Contratar ou terceirizar? Eis a questão!

Ao decidir entre as duas opções, leve em consideração o que é melhor para a estratégia da empresa como um todo e qual o momento atual e futuro que se espera


Por Bruno Rodrigues Faria, analista do Sebrae Minas

23/04/2019 às 08h00- Atualizada 23/04/2019 às 11h09

Nos últimos anos, a discussão entre montar uma equipe interna e terceirizar tarefas tem sido bastante intensa. Primeiro, porque a Lei 13.429/2017 flexibilizou a terceirização também para atividades-fim, que não era permitida até então pela Justiça do Trabalho; segundo, porque os novos modelos de negócios envolvendo startups, empresas digitais e ambientes de coworking têm colaborado para um trabalho mais flexível, muitas vezes gerando um hub de profissionais em torno do empreendedor. Esse efeito tem obrigado até mesmo as maiores empresas a buscar um modelo mais ágil de atuação.

Nesse cenário, como decidir entre contratar um colaborador e terceirizar parte do serviço? Para ajudar você, vamos analisar as implicações operacionais e financeiras entre esses dois formatos de trabalho:

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Impactos operacionais:

  • Controle e acompanhamento: para quem gosta ou precisa monitorar de perto as atividades desenvolvidas, trabalhar com uma equipe interna oferece mais vantagens. Dessa forma, é possível imprimir o seu estilo de gestão, ter mais informações sobre a execução da tarefa e exercer um controle em tempo real do desempenho para encontrar pontos de melhoria. Para tarefas que não exigem essa necessidade, ou seja, quando o resultado final é mais importante que a maneira de fazer, terceirizar pode ser um caminho viável;
  • Serviços especializados: em geral, o pequeno empresário tem muita dificuldade de conseguir manter uma mão de obra altamente especializada de maneira fixa no negócio, seja porque seu uso não é contínuo ou porque o custo pode ser alto. Nessas funções, a terceirização pode ser bem-vinda, permitindo ao empresário ter uma rede de profissionais qualificados ao seu redor e utilizá-la apenas no momento necessário;
  • Flexibilidade e ociosidade: toda empresa quer aproveitar ao máximo o tempo e a competência dos colaboradores, por isso, caso o negócio esteja em ritmo acelerado de crescimento ou produção, a equipe interna consegue entregar maior aproveitamento do tempo, gerando o efeito de ganho de escala. Para empresas com sazonalidade forte ou que passam por momentos de instabilidade no movimento, os terceiros podem ajudar a absorver a demanda sem gerar ociosidade, já que em muitos casos trabalham por hora ou produção. Estes são, portanto, mais indicados em cenários que exigem maior flexibilidade da estrutura de pessoal;
  • Foco estratégico: a rotina do empreendedor é bastante turbulenta, sendo ele responsável por gerenciar tudo que acontece no seu negócio. Utilizar serviços de terceiros pode ser uma maneira de desafogar as rotinas mais repetitivas e permitir que se foque nos processos mais essenciais. Como a gestão de tempo e de produção fica a cargo do terceirizado, isso alivia a cabeça do empreendedor para decisões mais importantes. Também é possível ter colaboradores internos que ajudem a descentralizar as funções, mas isso exigirá um tempo de treinamento e aprendizado para funcionar bem.
  • Comprometimento: nesse aspecto, o serviço terceirizado é muito focado em entregar a demanda em troca do valor recebido. A sua contribuição é limitada ao que foi combinado. Caso o empresário desenvolva uma equipe interna que compartilhe a missão e os valores do negócio, pode-se ter benefícios com uma dedicação mais completa à empresa. Uma boa equipe gera novas ideias, ajuda os pares e colegas de outros setores, alimenta o empreendedor com informações diferentes e pode desenvolver mais facilmente o espírito de melhoria contínua para ganhos de eficiência e escala no negócio. Tudo depende do perfil desenvolvido pelo líder.

Impactos financeiros:

Um dos maiores motivos pelos quais as empresas buscam a terceirização é reduzir gastos. Mas será que sai realmente mais barato? O que levar em conta na hora do planejamento financeiro?

  • Custos diretos: o primeiro ponto é levantar o custo do trabalho a ser feito. Um funcionário de uma pequena empresa no Simples Nacional gera de encargos básicos um valor aproximado de 35% a 40% do seu salário. Pode haver variações de acordo com o anexo de enquadramento, com o faturamento e com adicionais (como plano de saúde, adicional noturno, entre outros). Na dúvida, consulte seu contador. Para empresas no Lucro Presumido ou Real, esse valor, muitas vezes, pode dobrar o custo de mão de obra. Na terceirização, muitos empresários pensam que ficam livres desse gasto, mas, na verdade, o terceirizado recolhe esses tributos e repassa isso já no preço, acrescentando ainda o lucro da empresa dele. Por isso, normalmente o custo de um terceirizado (devidamente regularizado) costuma ser até um pouco maior do que o do colaborador direto. No entanto, é possível ter ganhos financeiros nos serviços de terceiros, pois estamos trocando um gasto fixo de funcionário por um gasto variável por produção. Isso significa que, se o rendimento do colaborador não estiver adequado, as horas não produtivas podem sair mais caras que o valor cobrado pelo terceiro, e é nesses casos que essa opção ganha destaque. Portanto, na hora de planejar, faça a conta levando em consideração um período maior, e não só o custo da hora trabalhada em si;
  • Custos indiretos: uma equipe interna necessita de estrutura para trabalhar, como equipamentos, computadores e materiais. Temos que gastar também para fazer uma boa seleção e treinar essa pessoa. Ao terceirizar, isso deixa de ser responsabilidade da empresa, na maioria dos casos. Por isso, pode-se utilizar bastante esse serviço para evitar novos investimentos de capital e expansão da estrutura, sem que se tenha segurança que valerá a pena no longo prazo. Em contrapartida, deve-se ter o cuidado com a contratação do terceiro, pois sua falta de adequação trabalhista pode gerar risco de multa para a empresa contratante, em que a lei ainda indica casos de responsabilidade subsidiária. Por isso, é importante conhecer o profissional a se terceirizar e regulamentar a relação entre as partes com um contrato.

E aí, vale ou não vale? 

É lógico que usar a terceirização para tentar reduzir custos deve ser considerado, principalmente em momentos de instabilidade. Evitar gastos de natureza fixa gera um fôlego para o negócio, mas nem sempre isso vai ocorrer, pois depende do rendimento dos colaboradores e da função a ser terceirizada. A dica final é não pensar só no financeiro. A parte operacional tem impactos até maiores no seu negócio. Portanto, ao decidir entre as duas opções, leve em consideração o que é melhor para a estratégia da empresa como um todo e qual o momento atual e futuro que se espera!

 

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