Mudança cultural reduz em 60% número de fumantes

PUBLIEDITORIAL

Foco no ‘é proibido proibir’ e na promoção da saúde é adotado pela Unimed Juiz de Fora no Programa de Cessação do Tabagismo


Por Tribuna

01/10/2017 às 06h30- Atualizada 07/10/2017 às 17h12

Rachel Rocha Costa continua na atividade física supervisionada do Espaço Viver Bem, um ano e cinco meses após parar de fumar (Foto: Gal Oliveira)

Ele já foi ícone de consumo. Símbolo de status para os homens e de libertação social para as mulheres. Fonte de inspiração para artistas, roteiristas e compositores. Hoje, no entanto, o cigarro está totalmente fora de moda, como resultado da mudança cultural iniciada no Brasil, no fim dos anos 1980, com a reformulação do Sistema Único de Saúde (SUS). “O país é hoje o que apresenta a maior oferta de tratamento para o tabagismo e a maior efetividade”, explica o psicólogo de Saúde e coordenador do Programa de Cessação do Tabagismo da Unimed Juiz de Fora, Leonardo de Aguiar Vasconcelos Carneiro. Tanto que nestes últimos 30 anos, o número de fumantes brasileiros registra queda de 60%. Entretanto, para muitos, abandonar o vício ainda é algo “impensável”. E a pergunta que persiste é: por que, mesmo diante de tanta pressão social, ainda é difícil parar de fumar?

“O cigarro gera três tipos de vício. Não é só o vício químico, porque se fosse assim a medicação resolveria. Tem também a dependência psicológica. O cérebro da pessoa se sente cada vez mais dependente do efeito que a substância provoca para funcionar bem. E há a dependência comportamental que é o hábito mesmo, criado a partir de associações que a pessoa faz como, por exemplo, após tomar um cafezinho”, explica Leonardo. Desde que foi lançado em 2006, o Programa de Cessação do Tabagismo da Unimed Juiz de Fora já atendeu cerca de 600 pessoas, mas a mudança de perfil e de comportamento dos fumantes obriga a equipe interdisciplinar, da qual faz parte um médico pneumologista, a atualizações constantes para melhorias no tratamento.

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Baseada no programa do Instituto Nacional do Câncer (INCA), a iniciativa da Unimed visa treinar habilidades comportamentais e emocionais, para que os fumantes enfrentem as dificuldades que envolvem o parar de fumar. “Diminuir as dificuldades a gente não consegue. O que a gente faz é treinar essas pessoas para que se sintam capazes de fazer o enfrentamento”, observa o psicólogo, que considera como a maior dificuldade do tabagista o fato de se manter sem fumar. “Por isso, uma parte do programa que eu considero tão importante quanto ou até mais que o parar de fumar é a manutenção”.

Após a inclusão no serviço gratuito oferecido pela Unimed aos seus mais de 100 mil clientes, o fumante passa a ser monitorado por toda a vida. A intensidade deste monitoramento muda de acordo com a fase do tratamento em que ele se encontra. No início, os atendimentos semanais podem ser individuais ou em grupo. Após um mês sem o cigarro, os encontros se tornam mensais, até que se chegue ao monitoramento por telefone. O programa também utiliza os benefícios do suporte em grupo com a troca de experiências e vivências entre os que pretendem deixar o vício. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) só é considerando ex-fumante quem está há mais de um ano sem fumar.

O uso de medicação, como os adesivos, está presente no tratamento de 60% dos pacientes atendidos pela Unimed. “Ela varia em função do nível de dependência química que a pessoa tem e das comorbidades que apresenta, como processos depressivos”, observa Leonardo. “A parte medicamentosa ajuda muito nos primeiros dias, nas crises de abstinência, na compulsão de querer fumar e também influencia na mudança de comportamento que levará à lógica de reaprender a viver sem fumar”. Com um modelo de assistência integral à saúde, a Unimed também coloca à disposição dos tabagistas atividade física, orientação nutricional, apoio de assistente social, dentre outros serviços indispensáveis ao bem-estar.

A grande virtude da mudança cultural sofrida no país em relação ao tabaco, seguida e incentivada pela Unimed, segundo Leonardo, foi o foco na saúde e não na doença ou na adoção da estratégia do medo. “Se o cigarro vai me trazer problemas à saúde lá na frente, então eu já vou mudando agora. É o agir mais e reagir menos. Promover a saúde, evitando a doença”, sintetiza o coordenador do Programa de Cessação do Tabagismo.

Leonardo Carneiro: modelo brasileiro adotado contra o cigarro deveria ser usado para outras drogas (Foto: Gal Oliveira)

Vício é doença pediátrica

Ela é um exemplo clássico de porque o tabagismo é considerado doença pediátrica, uma vez que o vício começa a partir dos 12, 13 anos de idade para boa parte dos fumantes. E foi totalmente sem querer, com uma ligação inesperada da equipe do Espaço Viver Bem da Unimed Juiz de Fora, que a especialista em excelência no atendimento, Rachel Costa Rocha, se viu em pleno tratamento para deixar o cigarro.

“Minha filha, que já havia insistido comigo para parar de fumar, marcou a consulta sem que eu soubesse. Eu fui para não desagradá-la, mas estava igual a uma criança emburrada. Enrolei um pouco no início do tratamento, mas as pessoas me receberam tão bem! Foram me envolvendo de uma forma que foi fácil parar, explica Rachel, que fumou um maço de cigarro por dia dos 15 aos 61 anos.

Há um ano e cinco meses longe do vício, ela percebe as mudanças positivas em sua respiração e no estado geral de saúde. “Ao contrário do que muito fumante pensa, o cigarro gera ansiedade em vez de combatê-la. Eu fazia tudo com pressa para ficar livre logo e poder fumar. Hoje, quando viajo, tenho paciência para esperar o tempo que for, porque não tenho mais o cigarro me esperando”.

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