A Rainha (não) está morta
Oi, gente.
Vamos falar do show do Queen no Rock in Rio? O show da lendária banda inglesa era o assunto do momento – pelo menos até terça-feira -, com facções defendendo ou esculachando o tal Adam Lambert (prazer em conhecer) e uma terceira via que estava nem aí, “deixem a galera ser feliz”, essas coisas. Na minha fantástica, incomparável e modesta opinião, o show foi nota seis: Brian May continua fenomenal, Roger Taylor é muito bom, a banda que acompanha a dupla é impecável, mas esse Adam Lambert não dá. O sujeito é o típico produto de reality shows como o “American Idol”: muita técnica, pouca emoção. Não adianta se vestir igual a um fenômeno contemporâneo e achar que basta isso (e não desafinar) para compensar a ausência de quem é incomparável.
Mas há quem goste. Muita gente na TV ou na Cidade do Rock se emocionou, chorou, achou que tinha voltado a 1985. Faz parte do jogo, mas eu preferia alguém que tivesse mais bagagem. Um George Michael, por exemplo, ou um Roger Daltrey. Como disse meu colega de redação Wendell Guiducci, o Paul Rodgers era muito melhor como substituto.
Não sou da turma que aceita qualquer projeto caça-níquel dessas bandas, mas também não considero “heresia” quando substituem um Freddie Mercury da vida – desde que o cara seja bom, mesmo que cause estranheza no ato da matrícula. Afinal, se formos analisar a História do rock, o que não falta é caso de gente que seguiu em frente mesmo depois que o vocalista original morreu, resolveu cantar em outra freguesia ou foi belissimamente chutado pelos seus pares – e isso vale para bateristas, guitarristas ou baixistas, claro.
Começando pelos defuntos. Bon Scott, do AC/DC, aprontou tantas que acabou morrendo em condições até hoje mal explicadas, e a banda seguiu em frente com o “caminhoneiro” Brian Johnson. O The Doors seguiu por alguns anos após a morte de Jim Morrison, mesmo que de forma capenga, e ainda voltou na década de 90 com Ian Astbury, de The Cult, nos vocais – e há quem diga que o inglês foi um substituto muito bom. E ainda temos o radicalismo musical do Joy Division, que resolveu virar o eletrônico New Order após o suicídio de Ian Curtis.
Quanto aos vivos, a história é a mesma. Cazuza resolveu sair do Barão Vermelho para seguir carreira solo, Frejat assumiu os vocais, e o grupo conseguiu se virar. David Lee Roth saiu do Van Halen após brigar com o manda-chuva Eddie Van Halen, teve por algum tempo uma carreira solo de sucesso, e sua antiga banda segurou as pontas com Sammy Hagar. Ex-Jane’s Addiction, o guitarrista Dave Navarro entrou para o Red Hot Chili Peppers com altas expectativas, mas o estilo do cara não combinou com o grupo de forma alguma. E o Iron Maiden, que teve a sorte de chutar Paul Di’ano e substituí-lo por ninguém menos que Bruce Dickinson? Mas não esquecemos, claro, o ódio dos fãs da Donzela de Ferro quando Dickinson deu lugar a Blaze Bailey.
Como se vê, algumas mudanças foram boas para as bandas, e outras não. O inevitável, em todos os casos, é uma boa dose de polêmica – e nem precisa ser o Adam Lambert para ela surgir.
Vida longa e próspera. E obrigado pelos peixes.