Sem prazo para troncalizado


Por EDUARDO VALENTE

21/06/2015 às 04h00

Rodrigo Tortoriello explica que Município precisa buscar fontes de recursos com o Estado e a União

Rodrigo Tortoriello explica que Município precisa buscar fontes de recursos com o Estado e a União

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O retorno de um sistema troncalizado está previsto no transporte urbano de Juiz de Fora. De acordo com o projeto básico anexo ao edital de licitação dos ônibus, serão construídos 11 terminais. Porém, esta possibilidade, considerada de longo prazo, não tem data para ser iniciada. De acordo com o titular da Settra, Rodrigo Tortoriello, as medidas podem começar depois de cinco anos e se estenderem por até dez ou 20 anos, já que dependem de recursos.

A verdade, segundo o secretário, é que estão no edital apenas diretrizes da implantação deste sistema para que as concessionárias interessadas em participar do processo licitatório tenham conhecimento da possibilidade. Mas ainda não há projetos que mostrem como isso será feito, em quais terrenos os terminais serão instalados e que obras viárias são necessárias para garantir a fluidez dos ônibus articulados. A sugestão inicial é que estas estruturas sejam construídas nos bairros Manoel Honório, Alto dos Passos, São Mateus, Democrata, Vitorino Braga, Costa Carvalho, Poço Rico, Cascatinha, além da Zona Norte, Cidade Alta e na região central (Avenida Getúlio Vargas). Mesmo assim, os locais podem ser modificados se, no momento da instalação, a demanda da cidade for outra.

Para as intervenções físicas necessárias, o Município precisa, segundo Tortoriello, buscar fontes de recursos com o Estado e a União para viabilizar os projetos a serem feitos. Segundo ele, o Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE/MG) não vê com bons olhos a possibilidade de estas obras serem custeadas pelos vencedores da licitação. Isso porque qualquer investimento poderia impactar na planilha de custos do sistema, o que resultaria em aumento da tarifa.

Também não está certo se o sistema troncalizado começaria a operar com os 11 terminais em funcionamento. “É prematuro dizer isso agora, mas gostaríamos de poder fazer. Na época do terminal da Zona Norte (nos anos de 2005 e 2006), disseram que a implantação não funcionou porque deveria ter mais de um terminal em funcionamento. Ideal é que tivesse sim, mas com um operando bem, também funcionaria. O objetivo da época era integrar a região Norte com a central, então porque precisaria de uma construção imediata no Bom Pastor? O problema é que o número de ônibus articulados havia sido subdimensionado”, pontuou.

‘Situação preocupante’

Na opinião do mestre em engenharia de transportes José Luiz Britto Bastos, o fato de não haver um cronograma para a implantação das medidas de longo prazo, com prazos definidos para obras e construções, antes de as empresas serem escolhidas, é algo “preocupante”. “Quem garante que teremos um transporte público de qualidade se não aplicar tudo que está previsto na licitação? Tem muita gente entusiasmada, inclusive eu, com as mudanças radicais que estão por vir. Mas enquanto não colocar os terminais para funcionar, enquanto não fizer este projeto se tornar realidade por inteiro, não teremos um sistema em funcionamento”, questionou.

Ainda conforme o especialista, novas obras viárias são importantes para otimizar o transporte público, principalmente porque, em sua avaliação, o trânsito da cidade sofre com a falta de planejamento. “Juiz de Fora cresceu por si mesma, sem ser projetada. Temos poucos corredores de tráfego, e eles são sinuosos e complicados. É preciso assumir posições concretas do que deve ser feito para melhorar isso.”

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Integração e frota ampliada

O inédito edital que visa à licitação do transporte público na cidade foi publicado pelo Executivo no dia 22 de maio. Conforme o documento, o sistema na cidade será dividido em duas áreas operacionais que deverão ser exploradas por duas empresas ou dois consórcios constituídos. O valor contratual dos dois lotes é de R$ 1,6 bilhão e consiste na receita bruta estimada durante o período em vigor, que são dez anos, que pode ser prorrogado por igual período.

Conforme o projeto básico, após a assinatura do contrato de concessão, cujas propostas das interessadas deverão ser apresentadas em 11 de agosto, as empresas ou consórcios deverão implantar uma série de mudanças entre o início e os 24 meses posteriores. A ideia é que entre em funcionamento um sistema de pontos de integração, no qual os ônibus utilizados em alguns bairros não serão, necessariamente, os mesmos que chegarão com os passageiros até o Centro. O serviço deverá operar fora dos horários de pico, com intuito de manter a frequência nas áreas periféricas e reduzir a quantidade de veículos nos corredores. Os pontos de integração deverão operar nos bairros Retiro, Manoel Honório, Vitorino Braga, Quintas da Avenida e Cascatinha, atendendo à demanda de 35 localidades do entorno.

Entre outras medidas, estão a ampliação da frota de 589 para 659 veículos, sendo quatro micro-ônibus (para bairros sinuosos), 589 convencionais, 44 do tipo padron (89 passageiros) e 22 de pequeno porte (atendimento aos deficientes físicos). O número de linhas também sobe, das atuais 271 para 305. Para Britto, as medidas de curto prazo já resultarão em melhorias no sistema, embora ele avalie que, sozinhas, elas serão um “paliativo”.

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