Juiz-foranos criam ‘self-service’ gratuito para cães de rua
“Favor não roubar e nem destruir. Alimentos para cães de rua. Contribua. Coloque aqui sua ração”. É com esta frase e um mobile, feito gratuitamente por dois marceneiros, que uma estrutura localizada na Rua Moraes e Castro, em frente à Igreja São Mateus, no bairro homônimo, vem se tornando um “self service” para cachorros e cadelas que vivem nas ruas da região.
A ideia chamou a atenção da Tribuna, que foi descobrir quem estava por trás da iniciativa. Após ver uma ação semelhante em uma página no Facebook, a comerciante Cynthia Caetano Trade, 52 anos, mobilizou os amigos marceneiros, apresentou a proposta aos moradores da rua e há seis meses vem oferecendo aquela que pode ser a única alimentação dos caninos da região. “No início, a maioria aprovou a ideia. Alguns, no entanto, se mostraram preocupados com uma possível aglomeração de cachorros e com o risco de proliferação do Aedes aegypti na água parada. Bem no início, alguém acabou passando e jogando a água fora. Mas hoje há um respeito total. Trabalhamos de forma conjunta: uma pessoa troca a comida, outra fica responsável por substituir a água, a vizinhança ou os próprios transeuntes deixam doações de ração ou biscoito na banca de jornal”, relata Cynthia.
[Relaciondas_post]Dentre os principais beneficiados estão um trio de animais criados por um casal de moradores em situação de rua, que sempre dormem próximo à escadaria da igreja. “Eles não precisam mais se preocupar com a comida dos bichinhos. Eles (cachorros) vêm aqui, comem, bebem água e depois seguem seu rumo normal. São muito educados”, brinca.
Cynthia e os vizinhos tentaram expandir a ideia, levando outra estrutura semelhante à Praça do São Mateus, mas a iniciativa não foi aceita. “Os moradores falaram que ia juntar muitos cachorros e que gerar brigas”, lamenta. “Aqui, no entanto, isso nunca aconteceu”. Agora, o grupo trabalha na implantação de casinhas de papelão na Moraes e Castro, para que os animais possam se proteger do frio à noite. “O objetivo é inspirar outras pessoas. Se cada um fizer um pouquinho, eles (animais) estarão mais acolhidos”, aposta.
Interessados em contribuir, podem deixar as doações na Banca São Mateus, bem ao lado do equipamento.
Ideia semelhante no Cascatinha
Se no São Mateus a ajuda aos animais é coletiva, na Ladeira Alexandre Leonel, no Bairro Cascatinha, a delicadeza partiu de forma isolada. Dono de seis cachorros e sete gatos, o empresário Ronnie Girardi, 33 anos, vem mantendo potinhos com água e ração na porta de sua empresa, a Engetek, há cerca de um ano e meio. A inspiração veio de um pet shop que fazia ação semelhante em São Paulo. No entanto, segundo Ronnie, a vizinhança não teria aprovado a ideia. “Somos até criticados. Dizem que o alimento atrai mais animais, o que não é verdade.”
O compromisso em manter os vasilhames sempre cheios é levado tão a sério pelo empresário, que o fez incorporar uma nova norma na empresa. “Assim como o uso de uniformes, o auxílio na manutenção dos potinhos faz parte da rotina dos funcionários”, explica. “Tomamos muito cuidado também com a limpeza dos potes, por causa de possíveis doenças que podem ser transmitidas a partir deles”.
A partir do gesto carinhoso, um novo laço de amizade foi criado. “Temos um frequentador assíduo. Todo dia, por volta das 11h, um cachorro que mora nas imediações vem se alimentar aqui. Hoje já se tornou nosso amigo”, diz satisfeito. “Às vezes, as pessoas podem achar que fazemos isso para aparecer, o que não é verdade. Acho que é preciso conscientização. Sinto muitas vezes que o animal é tratado como objeto”, lamenta.
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