Professores de Juiz de Fora comentam tema da redação do Enem

Exame tem menor percentual de ausentes desde 2009, com cerca de 25% dos candidatos faltosos


Por Leticya Bernadete

05/11/2018 às 21h15

Waldyr Imbroisi, Marcus Dutra e Rodrigo Mendonça participaram de debate na redação da Tribuna sobre o primeiro dia de provas e o tema da redação (Foto: Fernando Priamo)

No primeiro dia de prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2018, realizado no último domingo (4), 24,9% dos inscritos em todo o Brasil não compareceram. Este é o menor percentual desde 2009, quando o exame passou a ter dois dias de aplicação, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Cerca de 1,3 milhão de participantes se ausentaram, de um total de 5,5 milhões de inscrições confirmadas. Em Minas Gerais, o índice de faltosos ficou próximo ao nacional: 24,2% faltaram às provas de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Ciências Humanas e suas Tecnologias, além da redação, que teve como tema “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”.

Em Juiz de Fora, onde esperavam-se mais de 19 mil candidatos, alunos encontraram dificuldades, mas a avaliação foi considerada positiva. Para o diretor pedagógico do Sistema Degraus de Ensino, Rodrigo Mendonça Pereira “a sensação, na escola, foi de que a prova foi difícil, em termos de conteúdo e de exigência, mas, de um modo geral, os alunos ficaram satisfeitos com a elaboração da prova.”

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Com temas sociais, como violência contra mulher, racismo e cultura LGBT, o exame cumpriu uma característica de interdisciplinaridade, segundo Marcus Vinícius Dutra, diretor pedagógico do curso preparatório Cave. “Você não está trabalhando nada que envolva dados, estatísticas e informação. Claro que o aluno que trabalha a informação tem a capacidade de análise, mas foram questões muito bem feitas”, explica. “Este ano, talvez a questão social tenha vindo de uma maneira mais abrangente, em um prenúncio de que vamos ter uma mudança de governo. Isso é esperado pelo aluno, não é possível trabalhar questões sociológicas sem abordar a diversidade.”

Próxima etapa

No próximo domingo (11), os candidatos do Enem 2018 realizam as provas de Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Matemática. Serão 90 questões para serem resolvidas em cinco horas. Os horários, com exceção do encerramento, serão os mesmos que do primeiro dia de avaliação: ao meio-dia ocorre a abertura dos portões, com fechamento às 13h e início das provas às 13h30. O término do exame está previsto para 18h30.
De acordo com o Ministério da Educação (MEC), os gabaritos e cadernos de questões estarão disponíveis no dia 14 de novembro, no site do Enem, enquanto os resultados devem ser divulgados em janeiro de 2019.

Com o tema “Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”, a redação desta edição do Enem trouxe um rompimento em relação às temáticas anteriores. “Na prova de redação, quebrou-se uma série de três anos em que se tratava das minorias. Tratou-se das mulheres, dos negros, dos surdos, e esse ano não veio com uma ‘polêmica’, em contrapartida”, explica Rodrigo Mendonça.

Os candidatos que realizaram a prova no último domingo poderiam abordar diversas questões na redação, de acordo com Waldyr Imbroisi, professor especialista em redação do curso Aporia. “O aluno tinha a possibilidade de escrever por muitos caminhos. Poderia seguir discussões que tivessem a ver com economia e como a propaganda chega melhor no indivíduo. Poderia falar um parágrafo sobre fake news, embora uma redação inteira poderia configurar tangenciamento de tema. Poderia falar de indústria cultural e da maneira que se padroniza o acesso à cultura, bem como poderia falar sobre bolha e aumento da intolerância dentro desses locais, porque você só tem acesso às mesmas opiniões e às mesmas notícias que corroboram com sua própria ideia”.

Outros exemplos citados pelo diretor pedagógico Marcus Dutra estão relacionados ao comércio on-line ou com controle de e-mails. “Cartão de crédito e espionagem de e-mail no mundo todo: são caminhos muito diferentes, mas que não seriam fuga ao tema, por conta dessa multiplicidade.” Por ser um tema relativamente atual, uma dúvida entre alunos estava relacionada à citação literária. Sobre isso, Dutra exemplificou as obras “1984”, de George Orwell e “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley. “O candidato poderia pegar essas citações literárias. A questão do alienamento, de direcionamento do raciocínio, do comportamento das pessoas, de comprar o que mandam, ler o que estão direcionando: está tudo extremamente relacionado.”

Uma das competências cobradas pela prova de redação do Enem é a elaboração de propostas de solução para o problema abordado, respeitando os direitos humanos. “A maior complexidade desse tema é na finalização, na hora de apresentar a argumentação para aquilo que levantou como problemática”, explica Dutra. Assim, de acordo com o coordenador pedagógico, as propostas seriam amplas, seguindo o que os candidatos abordaram. “Um nível de elaboração ‘mirabolante’ acaba, na verdade, dificultando a finalização. Na hora que o aluno falar de liberdade, não pode cair em contradição de estar criando um impedimento ou censura.”

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Para Rodrigo Mendonça, um ponto que, além de proposta de solução, poderia ser abordado como argumento na redação, está relacionado à alfabetização digital. “Hoje, é um dos conceitos que temos que trazer a partir da Base Comum Curricular. Tem tudo a ver com uma legislação recente que foi criada e com essa proposta de intervenção de educação digital.”

Tópicos: enem 2018

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