‘Gente que fez a Tribuna’: Getúlio Vargas Machado e o Caso Castilho


Por Tribuna

13/08/2021 às 07h00

O Caso Castilho

Getúlio Vargas Machado, repórter da Tribuna entre 1981 e 2008

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Getúlio Vargas Machado teve longa carreira como repórter policial (Foto: Rafael Nascimento)

Em dezembro de 1996, lá da cidade de Paraíba do Sul (RJ), uma mulher viajou até Juiz de Fora para ir à Polícia fazer um registro de ocorrência. O marido havia desaparecido dois ou três dias antes. Até onde se sabia, o sujeito negociava peças de joalheria. Começou ali uma investigação para descobrir o que havia acontecido.
Neste meio tempo, entrou no circuito o comerciante de artigos de religiões de matrizes-africanas João Castilho. Ele, depois fiquei sabendo, também negociava joias. Descobriu-se que João Castilho e o homem desaparecido faziam comércio de joias um com o outro, o que fez de Castilho um suspeito. À época, inclusive, ele já estava sendo investigado pelo homicídio de um bicheiro. O João Castilho tinha um sítio localizado na estrada a meio caminho do Clube Náutico Juiz de Fora. Castilho utilizava o sítio para atrair as pessoas com as quais tinha relacionamento para uma estadia.
Entretanto, a Polícia começou a suspeitar de queimas de arquivo em determinado momento. Passou então a cavoucar aleatoriamente a área do sítio por suspeita de ocultação de cadáveres. Até encontraram ossadas, mas apenas de galinhas, que eram sacrificadas nos cultos religiosos que aconteciam todas as sextas-feiras no sítio. Nada de ossadas de seres humanos. As investigações já duravam cinco anos e não avançavam.
Após três ou quatro delegados comandarem sem sucesso as investigações, um novo titular assumiu o inquérito. Junto a sua equipe de inspetores e detetives, foi para o sítio. O delegado, então, teve a ideia de chamar um coveiro para ajudar nas buscas. Parecia brincadeira um coveiro ajudando em uma investigação policial. Mas o delegado tinha razão. O coveiro, por exemplo, sabia quando os buracos eram recentes, porque a terra ficava mais fofa. A princípio, a Polícia encontrou três cadáveres. Dois dias depois, outros dois.
Havia se encontrado o bastante para incriminar João Castilho. As buscas foram encerradas. Um dos corpos era de uma criança de 14 anos, e os demais, de homens já adultos. Aliás, estes foram todos enterrados em covas redondas, ou seja, agachados, de cócoras. E um dos cadáveres era mesmo do homem de Paraíba do Sul desaparecido. As roupas foram reconhecidas pela esposa.
Coincidentemente, no dia em que os corpos foram encontrados, eu havia ido até a Delegacia para saber o andamento das investigações. À época, eu mantinha um bom relacionamento com um dos detetives. Bastou ele passar por mim e cochichar que as buscas no sítio tinham avançado para que eu ligasse para a Redação, pedisse um carro e um fotógrafo e me deslocasse para o Náutico.
Cheguei ao Náutico me achando o dono da sardinha branca, já que tinha um furo de reportagem nas mãos. Um furo de reportagem por si só já nos deixa felizes da vida. E ainda por cima eu estava prestes a dar um furo sobre a TV Globo e radialistas, que, apenas de vez em quando, apareciam na Delegacia. Mas o delegado me disse que não falaria com a imprensa, porque o João Castilho não havia ainda sido preso e ele não queria perder a chance de prendê-lo. O delegado era novo. Eu não o conhecia.
Caso a TV soubesse das informações e fizesse as imagens, a notícia sairia logo depois. E, no impresso, fazíamos a matéria em um dia para sair somente no outro. Só que, como havia dois detetives que me conheciam, fizeram uma média com o delegado, que me deixou entrar no sítio. Mas havia um detalhe: eu poderia apurar as informações e o repórter fotográfico, fazer as imagens. Já a matéria não poderia ser publicada no dia seguinte caso o João Castilho não fosse preso.
Então, eu liguei para o editor Carlos Fedoceo Neto. Disse que já tinha tudo, mas que o delegado autorizaria a publicação da matéria somente se o João Castilho fosse preso naquele mesmo dia. O Carlos Neto apenas pediu que eu escrevesse o texto. Não me lembro se na máquina de datilografar ou em um computador safadinho que a Redação já tinha. Eu apenas escrevi. E, de vez em quando, os repórteres têm um pouquinho de sorte. Às 19h, o editor entrou em contato comigo e disse que a matéria sairia. A Polícia havia detido o João Castilho.

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Tópicos: tribuna 40 anos

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