Realizado o primeiro transplante de fígado em Juiz de Fora

Paciente de 28 anos, que tinha cirrose hepática, aguardava transplante desde 2013


Por Rafaela Carvalho

09/08/2017 às 15h08- Atualizada 10/08/2017 às 14h44

Juliana Ferreira fala durante entrevista coletiva (Foto: Felipe Couri)

Foi realizado na última sexta-feira (4) o primeiro transplante de fígado de Juiz de Fora. O procedimento, que durou cerca de 6 horas, foi conduzido por médicos e cirurgiões da Santa Casa de Misericórdia, onde a paciente Desiree Aparecida Ferreira Mariano, 28 anos, continua internada. Acompanhada por uma equipe do hospital desde 2014, quando já tinha indicação para um transplante hepático, ela passa bem e comemora a “vida nova” após a cirurgia. Aberto para a população neste mês, o serviço de transplante de fígado pode beneficiar entre 20 a 30 pessoas por ano, de acordo com estimativas da equipe do hospital.

O primeiro transplante de fígado realizado em Juiz de Fora era aguardado desde fevereiro de 2017, quando a Santa Casa foi habilitada pelo Ministério da Saúde para realizar os procedimentos, conforme adiantado com exclusividade pela Tribuna. Desde então, o Serviço de Transplante de Fígado estava em fase de implantação, sendo aberto oficialmente para a população no início deste mês. Com o início das atividades do ambulatório, pacientes atendidos na Santa Casa serão incluídos na lista de espera.

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A juiz-forana, moradora do Bairro Bandeirantes, na região Nordeste, foi a primeira da lista de espera, que classifica os candidatos de acordo com a gravidade da doença, com prioridade para os casos de maior risco. Diagnosticada com hepatite autoimune, ela desenvolveu cirrose hepática. Apesar de a necessidade de um transplante ter sido constatada já no início do tratamento, Desiree não tinha como se deslocar para Belo Horizonte, local mais próximo onde poderia realizar o procedimento.

“A paciente tinha o diagnóstico desde 2013, e era acompanhada por uma equipe da Santa Casa desde 2014. No início já houve indicação para o transplante, mas tentamos segurar a doença pela logística e por condições da própria paciente. Então, para ela, foi de grande importância o começo dos procedimentos em Juiz de Fora”, pontua a hepatologista Juliana Ferreira, responsável pelo preparo da paciente para a cirurgia. O fígado recebido por Desiree foi doado pela família de um homem na última quinta-feira (3), e no dia seguinte já tinha sido transplantado.

 

Tudo joia com Desiree (Foto: Felipe Couri)

 

Com a família

Ainda acamada, a juiz-forana contou à equipe da Tribuna que chegou a parar de trabalhar como cuidadora de idosos e que precisou ir morar com a mãe por conta das complicações da doença. “Eu tomava muito remédio e vivia passando mal. Para fazer o transplante em Belo Horizonte seria muito difícil, porque eu teria que praticamente me mudar para lá. Foi muito bom poder fazer a cirurgia aqui, porque estou perto da minha casa e da minha família.”

Desiree ainda não tem previsão de alta, mas o transplante foi considerado um sucesso e a condição dela é estável. Ela será acompanhada integralmente pela equipe médica, mas espera a “vida nova” que o transplante pode proporcionar. Sorrindo, ela contou que foi pedida em casamento no dia da cirurgia, e que espera sair do hospital para marcar a data oficial do casamento e retomar suas atividades.

“Vai ser uma outra vida, vou poder voltar a fazer coisas que eu não fazia antes, voltar a trabalhar… Será tudo novo agora”

Desiree Aparecida Ferreira Mariano, 28 ano

 

Fila de espera regional

A priorização do atendimento a candidatos a transplante que moram na região é um dos principais benefícios da expansão do serviço em Juiz de Fora. De acordo com o cirurgião Gláucio Souza, um dos responsáveis pelos transplantes de fígado na Santa Casa, a expectativa é que um universo de 3 milhões de pessoas possam ter acesso ao serviço facilitado, considerando que a instituição atende pacientes da Zona da Mata, do Campo das Vertentes e do estado do Rio de Janeiro.

“Entendemos que a regionalização do transplante de fígado é um projeto do MG Transplantes, órgão coordenado pela Fhemig (Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais), para aumentar o número de transplantes e a doação de órgãos na região. O serviço vai permitir o acesso da pessoa que precisa dessa cirurgia, que só era feita em Belo Horizonte. Isso traz um impacto social muito grande”, afirma Souza.

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Além disso, com a regionalização do serviço, os órgãos doados nos hospitais próximos serão encaminhados, prioritariamente, para pacientes da região. “A partir da semana passada, a fila de espera passou a ser regional. Todo órgão doado na Zona da Mata será recebido na região. Caso não haja receptor, o órgão será encaminhado para Belo Horizonte”, explica o médico.

No total, 310 pessoas esperam por transplante de córneas ou rins em Juiz de Fora. A lista de espera para transplante de fígado está sendo elaborada conforme os atendimentos no ambulatório do serviço vão sendo realizados. Para se consultar, os interessados devem procurar a Central de Marcação de Consultas da Santa Casa de Misericórdia ou ligar para o telefone (32) 3229-2351. Podem receber transplante de fígado pacientes com cirrose hepática, seja ela autoimune, associada a algum tipo de tumor ou alcoólica. No último caso, no entanto, o paciente deve estar em abstinência há, pelo menos, seis meses.

Investimentos

Somente no último fim de semana foram realizados dez transplantes na cidade, sendo nove de rins e um de fígado. Durante entrevista coletiva à imprensa sobre o início do serviço na cidade, o presidente da Santa Casa de Misericórdia, Renato Vilella Loures, destacou os esforços da instituição para expandir os serviços de transplante, existente desde 1983. Segundo o presidente, desde 2010, cerca de R$ 45 milhões foram investidos no hospital, de forma geral.

Para a área de transplantes, o investimento foi em torno de R$ 1 milhão. Em breve, a instituição também vai oferecer transplante de pâncreas, serviço que, atualmente, está em fase de elaboração de protocolos. “A Santa Casa vem investindo em qualidade e melhoria contínua, sempre alinhada em promover o melhor atendimento à comunidade. Temos buscado nossas vocações, e o transplante hoje é uma tecnologia de ponta. Estamos nos preparando para o transplante de fígado e pâncreas há quase seis meses, e houve um investimento muito grande na instituição. Temos buscado inovação e qualidade, e hoje, a Santa Casa é o segundo maior hospital filantrópico de Minas Gerais. Também somos a segunda maior unidade transplantadora de rins e córneas no estado”, destaca Loures.

A unidade de Juiz de Fora do MG Transplantes, serviço que coordena os procedimentos em todo o estado, é sediada na Santa Casa de Misericórdia. O estado tem mais cinco unidades, sediadas em Belo Horizonte, Montes Claros, Governador Valadares, Pouso Alegre e Uberlândia.

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