Dia de Santos Reis


Por Renan Ribeiro

08/01/2021 às 06h58- Atualizada 08/01/2021 às 16h29

Assim como a história dos Reis Magos fala sobre a contemplação de uma estrela que se tornou uma espécie de GPS, as estrelas penduradas na árvore de Natal são capazes de localizar em que época do ano estamos. Quando começamos a ver guirlandas enfeitando portas, papai noel estampado e renas é que a ficha cai. Difícil é a hora de desmontar tudo, não pelo trabalho que dá, mas porque fica a sensação de que tirar os enfeites também significa guardar um clima pelos próximos meses.

Há alguns anos, essa era a época da Folia de Reis. Os grupos passavam pelas ruas, levando suas roupas coloridas, suas músicas e instrumentos. Por alguns anos, as máscaras dos ‘palhaços’ da folia causavam muito medo. Quando apareciam, algumas crianças sumiam das ruas, onde estavam acostumadas a brincar por horas, todos os dias.
Descobri que esse medo era obra de uma campanha de desinformação que vinha sendo passada de geração em geração. Histórias que não estão em compasso com a tradição oral, que continua sendo transmitida nas famílias e grupos que resgatam o costume. O processo de descoberta se deu na época da Faculdade, em um trabalho por meio do qual o receio deu lugar à admiração.

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Foi a primeira vez que estive na Praça Antônio Carlos para ver o encontro das Folias. Famílias chegavam curiosas para ver o espetáculo de cores e formas. O contraste entre os grupos mais ligados à raiz do costume e outros com componentes mais jovens, que incluíam outras influências em suas apresentações, abriu a percepção para uma nova relação com o rito.

Nesse ano, sabia que, por conta da pandemia, seria mais difícil ainda chegar a ver alguma apresentação da Folia de Reis pelas ruas da cidade. No entanto, fico feliz por saber que ainda temos pessoas que se dedicam a perpetuar essa manifestação. A impressão que fica é a de que o ciclo não se encerra como tem que ser: com a folia colorindo as ruas, fazendo as pessoas cantarem e dançarem no 6 de janeiro.

Quem sabe as notícias da eficácia das vacinas não possam vir a ser como uma estrela que guia a todos nós, na direção de encontrar a saída desse labirinto em que nos encontramos? Que seja como um presente a ser dado para a humanidade: a oportunidade de reencontrar as ruas e poder caminhar sem medo por elas, podendo reencontrar uma herança cultural tão importante a qualquer momento. Que movimentos como o da Folia de Reis, que como cantava Tim Maia, andam meio esquecidos, possam voltar a ser vistos e a inspirar as pessoas.

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