Muitos produtos irão morrer em breve

As novas tecnologias permitiram uma revolução por meio das facilidades de desenvolvimento de produtos e da fragilidade de nossos desejos


Por Carlos Frederico Corrêa Ferreira, analista do Sebrae Minas

15/01/2019 às 08h00

 

Nesses tempos de mudanças rápidas, tecnologias aceleradas, modelos de negócios escaláveis e demanda “neurótica” pelo novo, muitos empreendedores trabalham os produtos como estratégia principal de competição. Isso é até óbvio e compreensível, já que a inovação em produtos é uma das mais fáceis de serem absorvidas de imediato. A consequência disso é o bombardeio de novas ofertas disponíveis no mercado em curto prazo. Chega a sufocar! Porém, é confortável saber que muitos desses produtos vão morrer em breve.

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À medida que a sociedade evolui, os desejos tendem a aumentar, já que a evolução da tecnologia e de processos acontece em paralelo, permitindo, assim, o surgimento de inovações para novos consumos. Porém, é importante lembrar que o consumidor não compra um produto, nem mesmo um serviço. Ele paga pela satisfação de um desejo ou pela resolução de um problema real.

Nesse mundo acelerado, nem todas as novidades são totalmente úteis. Nem todas, também, têm vida longa. Isso porque nunca foi tão fácil realizar “coisas”. Produtos e serviços são criados dentro de espaços compartilhados, dentro das nossas casas e com custos cada vez mais competitivos. Ficou mais fácil oferecer algo. Ficou mais fácil ainda surgirem concorrentes. Portanto, criamos uma sociedade viciada e dependente de tudo o que é novo, que abomina o que é velho e que produz paixões voláteis. Todas essas questões fazem com que seja mais difícil para as empresas terem clientes mais fiéis ou que consomem sempre os mesmos produtos. Essa é a espiral estressante de muitos empreendedores.

Por conta disso, muitos produtos vão nascer e muitos também vão morrer, em breve! Essa é a lógica do mercado atual, no qual o ciclo de vida dos produtos está cada vez menor. Nada deverá durar mais de um ano! Exageros à parte, essa característica é uma das mais marcantes da Quarta Revolução, também chamada de 4.0.

Hoje, oferecer um produto ao mercado só porque você é apegado a ele é a mesma coisa que uma mãe defender um filho, mesmo sabendo que ele fez algo de errado. Partindo desse mesmo exemplo, quem oculta um erro também tem culpa. Então, pela ótica do empreendedor, ter a consciência de que produtos têm hora e data marcada para nascer ou morrer significa agir de forma estratégica. Pensando nisso, poderemos não só desenvolver melhorias nos produtos, como também diminuir sua oferta no mercado quando esta se mostra exagerada.

O difícil, porém, é percebermos o momento exato de inovarmos ou de tirarmos algo do mercado. A hora da criação de um produto, por exemplo, é o resultado de uma boa análise de mercado e de seu ciclo de vida. Podemos citar o setor de tecnologia. Nele, novos produtos são lançados de forma quase instantânea, na medida em que a sociedade manifesta novas insatisfações ou novos desejos. Muitos, neste setor, têm consciência de que a vida útil dos produtos também é pequena.

Por fim, para aqueles que estão atrás do sonho de criar um novo Facebook, vale aqui uma dica: este produto tem que agradar primeiro aos consumidores. Sua aprovação pessoal não tem muita importância num primeiro momento. Validar com o público-alvo é uma condição necessária. Criá-lo apenas pela pressão do mercado também não faz muito sentido. Afinal, devemos criar um filho para lidar da melhor maneira com as demandas do mundo! Protegê-lo demais pode estragá-lo! Não o entender pode provocar discórdias! Mimá-lo pode ampliar sua miopia! Não o validar pode dificultar a análise de seu valor!

Como parte da estratégia empresarial, todo empreendedor deve buscar um equilíbrio entre surfar na onda da inovação e provocar mudanças desnecessárias, caso contrário, o próprio mercado fará sua seleção natural e o melhor produto da última semana desaparecerá!

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