Entrevista Gustavo Mendes, humorista
O bom filho à casa torna. Gustavo Mendes comprova que o ditado funciona duplamente para ele. Além de subir ao palco do Cine-Theatro Central neste domingo, com o espetáculo “Um show com tudo dentro”, o ator e humorista comemora sua volta à cidade depois de uma temporada morando no Rio de Janeiro e em São Paulo. Gustavo agora dedica-se aos novos programas que fará no canal Multishow. O primeiro deles, “Treme treme”, tem sua estreia marcada para 26 de outubro. Para ele, a cidade funciona como um ponto de equilíbrio entre todos os lugares que morou. “Está tudo mais legal agora, estou mais perto da família, e a casa vive cheia. Antes, eram só eu e meus dois cachorros”, disse Gustavo, que é natural de Guarani (MG). Em uma manhã ensolarada, ele recebeu a Tribuna em sua casa para um bate-papo descontraído sobre as mudanças em sua vida pessoal e profissional.
Tribuna – O que o motivou a voltar para Juiz de Fora?
Gustavo Mendes – Muitas coisas. Saí de casa muito cedo, aos 15 anos, e sempre vivi a realidade instável de um artista brasileiro. Quando vi que estava em um momento de ter tudo o que eu buscava – programa, shows e parte financeira -, me deparei com a doença de uma pessoa bem próxima. Depois disso, bateu uma paranóia de querer estar perto da família, que eu curti pouco. Minha mãe saiu de Guarani e veio morar comigo, a casa agora vive cheia. Gosto de morar, viver e passear aqui. Fui para São Paulo por conta da Band, e lá me deprimia muito. No Rio (de Janeiro), as pessoas eram muito gostosas e saudáveis para mim. Elas esfregavam saúde na minha cara (risos). Juiz de Fora é um equilíbrio disso tudo.
– Como será o novo programa “Treme treme”?
– No “Treme treme”, viverei o zelador Belmiro, um personagem de 40 anos. Como eu tenho 26, precisei mudar meu corpo. Iria engordar 15 quilos, mas acabei ganhando 18, pois coloquei uma margem de erro. Deixei a meta aberta e quase a dobrei (brinca). Hoje sou um jovem garoto acima do peso. Tive também que usar bigode e costeleta. O Belmiro me fez retornar ao mineiro caipira que eu sou e gosto de ser e que há muito tempo não fazia. Tirá-lo de mim será muito difícil. O “Treme treme” terá mais de 40 personagens, interpretados pelo elenco fixo, formado por Márcia Cabrita, Fernando Caruso, Caike Luna, Denis Lacerda. Estes dois últimos vieram do Prêmio Multishow de Humor. Também teremos participações especiais de Pedro Bismarck, Samantha Schmutz, Ary Toledo, Marcus Majella, Dani Valente, Sérgio Mallandro, entre outros. Ou seja, peguei o Multishow inteiro e coloquei no programa, exceto o Bruno de Luca.
– Como será a dinâmica do programa?
– Será uma releitura do humor clássico, com um cenário único em que os personagens vão transitar e contracenar. O Belmiro fará uma espécie de mediador e não sairá nunca de cena. Terá plateia, mas ela não vai aparecer e nem funcionar como claque, mas como um termômetro para testar as piadas. Nos ensaios, se elas não funcionavam, a gente parava tudo e ia reescrever o texto. Já temos 20 episódios gravados, mas gravamos cenas extras, já pensando na possibilidade de aumentar o número de programas, que será de segunda a sexta-feira. Acredito que esse programa será um sucesso, pelo menos no que depender dos pedidos feitos aos meus amigos pastores, padres e pais de santo.
– Além do “Treme treme”, você também será responsável por um outro programa.
– Este é um embrião, mas a emissora quer ainda para este ano. A gente brinca que o lema do Multishow é “vida sem roteiro”, mas para quem trabalha lá é “vida em cativeiro”. A produção é em massa, e eu adoro isso! Não sabia que era assim, e foi uma surpresa muito boa. Existe liberdade de criação, e a forma como te resguardam é muito bacana. O próximo programa será de auditório. Nele quero me dedicar mais ao lado de apresentador. O humor sempre estará presente, mas quero ter espaço para entrevista, banda e esquetes. Quero que seja aquela confusão, um grande circo!
– Você já passou por três emissoras abertas (Record, Globo e Band), agora está em um canal fechado. Sente a diferença?
– Diferenças existem, principalmente quanto ao ritmo de produção. Na TV a cabo, ela acontece em massa. A primeira temporada do “Treme treme” foi gravada em 14 dias. Foram 232 cenas. É mais que uma novela. O protagonista, em uma diária de gravação, grava cerca de 20 cenas. Passar pela TV aberta me fez ter mais zelo para não ser inconsequente e sair atirando por aí.
– Você já participou da novela “Cheias de charme”, da Globo, em 2012. Tem vontade de fazer novamente?
– Na verdade tenho um pouco de medo. Nem assisto mais às cenas do Eloy (personagem de Gustavo na novela, que era um blogueiro de celebridades), pois me dá muita vontade de fazer. Acho que se eu fizer dramaturgia, eu não saio mais. Mas, por enquanto, meu foco está voltado para seriados e programas.
– E a internet nisso tudo? Ainda é o grande veículo para humoristas que estão começando?
– A internet virou curva de rio, pois para de tudo ali, tanto coisa boa quanto ruim. A internet acabou com o império que a televisão tinha de escolher quem serão, ou são, suas estrelas. Muita gente que está só na internet lota teatros, mas quando olhamos mais a fundo, vemos que elas não estão preparadas e não rendem quando vão para outras mídias. Eu fiz internet por muito tempo, depois descobri que não gostava mais de fazer.
– Por ser da região, você sente diferença de público em relação aos outros estados ao se apresentar aqui?
– Já fiz milhares de shows em Juiz de Fora e continuarei a fazer. Quero apresentar um ótimo espetáculo, com piadas novas e uma boa estrutura de som e acabamento. Quero que as pessoas que nunca me assistiram se impressionem pela qualidade e cuidado que tenho. Quem volta a me assistir, quero que pense “nossa, que incrível, que salto”. Vejo que a cidade tem esse apego por mim, e as pessoas se sentem felizes. Então, preciso mostrar o meu melhor, como prata da casa. Juiz de Fora tem um espírito de mãe. É protetora, leoa, mas também, medrosa. A cidade tem medo do que pode mudar e do que pode ser agressivo. O juiz-forano não tem muita paciência com quem chega no teatro metralhando palavrão. Quanto a mim, sempre fui ovacionado. Acho que é pela forma como chego e falo. Sei que não sou o rei do pedaço e nem me sinto o maior nome do humor do Brasil, muito menos de Juiz de Fora.
– A atual conjuntura política tem interferido na sua forma de interpretar Dilma?
– O personagem ganhou vida própria fora do cenário político. A minha Dilma pode perfeitamente fazer um programa de receitas, por exemplo. As pessoas não associam tanto. Claro que tem outras que pedem para eu ser porta-voz da presidenta. Mas eu não faço isso. Nunca gostei muito dessa pegada política, até porque não entendo muito como funciona. Eu não vou ficar levantando bandeira, pois minhas convicções políticas não devem ser compartilhadas no teatro e, ainda por cima, não acho justo cobrar ingresso por isso. No meu show, dou opinião social. Falo de homofobia, do machismo, mas defender A ou B, isso eu não faço.
“UM SHOW COM TUDO DENTRO”
Neste domingo, às 19h
Cine-Theatro Central