Derrotas cotidianas


Por Renato Salles

18/03/2016 às 07h00

Difícil falar de esporte em um momento em que o Brasil está em ebulição. Assisto estarrecido a tudo o que está acontecendo; espantado com o clima de Fla-Flu que se tornou a discussão política nacional. O extremismo, de parte a parte, que vemos nas ruas e nas redes sociais me assusta. Muito. Temo pelo dia de amanhã. Concordo que é preciso guiar o país para um lugar melhor no espaço-tempo de nossa pequena existência. Temos, sim, que investigar e punir criminosos – observando o que estabelece a legislação vigente – e dar um ponto final à corrupção. Mas vejo também que precisamos evoluir como pessoas. Não é certo odiar – em casos mais absurdos, violentar verbal e fisicamente – outra pessoa só por que ela veste a camisa de outro time. Isso vale para o futebol e para a ideologia política – ou a falta dela.

Tenho acompanhado o transcorrer dos fatos com um nó na garganta. Mais angustiado que um goleiro na hora do gol, como diria o sumido Belchior. Assustado. Ainda assim, não abro mão do meu ópio (do povo): o futebol. Na última quarta-feira, por pouco mais de 90 minutos consegui virar a chave, desopilar o fígado, tomar minha cerveja, ser um pouco feliz atrás da quarta parede das quatro linhas. Sorri, de fato, nas duas vezes em que vi meu time balançar as redes adversárias. Abracei amigos e desconhecidos.

PUBLICIDADE

Depois, voltando para casa, ouvi um estranho, do outro lado da rua, dirigir-se a mim com uma ofensa raivosa. Tirando os palavrões, foi algo como “fora, corintiano”! Podia ter sido “fora, coxinha” ou “fora, petralha”. Não importa. Após ter me sentido vitorioso por uma hora e meia, voltei a ser um derrotado inserido em uma sociedade que parece mais afeita ao ódio a cada dia.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.