Complexos polinucleares com potencial contra o câncer são estudados na UFJF

Estudo possui parceria com pesquisador norte-americano, Nicholas Farrell


Por Tribuna

08/01/2023 às 07h00

A batalha contra o câncer é árdua, envolvendo tanto o físico do paciente (além da doença, há os efeitos colaterais do tratamento invasivo necessário em muitos dos casos) quanto o emocional, com impactos na autoestima em vários níveis, em função da perda de cabelo e das mudanças na pele, por exemplo. Contudo, a ciência está evoluindo e a busca por novas formas de tratamento está acontecendo neste momento, inclusive em Juiz de Fora. O professor da UFJF Luiz Antônio Sodré Costa e dois discentes de pesquisa da Química: Frederico Henrique Ferreira (bolsista do CNPq) e Rivael Francisco da Silveira (bolsista da Capes) estão trabalhando no “Estudo teórico da avaliação da atividade anticâncer de complexos polinucleares de Pt (II)”.

Estudante de Química Frederico Henrique Ferreira é bolsista do CNPq e integra estudo desenvolvido na UFJF (Foto: Divulgação/UFJF)

Para compreender a pesquisa e sua inovação na ação contra o câncer é preciso elucidar sobre a doença e os tratamentos usados atualmente. O câncer pode ser definido como uma célula que teve alguma modificação grave no seu funcionamento e começou a agir de forma descontrolada, multiplicando-se exageradamente a ponto de prejudicar as células sadias ao seu redor, levando a graves complicações. O tratamento do câncer busca atuar em duas frentes: evitar que a doença se espalhe por outros tecidos, a metástase, e forçar a morte de tecidos cancerosos, para regredir a doença e curar o paciente.

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Frederico Ferreira explica que, em 1978, a Cisplatina, pioneira no uso de complexos metálicos na medicina para tratamento de doenças, foi aprovada para uso clínico em quimioterapia do câncer. Desde então, o foco da comunidade científica tem sido buscar outras drogas com ação similar, tentando manter a mesma eficácia no tratamento e reduzindo os efeitos colaterais provocados pelo uso do medicamento. Assim, outras estruturas sintéticas foram desenvolvidas como é o caso de Carboplatina, Oxaliplatina, Heptaplatina, Nedaplatina e Loboplatina.

Essas drogas focam no bloqueio da estrutura do DNA de células cancerosas, para impedirem que o organismo leia as informações contidas na biomolécula. “O tratamento acaba focando na regressão da doença, matando as células cancerosas e levando o paciente à cura. Esta classe de drogas (cisplatina e análogos) se liga ao DNA, formando uma ligação química”, conta Frederico. Contudo, existem os efeitos colaterais do tratamento, como a perda de cabelo. Isso ocorre porque a droga que combate o câncer não diferencia células sadias de células cancerosas. Como o medicamento atua em células que possuem rápida multiplicação, como as do couro cabeludo, ele acaba causando a perda de cabelo.

Novos compostos em estudo

Frederico com o professor Luiz Antônio, responsável pelo braço teórico da pesquisa no Brasil (Foto: Divulgação/UFJF)

Os membros do grupo de pesquisa da UFJF estudam um método alternativo ao atual. Em busca de novos medicamentos que possuem menos efeitos colaterais, a ciência descobriu a ação de uma outra classe de compostos, chamada SI-PPCs (sigla em inglês para complexos de platina polinucleares de substituição interna). Os compostos se diferenciam por não se ligarem diretamente ao DNA. A inibição é feita através de interações eletrostáticas, como se fossem imãs, capazes de bloquear as funções da molécula e gerar sinais para matar as células cancerosas. Estes são os complexos que Frederico, Rivael e o professor Luiz Antônio estudam em sua pesquisa.

Conforme a equipe, os complexos polinucleares, junto da biomolécula sulfato de heparano, que atua no processo de reconhecimento celular, conseguem bloquear os sinais que levariam a execução do câncer no organismo e diminuem a chance de atuação em células sadias. Esse bloqueio afeta o desenvolvimento do tumor, evitando assim a metástase. Dessa forma, essa nova classe SI-PPCs pode ser considerada uma droga de ação dupla, por agir como agente antitumoral e antimetastático.

Na UFJF, os pesquisadores realizam extenso trabalho teórico, com simulações, a partir de modelos computacionais, da estrutura química da biomolécula, tanto DNA quanto sulfato de heparano, e das drogas pertencentes à nova classe. “Essas simulações rodam em computadores muito poderosos que se encontram em nossos laboratórios, gerando dados valiosos no que diz respeito aos sistemas estudados”, diz Frederico.

O professor Luiz Antonio explica que a pesquisa em modelagem computacional permite que os pesquisadores experimentalistas possam otimizar processos e planejar de maneira mais racional suas pesquisas, além de terem uma visão do que acontece no nível molecular.

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Prática é desenvolvida no exterior

Se a parte teórica é feita no Brasil, a prática é realizada no exterior. A pesquisa é desenvolvida em parceria com o pesquisador irlandês Nicholas Farrell, PhD em Química pela Sussex University. Ele atua nos Estados Unidos como professor da Virginia Commonwealth University. A pesquisa sobre os complexos polinucleares surgiu em um congresso em que os dois docentes se encontraram e começaram a conversar sobre a linha de pesquisa de Farrell. Atualmente, nos EUA, Farrell realiza a síntese, a caracterização e os testes biológicos das drogas em questão de forma experimental.

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