Skate com E maiúsculo


Por Renato Salles

30/07/2021 às 07h00

Os horários das competições dos Jogos Olímpicos de Tóquio têm sido bastante ingratos para muitos. Eu me incluo entre estes, inclusive. Já não sou mais aquele jovem que trocou o fuso horário para acompanhar a todos – ou a quase todos – jogos da Copa do Mundo Japão/Coreia do Sul em 2002.

Para piorar, a pandemia ainda botou fim em minha já saudosa boemia. Ao menos, por ora. Confesso que eu tentei por vezes entrar madrugada adentro, mas no fim o sono leva sempre a medalha de ouro.

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A única competição que conseguiu me levar até altas horas foi a disputa do street feminino no skate. Logo eu, que nunca havia acompanhado, de fato, uma competição da modalidade. Tive que aprender regras e algumas manobras entre a classificatória e a final. Lógico que, se nunca havia acompanhado nenhuma disputa, não conhecia também as competidoras. Assim, fui me afeiçoando a tudo em tempo real.

Primeiro vi que eram três as representantes brasileiras e que, sim, tínhamos chances de medalha. Ponto para o sk8. Depois, vi que, das três, tínhamos uma jovem atleta de 13 anos de idade. Pensei: “pô, bacana! A ‘mascotinha’ é a garantia de que teremos vida longa no esporte. Sensação que ficou mais real quando vi o VT mostrando a relação da jovem com a veterana da equipe.

Confesso que, nas primeiras apresentações, foi difícil entender as regras. Duas séries de livre exibição e cinco de manobras. Das sete notas, destacam-se as três piores. Ah, vá! Não é assim tão difícil. Esse entendimento, contudo, levou quase todo o tempo da primeira bateria.

Comecei a torcer, de verdade, quando Rayssa Leal, a jovem de 13 anos, e Letícia Buffoni, o exemplo da colega de equipe, entraram no circuito. Daí, a surpresa maior foi que a “mascotinha” tinha skate para manobrar de igual para igual. A fã desbancou o ídolo e garantiu vaga na final.

Faz pipoca que a coisa ficou séria! Com tal enredo, o sono foi embora e me vi atento na vigília pelas finais. Rayssa fez seu show à parte, ficou perto de levar o ouro, mas escreveu seu nome na história com a prata. A Fadinha elevou o nome do Brasil.

O mais bacana foi que, durante as finais, me vi interessado na história da veterana americana; na simpatia da competidora filipina; na rigidez da atleta chinesa; nas manobras da holandesa; no talento e juventude das japonesas; e na magia da fadinha brasileira. Não sei se ou quando vou parar para assistir a uma competição de skate, mas tamanha diversidade de histórias, me fez olhar para a coisa de um jeito bem mais respeitoso. Não somos a Pátria de Rodinhas, mas o skate é, sim, um Esporte com E maiúsculo por todos os sonhos que acalenta.

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