Sete juiz-foranos estão entre os 1.118 brasileiros com cidadania italiana cancelada

Prefeitura da cidade italiana de Ospedaletto Lodigiano revogou direito após investigação de esquema que envolvia funcionários públicos daquele país


Por Júlia Pessôa

04/03/2018 às 07h00- Atualizada 04/03/2018 às 16h45

Há sete juiz-foranos entre os 1.118 brasileiros que tiveram a cidadania italiana cancelada, após a abertura de processos entre julho de 2015 e 2017, referentes a supostos residentes da cidade de Ospedaletto Lodigiano, na Província de Lodi, região da Lombardia. Os nomes integram a lista divulgada no dia 9 de fevereiro no site da comuna de Ospedaletto Lodigiano, e a justificativa para a revogação do direito foi por não terem apresentado todas as condições estabelecidas pela lei italiana para o reconhecimento da cidadania, entre as quais, a residência. No total da relação, há 126 mineiros, dos quais, 58 de Belo Horizonte, 14 de Poços de Caldas, oito de São Sebastião do Paraíso, cinco de Governador Valadares e os outros de outras 21 cidades. A Tribuna localizou e entrou em contato, por redes sociais, com uma das pessoas naturais de Juiz de Fora que consta na listagem, mas não obteve resposta.

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A cidade de Ospedaletto Lodigiano tem apenas cerca de 1.500 habitantes e se estende por uma área de oito quilômetros quadrados, ficando a 45 quilômetros de Milão. Assim, o número de brasileiros que alegou residência na cidadela para requerer a cidadania italiana quase se iguala ao tamanho da população local, “dobrando” o número de habitantes. Uma investigação conduzida pela Guardia di Finanza de Lodi (equivalente à Receita Federal) constatou e divulgou que dois funcionários públicos da cidade participavam de um esquema, também integrado por um casal de brasileiros, para forjar moradia. Ainda conforme a inquirição, os servidores públicos encarregados de conferir os atestados falsos de residência estariam recebendo propinas, segundo divulgou o município.

A Tribuna procurou o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty), que, em nota, informou que qualquer informação referente à concessão de cidadania italiana deve ser consultada com as autoridades da Itália. Já o secretário do Consulado-Geral do Brasil em Milão, em nota, respondeu que o órgão “não foi procurado, até o momento, por qualquer cidadão brasileiro envolvido no recente episódio de cancelamento da cidadania italiana de 1.118 brasileiros, por fraude, na localidade de Ospidaletto Lodigiano. Esclareço também que este Consulado-Geral não presta apoio a brasileiros que buscam obter a cidadania italiana, exceto no que toca à elaboração de documentos que possam ser obtidos neste Consulado-Geral.”

Procura por cidadania italiana é grande entre brasileiros

A nacionalidade italiana é uma das mais requeridas pelos brasileiros. Segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (Istat), de 1.458 em 2015, a quantidade de passaportes italianos concedida subiu para 5.799 em 2016, o que representa um aumento de 297%. A legislação atual determina que brasileiros que têm ascendência italiana (pai ou avô) devem solicitar a cidadania nos consulados italianos no Brasil e aguarda – o que pode levar alguns anos. Os requerentes podem, contudo, tentar agilizar o procedimento judicialmente, já que, segundo a lei, o prazo máximo de espera não pode passar de dois anos. Nesta hipótese, dois juízes italianos analisam os requerimentos e, caso atendam às exigências legais, proferem a sentença determinando ao consulado o reconhecimento da cidadania.

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