No Cunha


Por Júlia Pessôa

06/12/2015 às 07h00- Atualizada 14/03/2016 às 12h51

2015 respira com a ajuda de aparelhos já faz algum tempo, e, ainda assim, sempre haverá tempo para mais um golpe, mais uma porrada, mais uma zika (vírus ou não). Nunca vou entender quem aplaude uma polícia que começa o ano descendo o cacete (te) em professor e termina dando o mesmo tratamento VIP a aluno.

Para fundir ainda mais meus miolos, é esse mesmo povo que diz que o Brasil precisa é investir em educação (mas sem cotas, sil vous plaît). Não posso prever o futuro, mas sei que algo vai muito mal das pernas quando a indignação é seletiva e não tem cara, não tem direcionamento e carece de argumentos claros. A onda é ser contra “tudo isso que está aí”, “essa roubalheira” e dizer, a cada sujeira que emerge, “isso é Brasil”.

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Quando generalizações vazias tornam-se palavras de ordem, qualquer borra-botas pode se tornar herói da nação. Do alto de minha ignorância, tenho uma certeza: é inadmissível que qualquer pessoa adulta com um mínimo de consciência crítica e instrução (formal ou não) defenda Eduardo Cunha como o bastião da moralidade e da retidão que vai acabar com “aquela sujeira” de Brasília. Como alguém que já lavou mais dinheiro que as próprias cuecas, que oprime mulheres e homossexuais e que criminaliza a pobreza, entre tantas outras atrocidades, pode ser o salvador da pátria? Prefiro Sassá Mutema.

Cada um tem o direito a pensar e defender o que quiser, e de fato há cientistas sociais, pesquisadores e gente realmente gabaritada no assunto que defenda tanto a legitimidade da queda da Dilma quanto o absurdo completo dela. Leiga que sou, recolho-me à minha insignificância argumentativa, mas certa de que um homem que faz política como o moleque mimado que foi “expulso do parquinho” (ou ameaçado de) não é a resposta para o que quer que esteja acontecendo com o Brasil. Se você acredita que ele o seja, não sei em qual fonte você bebe agora, mas estou convicta sobre a do futuro: vai tomar no Cunha.

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