De volta para o passado


Por Júlia Pessôa

25/10/2015 às 07h00- Atualizada 27/10/2015 às 09h21

 O ano era 1985. O Brasil começava a se recuperar de longos e duros anos de chumbo, Rainha Madonna estava causando pelo mundo, o rock nacional estourava nas rádios e meus pais receberiam – ou tinham acabado de receber, depende do mês – um grande presente de Deus, do destino ou da biologia (fica a gosto de quem lê) : eu.

Também em 1985, uma das trilogias mais aclamadas do cinema e da cultura pop foi lançada, e o mundo todo queria embarcar no DeLorean com Marty McFly e viajar entre o passado e o presente. A última quarta, 21 de outubro, foi o dia em que, pelo filme “De volta para o futuro”, Marty chegaria ao então vindouro 2015. Por isso mesmo, na última quarta a internet pipocava de referências ao filme, dizendo o que havia sido previsto certo ou errado sobre este nem tão doce ano em que estamos.

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No meio da tarde, no calor senegalês que tem assolado nossos dias, fui à padaria, trajando uma saiota mais curta do que a vida, como o abafamento pedia. Mal saí do meu prédio e vi uma fumaceira danada, uma espécie de túnel de gelo-seco, logo acompanhado por um estouro – que eu pensei ser um transformador da Cemig. Quando abri os olhos após a explosão, fiquei embasbacada. Era Marty, que um pouco empoeirado, abria a inesquecível porta vertical do Delorean, e logo veio perguntando se estava em 2015, se aquilo era o futuro, e coisa e tal.

Passada a euforia – minha e dele -, o jovem começou a fazer muitas perguntas, sobre o skate que voa, a jaqueta que seca, e o hidratador de pizza, e eu tive que dizer que o futuro de agora não era lá essas coisas que ele já tinha visto em outros futuros. Mas fiz questão de dizer que a Pepsi tinha prometido lançar a garrafa que ele tinha visto, e que a Nike tinha sim feito aquele tênis modernoso.

Estava me preparando para falar que nosso 2015 não era também só fiasco e merchandising, e que a gente tinha internet, um telefoninho que faz de um tudo, e até espuma de tudo que é tipo de comida. Foi quando passou um cara, olhou de cima abaixo as roupas oitentistas e extravagantes do McFly e a minha sainha minúscula, e soltou sem pestanejar: “Tinha que ser, uma bichinha e uma piranha!”

Marty, que não entende português, me perguntou o que o cara havia dito, e eu, desistindo dos meus planos, “traduzi”: – Disse nada não, Marty. Mas entra no Delorean e tenta de novo, que esse futuro aqui veio com defeito.

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