Fazer o bem sem ver – literalmente – a quem
“SOS Preces, em que posso te ajudar?”, diz serenamente um dos voluntários após atender o telefone que toca em uma das quatro cabines onde ocorrem o atendimento do SOS Preces, oferecido pela Fundação Espírita Allan Kardec (Feak) em Juiz de Fora. Com calma, ele ouve pacientemente o que a pessoa que está do outro lado da linha tem a dizer. O tom de voz denuncia a aflição e a inquietação daquele que enfrenta uma verdadeira batalha, estando diante de situações difíceis. Os motivos são os mais diversos possíveis, como conflitos familiares, insatisfação com atitudes de parentes, ansiedade causada pelo trabalho e o estresse do dia a dia, problemas financeiros e até ideias de autodestruição, como o suicídio.
“Estamos aqui como ouvidos e boca da espiritualidade para ter a palavra certa naquele momento. A mensagem de Jesus salva muitas vidas e me sinto gratificado por ser o mensageiro dela. A gente recebe tantas graças que o mínimo que podemos fazer para agradecer é servir ao próximo”, conta S., 57 anos, voluntário do SOS Preces que empresta, há oito anos, sua sensibilidade para levar palavras de conforto a pessoas que se encontram em momento emocional delicado.
Para ser um atendente dentro do serviço, a pessoa precisa, obrigatoriamente, ter ligação com os ensinamentos espíritas. Uma das premissas da Doutrina Espírita, codificada por Allan Kardec, diz que “fora da caridade não há salvação”. Há cinco anos, R., 55 anos, trabalha como atendente do SOS Preces, e afirma que o serviço não é um fardo, pelo contrário, é um prazer. “Não existe demagogia, nem problemas que a pessoa venha se purgar. Estamos aqui para oferecer nossa fala amiga, nosso ouvido e levar paz para quem está em um momento de perturbação. Quem liga está precisando de alguém que o escute”, diz.
O anonimato também é outra obrigação para participar do SOS Preces, pois resguarda a identidade do voluntário, evitando situações que possam causar constrangimento. “Ser anônimo nos deixa em paz para atender, pois muitas vezes falamos com pessoas que moram próximas à Feak e que nós conhecemos”, observa R.
Em 21 anos de existência, o SOS Preces já recebeu mais de 1,4 milhão de ligações, uma média de 300 por dia. O serviço funciona das 8h à meia noite. Os 296 plantonistas trabalham em sistema de rodízio e a jornada diária chega a ser feita com 30 voluntários. Conforme explica Armando Falconi, fundador da Feak e do SOS Preces, muitos dos que atuam como voluntários são pessoas que já buscaram atendimento no SOS Preces. “É um trabalho de mão dupla. Quando criamos o serviço, nossa intenção era atender quem não pode vir até a Feak. Assim podemos levar mensagens de otimismo e de esperança em outros pontos da cidade, além de outros municípios e países”.
‘Sem proselitismo’
A tonicidade da conversa entre os interlocutores não é a de aconselhamentos e nem de apresentação de soluções para os problemas relatados. Segundo Falconi, em nenhum momento a imagem ou a mensagem da Feak é vendida para quem está do outro lado da linha. “Não fazemos proselitismo, uma propaganda religiosa, e não usamos o canal para converter ninguém”, afirma. “Não é um trabalho feito com bola de cristal. Queremos mostrar a esta pessoa que, a partir da oração, ela pode encontrar a resposta para o seu problema dentro de si. Todas as religiões usam a prece, a oração como mecanismo de conexão ao que existe superior a nós”.
Você também pode ajudar
Para trabalhar no SOS Preces, o interessado precisa seguir a Doutrina Espírita e passar por um curso de formação, que tem duração de oito horas. Nesta capacitação, os participantes são orientados a como agir em cada situação, como suicídio, falecimento na família, separação conjugal, doença, crise pessoal, dentre outras situações. Os plantões na entidade acontecem em jornadas de duas e de três horas, podendo ser cumpridas em intervalos entre uma vez por semana ou uma vez a cada 15 dias. Aos domingos, a carga é de quatro horas e deve ser cumprida uma vez por semestre. As quatro cabines são ocupadas de acordo com a disponibilidade de cada voluntário.
Para se candidatar, o contato pode ser feito durante as reuniões públicas promovidas na entidade. Os horários estão disponíveis no site www.feak.org.br. Quem deseja utilizar o serviço, não existe distinção, logo, pessoas de qualquer religião, ou crença, podem fazer uso do (32) 3236-1122. “Aqui respeitamos cada pessoa em sua religião e religiosidade. Ser voluntário é doar o seu tempo, tendo a sensação de utilidade. Ao ouvir o problema do outro, encontramos soluções para os nossos próprios desafios pessoais”, pontua Falconi.
Conhece alguma iniciativa positiva realizada em Juiz de Fora ou região? Compartilhe com a gente. Encaminhe um e-mail com o assunto Bem JF para o minhatribuna@tribunademinas.com.br ou um inbox pela página da Tribuna no Facebook.
*Os nomes foram trocados para manter o anonimato dos plantonistas