, os artistas aceitaram o desafio e levarão o musical escrito por Eduardo Crochet a três paróquias da cidade. Santa Luzia, na quinta-feira (12), Bom Pastor, no sábado (14), e São Mateus no domingo (15). As apresentações serão gratuitas e com entrada livre.

“Prestaremos uma homenagem à influência de Nossa Senhora Aparecida na identidade do povo brasileiro por meio de fatos cotidianos e demonstrações de fé. Embora a equipe trabalhe com personagens, criamos uma identificação com as histórias. Contar os milagres encanta as pessoas, mas as histórias tornam a experiência mais próxima”, conta João Victor Barreto Gualberto, um dos diretores do musical.

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O espetáculo traz um aprendizado maior segundo ele, que é a inserção da fé em todos os ambientes. “Muita gente se atém à fé vivida dentro da igreja, do mundo religioso. Mas ela também pode e deve ser expressa no dia a dia, no trabalho, na escola, em qualquer lugar. Nossa Senhora ao aparecer, é encontrada pelo povo, ela tem a pele negra e se aproxima por todas as suas características do nosso povo no exercício da fé, sem qualquer tipo de distinção”, reflete Gualberto.

A ansiedade para contar as histórias só não supera a alegria de contar com o aval do compositor da música que inspirou o espetáculo. “O Renato Teixeira soube do projeto e gravou um vídeo. Ele disse que ficou muito feliz e nos deu força. Foi uma injeção de ânimo. Estamos a mais de 30 anos apresentando a história da descoberta da imagem, da Semana Santa, do auto de Natal, esperamos que essa mensagem toque o coração das pessoas, como tocou a de toda nossa produção”, espera o diretor.

Há uma série de hipóteses que ajuda a entender a força da imagem de Nossa Senhora Aparecida. Ainda que o catolicismo venha perdendo a sua hegemonia, conforme o professor do Departamento de Ciências da Religião da UFJF, Emerson Silveira, é possível destacar questões que reforçam a importância da imagem de Aparecida no Sudeste e no Sul do país. De início, ele lembra a relevância dos milagres das curas e devoção popular dos santos.

“Maria tem um papel fundamental no catolicismo. O culto mariano é muito antigo, e as circunstâncias da história que se conta como a descoberta da imagem é muito identificada com o catolicismo rural, popular, então isso fala muito das dimensões mais profundas do catolicismo popular, devocional, que mobiliza muita gente.”

O professor frisa que o destaque da imagem da padroeira acontece com maior intensidade no Sul e no Sudeste, porque no Nordeste, a devoção à Aparecida não é tão forte. “Lá é a Senhora de Nazaré. O Círio de Nazaré é muito mais forte lá. Tanto que, em Belém, os órgãos da imprensa dizem que o Círio arrastou quase três milhões de pessoas.” Outra dimensão que deve ser considerada é a de sofrimento dos pobres e pequeninos, do povo, que encontra na imagem e na figura da Virgem Maria uma mãe cuidadosa.” Há uma relação de proximidade do catolicismo santorial com as necessidades populares de cura, emprego e saúde. “Isso tudo fala muito forte ao coração do brasileiro. Por isso, essa é uma imagem muito valorizada e muito cuidada”, pontua Silveira.

Um ponto que chama a atenção é a descoberta da imagem em 1717, no Vale do Paraíba, por conta da fratura entre a cabeça coroada e o corpo. Emerson Silveira destaca uma análise de um autor que assinala a fratura entre a cabeça que leva a coroa, símbolo de poder. “Acho isso muito apropriado até para entender o momento que vivemos. A separação entre a cabeça do corpo. No caso do Brasil, podemos pensar na separação entre o cabeça, como poder político; do resto do corpo, a nação, a sociedade, as dimensões políticas e sociais.”

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Além disso, a comemoração dos 300 anos se dá em um momento no qual há uma mudança muito significativa da situação religiosa. O país saiu de um predomínio católico para uma constante queda do catolicismo em todas as regiões. Mas, segundo Silveira, é interessante perceber que o santuário continua muito visitado. São 12 milhões de visitas por ano. Isso atenta para a ideia de que a própria figura da santa e o santuário se tornaram maiores do que o catolicismo, porque atraem muitas pessoas que não são necessariamente ligadas ao catolicismo. Como é o caso, por exemplo, do turismo religioso. É um santuário famoso, que está em seus retoques finais, bonito em termos de arte, de monumentalidade. O santuário faz convergir diferentes tipos de pessoas, visitantes, peregrinos, romeiros. Muitos católicos e muitos que vão visitar a cidade e a fama dela.”

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