Conversa para boi dormir


Por Guilherme Arêas

01/05/2016 às 07h00

As redes sociais continuam agitadas. Também, pudera, assunto é o que não falta, principalmente em Brasília City. O falatório vai dos discursos familiares dos deputados no Dia D do impeachment às fotos da ex-Miss Bumbum, Milena Santos, no gabinete do novo ministro do Turismo, o economista Alessandro Golombiewski Teixeira, que vem a ser marido da modelo. No escândalo mais recente – o das fotos -, a bela fez selfies ao lado do ministro com um decote mui generoso e se autointitulou a “primeira-dama do Ministério do Turismo do Brasil”. A cena, com direito a selinho entre o casal, e o decote da morena incomodaram meio país. Milena, no entanto, queixou-se da “falta de respeito das pessoas” com o “seu” momento de felicidade. Por causa do episódio, o ministro, que aparece nas imagens em estilo impávido colosso, emitiu nota na qual repudiou “a exposição pública da intimidade do casal e o resgate de fotos antigas para denegrir a imagem dos envolvidos”. O político refere-se a uma foto de 2013 (nem tão antiga assim), na qual Milena, então Miss Bumbum, aparece seminua em frente a um já avacalhado Congresso Nacional.

Nada contra o ziriguidum da moça, mas é preciso analisar o significado simbólico das fotografias exibidas pela própria modelo no Facebook. A intimidade do casal realmente não interessa a ninguém a não ser quando um ministério é usado como cenário para fotos que transformam a Esplanada na casa da mãe joana. Se a esposa do ministro gosta de usar decotes, o problema é dela, mas exibir-se no gabinete do marido ministro é algo que reforça a ideia jocosa atribuída à nação verde-amarela de que tudo aqui acaba em samba, futebol e corrupção.

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Se rótulos denigrem pessoas e lugares, o nosso novo ministro deveria dedicar-se a mudar o do Brasil, um dos principais destinos do turismo sexual, principalmente o infantil, onde roupa e comida viram moeda de troca para sexo com crianças e adolescentes vulnerabilizados. Há alguns anos, me hospedei em um hotel de luxo em Salvador (BA), no qual dois gringos mantinham como acompanhante uma menina brasileira negra, que tinha cerca de 14 anos. Sem nenhum constrangimento, os americanos passaram ao menos dois dias com ela e, para isso, contaram com a conivência dos funcionários do hotel, apesar do nosso alerta. Organizações internacionais denunciam que americanos e canadenses estão entre os que mais se aproveitam da vulnerabilidade de crianças na América Latina e no Caribe.

Com a proximidade das Olimpíadas, no Rio, o Governo brasileiro e o nosso Ministério do Turismo deveriam se preocupar não só com a segurança e o êxito do evento, mas com o risco de exploração sexual de meninas e meninos cooptados por redes de prostituição que fazem mais de um milhão de vítimas ao redor do mundo. O resto, ministro, como disse a sua própria esposa ao contestar o rumuroso episódio da selfie, é “conversa para boi dormir”.

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