‘Classificado!’


Por Renato Salles

05/07/2019 às 07h00

Reassumo este breve espaço renovado após justas férias. Mais do que 30 dias de descanso, retorno em paz por ter conseguido realizar um sonho de criança: assistir a um embate entre Brasil e Argentina “in loco”. Com os 2 a 0 e da boa apresentação da Seleção, o embate da última terça deixará marcas indeléveis em minha memória. Para além do jogo e a despeito das longas filas para tudo, dividir uma experiência como esta com amigos do passado e do presente é um quadro para se pendurar com destaque na parede das boas lembranças. Se, ao escrever estas letras tortas, estivesse tão extasiado quanto estava nas arquibancadas do Mineirão há três dias, seria leviano e taxativo ao afirmar que tinha mais juiz-foranos que argentinos no estádio. O que sei, porém, é que brindei com muitos amigos de lá e de cá e deixei um pedaço importante de minhas boas memórias em Belo Horizonte.

Uma coisa em especial me desagradou. Não foi, todavia, algo específico do clássico, mas uma situação corriqueira na “cultura” do futebol. Com a vitória encaminhada; uma boa apresentação coletiva; e destaques individuais incontestáveis como Daniel Alves, Gabriel Jesus e Roberto Firmino; a torcida passou a provocar os hermanos. Os gritos de “eliminado” ecoaram incessantemente na bela arquitetura do Mineirão. Outros gritos provocativos foram entoados a plenos pulmões. Enfim, ao que parece, os torcedores preferem menosprezar o adversário a enaltecer seu próprio time. Ora, deveríamos ir ao estádio para torcer e apoiar a camisa de nossa predileção, mas o fato é que a maioria parece torcer contra o oponente. De certa forma, isto parece se refletir na nossa discussão cotidiana e política em que determinada maioria prefere destacar os equívocos de quem pensa de forma contrária, ao invés de contribuir na busca por soluções consensuais em benefício de todos.

PUBLICIDADE

Do contra que sou, em meio ao coro de “eliminado”, gritei sozinho no Mineirão: “Classificado!” E, em meio ao escárnio da maioria. Que venha a final de domingo.

Os comentários nas postagens e os conteúdos dos colunistas não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é exclusiva dos autores das mensagens. A Tribuna reserva-se o direito de excluir comentários que contenham insultos e ameaças a seus jornalistas, bem como xingamentos, injúrias e agressões a terceiros. Mensagens de conteúdo homofóbico, racista, xenofóbico e que propaguem discursos de ódio e/ou informações falsas também não serão toleradas. A infração reiterada da política de comunicação da Tribuna levará à exclusão permanente do responsável pelos comentários.