Pra não dizer que não falei das flores


Por Júlia Pessôa

06/12/2020 às 07h00

Uns meses atrás, entre uma bicada e outra no meu balde matinal de café, percebi que o cactinho que havia comprado há tempos não só resistia às intempéries de ser meu, mas estava enorme. “Vou ter que mudar de vaso”, pensei, com certo orgulho. Apesar de vir de uma linhagem de mulheres com “mão boa” pra planta, vim com uma deficiência crônica desta habilidade, e carrego nas mãos o sangue verde de zamioculcas, palmeiras, antúrios e até cactos, teoricamente espécies facílimas de cuidar. As causa mortis são muitas: molhei demais, molhei de menos, muito sol, pouco sol, presença felina, ausência de luz e há quem aposte que se eu conversasse com algumas, elas teriam vingado.

Um pouco cínica e talvez pessimista, embora tenha crescido em uma mata de samambaias dentro do nosso apartamento de dois quartos, fui me resignando à minha “mão ruim” pra plantas – contrariando a hereditariedade. Assim, minha maternidade botânica, como se clama pela internet, se restringiu a suculentinhas e cactos heróis da resistência. Estava plenamente conformada. Mas só até reparar, esses dias mesmo, que o referido cactinho, já em seu vaso novo, havia florido pela primeira vez.

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Na primeira oportunidade, passei a mão no telefone e, moderníssima, pedi umas jiboias e uma samambaiona no delivery. Tinha certeza que o jogo tinha virado, agora vai. Posso até não ter mão boa, mas brotou, onde muito tempo eu não via, esperança. Onde tem flor, tem possibilidade.

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