Qual é a cor do nosso esforço?


Por Daniela Arbex

27/12/2015 às 07h00

O fim de ano é inevitavelmente um momento de reflexão. Época de avaliar nossas conquistas, nossos erros e a nossa caminhada, de pensar em ajustes de rota e traçar novas metas. Em um mundo onde tudo é muito rápido – e a maior parte dos acontecimentos é divulgada em tempo real -, não é fácil investir tempo para olhar para dentro de si mesmo e se autoanalisar. Primeiro porque o processo de reconhecimento das nossas fragilidades é quase sempre doloroso. Depois, porque boa parte da nossa energia está canalizada para julgar o outro. O nosso rigor e a nossa acidez não são os mesmos, quando o foco somos nós. Pelo contrário, buscamos sempre desculpas para amenizar a consciência e adiar a necessária reforma íntima.

Há uma anedota popular que confirma o que nós já sabemos. Quando não conseguimos reunir forças suficientes para mudar, a gente tende a se acostumar com o que nos incomoda. É o caso de um cachorro simpático que toda noite uivava pelas redondezas de um bairro residencial. Um dia, cansado de ouvir os lamentos do animal, um homem o abordou.

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– Mas o que está acontecendo?
– É que eu estou sentado em um prego, respondeu o bicho.
– E por que você não levanta?
– Ah, é porque não está doendo tanto assim, falou o cachorro, dando de ombros.

A quatro dias da virada do ano, não adianta fazer promessas e entregar nas mãos de santos de barro, de Iemanjá ou de qualquer outra entidade a responsabilidade pelo nosso futuro. Somos, nós, os operários de nossa felicidade. Mudar exige coragem e não há ninguém que possa fazer essa mudança em nosso lugar. Fugir só nos afasta de quem gostaríamos de ser.

Exatamente por isso, não há arruda, dólar na carteira, nem pulo de sete ondas capaz de nos tornar melhores, mais magros, mais felizes e completos. Sem esforço pessoal nada acontece. Quando a gente se convencer que a transformação se dá de dentro para fora, nós estaremos mais próximos dos nossos ideais de ser, afinal, qualidade de vida não está associada ao quanto acumulamos, mas ao que conquistamos como indivíduos, ao aprendizado que nos torna pessoas melhores, mais capazes de amar e de servir.

No dia em que o mundo usa roupas brancas para esperar 2016, eu sugiro que a gente se desnude do egoísmo, das mágoas, das vaidades inúteis. Qual a cor do nosso esforço? Que a fantasia fique em 2015, para que, neste Ano Novo, a gente possa se vestir apenas de humanidade.

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