Baixa umidade e tempo seco alastram focos de incêndio em Juiz de Fora
De sexta até segunda, os bombeiros registraram mais de 40 ocorrências deste tipo
Juiz de Fora entrou em estado de atenção por causa dos baixos índices de umidade, que é fator determinante para a propagação das chamas em incêndios como tem ocorrido na região. Quarenta e uma ocorrências de fogo em vegetação foram atendidas pelo Corpo de Bombeiros entre a última sexta feira (4) e esta segunda (7), na cidade. A situação se deve, além dos indicadores de umidade relativa do ar, pela presença de uma massa de ar seco e quente sobre a região. O fenômeno climatológico funciona como um bloqueio atmosférico, impedindo a aproximação das frentes frias que causam a instabilidade.
Sem chuvas fica mais fácil perceber queimadas, que têm se alastrado pela cidade e formado nuvens de fumaça. Nesta terça, inclusive, as chamas atingiram uma área de pasto nas proximidades da Avenida Olegário Maciel. Já na segunda-feira, os bombeiros estiveram mobilizados para combater um incêndio que atingiu vegetação nos bairros Estrela Sul e Cascatinha, na Zona Sul. De acordo com a corporação, as chamas iniciaram em uma área próxima à Alameda Pássaros da Polônia, no Estrela Sul, e, em seguida, chegaram ao bairro vizinho. Foram utilizados cerca de mil litros de água para combater o fogo. As chamas consumiram um espaço equivalente a quatro campos de futebol. Não houve feridos e não foram encontrados sinais do que possa ter causado o fogo.
Outra ocorrência chamou a atenção de moradores do Bairro Santa Teresa, na região Sudeste, na tarde de sexta, quando o fogo consumiu parte de um terreno situado na Rua Delorme Louzada. As chamas chegaram muito próximas de uma igreja que faz divisa com o local, provocando grande concentração de fumaça. Um agravante eram os 29% de umidade relativa do ar registrados naquele momento.
O Corpo de Bombeiros ainda não tem dimensão do estrago causado pelos incêndios deste final de semana, no entanto, afirma que os números assustam. A avaliação é que, em comparação com mesmo período do ano passado, não houve grandes alterações. Apesar disso, a corporação ressalta que muitos focos foram causados por negligência.
“Existem causas naturais, como metais que podem se aquecer ao sol e originar um foco, dando origem ao incêndio. Porém, sabemos que a maioria tem causa antrópica – realizada pelo homem. Muitos ocorrem em propriedades onde o responsável realizou a limpeza do terreno, porém não deu a destinação certa para esse mato, ateando fogo. Com a baixa umidade do ar combinada aos ventos, esse fogo foge do controle e acaba se alastrando para grandes áreas”, afirmou a tenente Vanessa Filippo, assessora de comunicação do 4º Batalhão de Bombeiros Militar.
Colocar fogo em vegetação é crime, previsto na Lei 9065 de Crimes Ambientais, sob pena de reclusão, de dois a quatro anos, e multa. Se o crime é culposo, a pena é de detenção de seis meses a um ano, e multa.
Mais de 700 ocorrências este ano
O mês de setembro é, historicamente, o que mais registra incêndios florestais no Brasil e, em Juiz de Fora, o cenário vem se desenhando a corroborar com o cenário nacional. Segundo dados do 4º Batalhão do Corpo de Bombeiros, até o dia 7 de setembro, foram 705 ocorrências de incêndio na cidade. Deste total, 496 aconteceram em áreas de pastagens e às margens de rodovias e outras 209 dentro do perímetro urbano, principalmente em lotes vagos. Os bombeiros temem dados ainda maiores até o final de setembro. “A tendência é aumentar a incidência de incêndio em vegetação, isso tem ocorrido, inclusive, em anos anteriores”, diz, em tom de preocupação, a tenente Vanessa Filippo.
Massa de ar seco e quente predomina no restante da semana
A forte massa de ar continua nos próximos dias na cidade. De acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o município tende a registrar umidade relativa do ar abaixo dos 30%. No domingo, o índice alcançou 23%, menor patamar observado em 2020, que representa estado de atenção. A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza que, para uma boa qualidade do ar, o ideal é que a umidade esteja em torno dos 60%.
No entanto, nesta segunda semana de setembro, os modelos meteorológicos apontam para permanência de umidade baixa, principalmente durante as tardes, e não há previsão para ocorrência de chuvas. Um novo alerta emitido pelo Inmet aponta condições meteorológicas favoráveis para ocorrência de baixa umidade relativa do ar, entre 30% e 20% nesta quarta na Zona da Mata.
Baixos índices favorecem piora na qualidade do ar, intensificação de doenças respiratórias e infecções oculares e maior ocorrência de incêndios em áreas secas, gerando fuligens que dificultam a visibilidade nas estradas. Especialistas recomendam mais cuidado com a higiene, além de evitar exercícios físicos ao ar livre e não esquecer de ingerir bastante água.
Calor segue intenso
Em Juiz de Fora, assim como em boa parte de Minas Gerais, a condição favorece a grande amplitude térmica, que é a diferença entre a temperatura máxima e a mínima, e o calor segue intenso. Os termômetros devem variar entre os 15 e 32 graus.
Apenas na divisa dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, há condições de maior cobertura de nebulosidade, por causa dos ventos carregados de umidade que chegam do mar em direção ao continente. Nesta terça, de acordo com o Inmet, Juiz de Fora teve mínima de 16,2 graus e máxima de 30,8 graus.