Pra não dizer que não falei (de novo) do Belchior


Por Júlia Pessôa

15/04/2018 às 07h00

Estudei boa parte da vida em colégio de freira, o que me dá certo gabarito em feriados católicos, nomes de santos e outras peculiaridades inerentes ao ambiente e às aulas de ensino religioso isentas de diversidade religiosa. Dos tempos da escola, lembro-me de quando falavam pra gente sobre a Páscoa, vinha toda aquela história de ressurreição de Cristo, sobre o significado da data como renovação, reinvenção, renascimento.

Talvez seja o tal Mercúrio retrógrado que a galera ligada em astrologia tanto fala, talvez seja um fumacê de espírito Pascal ou, em um tom menos lírico, a imensa desesperança que vivemos no Brasil de hoje, mas tenho pensado muito em quanto precisamos ressuscitar no terceiro dia, como dizem que fez JC da quebrada. Porque por ora, seguindo a oração católica, seguimos descendo cada vez mais profundamente à mansão dos mortos. Existirá fundo por lá ou seguiremos em desabalada carreira ladeira abaixo? A Páscoa passou, todo mundo encheu o pandu de chocolate e nenhum sinal de renascimento.

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Pode ser doutrinação escolar, pode ser um otimismo imbecil e descabido de um dia despretensiosamente feliz ou talvez o Belchior apenas apareça demais nos meus fones de ouvido. Mas apesar de tantas rupturas dolorosas, tantos golpes em nossos corações e almas e esse senso comum de que “alguma coisa está fora da ordem”, eu tenho tentado acreditar bastante que, como versava o bigodudo, “uma nova mudança em breve vai acontecer”. Existe uma grande chance de que eu queime a língua (como já tanto fiz) e que as transformações vindouras venham somente nos afundar mais no buraco em que vivemos em queda livre. Mas, por ora, seguir na crença de que caminharemos, cedo ou tarde, nos despindo da “roupas velhas que não nos servem mais”, e rumo a satisfazer o afã de que “precisamos todos rejuvenescer”.

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