Retificando: um banquinho


Por Júlia Pessôa

07/08/2016 às 07h00

Faço hoje 31 anos. Desde que me lembro, amo fazer aniversário. Adoro textão no Facebook, telefonema, presente, paparico, cartão, telegrama, abraço, beijo, bolo, WhatsApp, tudo que a data possa oferecer – até aceito áudio. Amo ter nascido no mesmo dia em que o Caetano Veloso e amo, sim, ser o centro das atenções. Adeptos da astrologia dirão que sou a típica leonina – não dou a mínima para os astros, mas amo ser de Leão (com ascendente em Escorpião, que eu pesquisei e dizem que é uma mistura do cão). Com tanto amor pelo dia em que eu nasci, seria natural que meus 30 anos fossem especiais. Mas talvez eu seja a pessoa que mais gostou de se tornar balzaquiana no mundo inteiro.

Os 30 foram libertadores. Foi quando parei de querer agradar a qualquer custo, economizando tempo, paciência, e anos de tratamento gástrico de uma possível futura úlcera. Passei a me amar mais do que jamais havia conseguido, ao realmente sentir que o tempo tem pressa (clichê que repetimos, mas não absorvemos), e que a gente só tem esta vida para se apaixonar por si mesma. Aos 30, mesmo sofrendo, aprendi a dizer mais “nãos” e a estar menos disponível o tempo todo. Também nos anos de Balzac, mordi a língua e compreendi que o tempo tem mesmo uma sabedoria inquestionável, e que algumas conquistas esperam que estejamos prontos para acontecerem. Encerro a idade redonda grata, mas sem #gratidão. (A vida é muito curta também para aderir a hashtags cafonas com substantivos abstratos e fotos de pôr-do-sol). Se não for abusar da sorte, desejo só que os 31 sigam este ritmo, mais nada.

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Vez ou outra, acho engraçado dizer minha idade. Se por um lado amei fechar a trinca de décadas, por outro, ser adulto não é para amadores. É a época de tomar rédeas do que será o futuro, e fazer escolhas que frequentemente são “de Sofia”, mas das quais já não podemos nos esquivar como nos 20. A fase em que pessoas que marcaram toda nossa história começam a se despedir, e ser amigo passa a ser também “estar lá”, física ou emocionalmente, para quem vai perdendo os seus.

Nesta semana, foi-se a Diva, tia da Rafa, minha amiga da vida. Só me lembro dela gargalhando muito alto, com sua voz grossa, me pedindo para imitar alguém conhecido: “Faz o fulano, maluca!”. Ou sentadinha no banco do lado oposto da rua de sua casa, observando as pessoas passarem e, sem sair do lugar, sabendo de todas (sério, todas!) as fofocas da nossa pequena Três Rios. Jogando buraco, hábito que me traumatizou e me fez abandonar as cartas por anos, depois de uma vez em que jogamos de dupla e perdemos. Sacaneando a Rafa, eu, e todas as nossas amigas, quando nossos crushes (que na época ainda se chamavam paqueras ou sei lá o quê) passavam por perto, nos matando de vergonha adolescente; e sempre comprando comida demais, não importa qual fosse a ocasião.

É por isso que, se ainda der tempo, quero retificar meu pedido de presente. Sendo possível, eu queria que a Diva, onde quer que esteja, tenha um banquinho de onde possa ver a vida por aqui, divertindo-se com o que acontece e jogando um buraquinho para passar o tempo quando nossos dias estiverem muito chatos de se acompanhar.

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