Fuso horário


Por Júlia Pessôa

15/05/2022 às 07h00- Atualizada 15/05/2022 às 12h37

O lance sobre ter uma doença grave é que o tratamento mais efetivo é a mudança completa de fuso horário. Para quem deseja e pode se ver livre dela – e todo meu respeito por quem assim não quer ou não pode fazer -, a primeira medida inevitável é acertar seus ponteiros no tempo da patologia. É sempre dela a prioridade da agenda, que em troca lhe dá a única coisa possível: um hoje de cada vez.

Não é que seja diferente com as pessoas saudáveis, mas doenças graves atuam como diz que acontece com pessoas com deficiência de algum dos sentidos: aguçam-se os outros. Se a (falta de) saúde embaça a visão e os planos de futuro, por outro lado, o presente passa a ser transmitido em altíssima resolução, sem a gente perder o mais nanoscópico detalhe que seja.

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De hoje em hoje, a gente vai ganhando tempo, aprendendo a viver em segurança, e vendo também que essa coleção de agoras, pequena ou grande, é a única certeza absoluta que todo mundo tem. (Eu sei que parece papinho de autoajuda, mas a ginástica de tentar esticar o pescoço até o futuro ou virá-lo para enxergar o passado só traz uma coisa garantida: torcicolo) .

Hoje, não por uma sabedoria superior, mas por um conhecimento adquirido na marra, não aposto mais corrida comigo mesma, feito o cão que corre atrás do rabo. E ainda que devaneie nos planos pro futuro ou em lembranças do passado, posso até não saber qual horário marcam os relógios (ou celulares, a quem quero enganar?) Mas sempre sei qual é a hora certa: agora.

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