Frustrados com ausência de militares, caminhoneiros focam em Temer
Ministro do Gabinete de Segurança Institucional diz não ver nenhum militar ou Forças Armadas pensando em intervenção
Passados os sete dias e seis horas que supostamente dariam o direito ao Exército assumir o poder, começa a cair a ficha dos caminhoneiros de que uma intervenção militar não vai ocorrer. “Cadê o Exército? O prazo acabou. Vai terminar tudo em pizza outra vez?”, questionava um participante dos grupos de WhatsApp
Isso não significa, entretanto, que eles desistiram da batalha. Além de iniciarem um abaixo assinado a favor da intervenção, eles passaram a focar em esforços para o presidente da República, Michel Temer, renunciar. Nos grupos da categoria, a estratégia agora é tentar incluir a população em geral nos protestos, argumentando que essa não é uma luta só dos caminhoneiros, mas de todo o país.
Para isso, eles pedem que o povo não fique nas filas de postos de combustíveis nem paguem valores altos. “A população não acordou ou está com preguiça de acordar. Não percebem que os descontos que o governo deu para nós caminhoneiros serão repassados para o álcool e para a gasolina de toda sociedade”, diz um deles, no grupo de WhatsApp.
Para os motoristas, a única forma de derrubar o governo é uma greve geral, uma manifestação que envolva toda a sociedade. “Nossa greve continua, mas se o povo não ajudar não conseguiremos atingir nossos objetivos. Cadê a população nas ruas”, questionava outro participante.
Eles também negavam que estavam sendo comandados por algum infiltrado. “Essa é uma luta nossa, não gostamos de políticos e nem queremos que eles estejam aqui”, afirmavam.
O jornal O Estado de S. Paulo participa de três grupos de WhatsApp de caminhoneiros, cada um com mais de cerca de 300 participantes. Na troca de mensagens, eles se organizam rapidamente.
As informações se alastram em minutos, como ocorreu após o pronunciamento do presidente, no domingo. Em áudios, líderes de cada Estado mostravam a situação do momento e as decisões de manter a paralisação. A ordem, por ora, é manter a paralisação.
Assunto do século passado
O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Sérgio Etchegoyen, afirmou nesta terça-feira, 29, que intervenção militar é um assunto do século passado, que não faz mais sentido. Durante coletiva no Palácio do Planalto de balanço do monitoramento da greve dos caminhoneiros, Etchegoyen foi questionado sobre os protestos que têm ocorrido no âmbito do movimento, pedindo a volta dos militares ao poder. “O farol que uso é muito mais potente que o retrovisor. Não vejo militar, Forças Armadas, pensando nisso”, afirmou.
Segundo ele, existe uma incógnita nesse movimento que ninguém ainda tratou, que é por que chegamos a isso. Mas, do ponto de vista dos militares, insistiu Etchegoyen, não é algo que desejam “Vejam todas as manifestações de todos os comandantes, na imprensa, nas mídias sociais, sobre a posição de Forças Armadas. Tenho dito, repito, vivo no século 21, quero construir um país como todos militares desejam. Não busquem encontrar o problema onde ele está iluminado”, afirmou, acrescentando em seguida que estão iluminadas as instituições das Forças Armadas que estão sempre presentes. “Se há necessidade ou problemas, estão resolvendo, essa Força é extremamente iluminada do ponto de vista de ter clareza do que faz”, completou.
Segundo ele, intervenção é um assunto do século passado, uma pergunta que, do seu ponto de vista, não faz sentido. Mas, reconheceu, ainda existem pessoas que acham que essa alternativa da intervenção é possível. “É importante sabermos por quê, para sabermos onde erramos”, afirmou.