Sem meias palavras
Cria do inconformismo generalizado dos anos 1970, o punk rock segue por aí esbravejando contra tudo o que acredita estar errado nesta terceira esfera a partir do sol, mesmo que o mundo gire e quase tudo continue no mesmo lugar. Em Juiz de Fora, uma das bandas que mantêm viva a insatisfação contra “o que está aí” é a Subefeito, que acaba de lançar o seu terceiro trabalho, “Dizer o que tem que ser dito”, de forma 100% independente. O trabalho, disponível no Soundcloud (www.soundcloud.com/subefeito/sets/album-dizer-o-que-tem-que-ser-dito) e na página do grupo no Facebook (www.facebook.com/subefeito), pode ser conferido neste sábado, quando o Subefeito toca no Circuito Cultural Punk, no Black Gold Bar, ao lado de uma sacolada de bandas da região (NxDxUx, Holokausto Social, DMD, Panguá, Os Calhordas, Traste, Dekradi, Sangue nos Olhos, Acid Drop, Sexy Grandma e 100 Classe).
Único remanescente da formação original, de 2001, o vocalista e guitarrista Davi Ferreira acredita que o novo álbum mostra um Subefeito tentando avançar artisticamente, mas com a mesma pegada punk/hardcore de sempre. “Desde o segundo álbum (lançado em 2008) que tentamos evoluir na maneira de compor e apresentar uma diversidade musical. Os temas, agora, não são apenas sobre protesto, mas inserindo isso no cotidiano para aproximar as pessoas desse universo. É o caso de ‘A hora da merenda’, que tem essa abordagem diferente”, explica Davi. “A faixa-título já tenta pegar o lado conceitual. Ela foi feita antes dos projetos de junho de 2013, quando já havia toda aquela tensão. Eu vi aquela frase que passava na Globonews (‘todo mundo tem algo a dizer’) e peguei esse conceito de ‘dizer o que tem que ser dito’ tanto nas relações pessoais quanto nos meios de comunicação e nos movimentos sociais.” Isso não quer dizer, entretanto, que o protesto direto e afiado tenha ficado lado: faixas como “Todo mundo fede” mantêm o espírito de revolta sem meias palavras.
Davi acrescenta que o terceiro disco da banda (que ainda tem em sua formação o baterista Aprígio Neto, o baixista Anderson Costa e o guitarrista Cássio Arbex) começou a ser gestado ainda em 2013, quando começou a fuçar em alguns cadernos antigos. Dali saíram cinco das 11 faixas de “Dizer o que tem dito”, com outras cinco criadas desde então e uma última (a psicodélica “Reptilianos”, que ainda vai ganhar um videoclipe feito em animação 3D) escrita em parceria com Eduardo de Andrade Pereira e Gabriel Costa Novo Pimenta Brandão.
Canções de revolta e amor
A produção do novo álbum teve início em novembro de 2014 e foi comandada por Rodrigo Itaborahy, o mesmo produtor do segundo trabalho do Subefeito (“Parque de exposições”). “Ele é, na minha opinião, o melhor produtor de Juiz de Fora, um cara que entende muito da parte técnica e que curte o nosso som, nossas letras, nosso estilo”, elogia. Com mixagem e masterização prontas, o próximo passo será a prensagem do trabalho, mais uma etapa a ser vencida por quem decidiu fazer um trabalho totalmente independente, sem auxílio de leis de incentivo à cultura.
“Queríamos provar que é possível, sim, produzir sem apoio. Fizemos isso por acreditarmos no projeto, se não fosse assim teríamos parado há muito tempo. Sabemos que o disco não é para tocar no ‘Faustão’, mas tenho convicção de que teremos uma repercussão bacana no underground brasileiro”, acredita Davi Ferreira, que pelo amor ao punk foi capaz de vender seu carro (“meu Santana velho”) para bancar a produção de “Dizer o que tem que ser dito” e também adiar o casamento com a noiva, Solléria Menegati. A paciência com o noivo, pelo menos, rendeu a primeira canção de amor do grupo, “Com você”. “Ela deu muita força e apoio para a gravação, entendeu a necessidade de adiar a data do casamento. E quem disse que os punks não amam? Afinal, as pessoas precisam de amor para superar as dificuldades.”
E é com amor e disposição de disseminar sua mensagem que o Subefeito segue em frente. Além de iniciar o trabalho de divulgação do novo álbum, o grupo planeja retornar em breve com o site (www.subefeito.com), atualmente em manutenção, finalizar a produção do videoclipe de “Reptilianos” e trabalhar em representações audiovisuais de mais canções do disco. “Temos de encarar as dificuldades da vida dupla de artista e de quem tem de lidar com as coisas cotidianas. Nós todos trabalhamos ou estudamos, alguns integrantes têm filhos, mas mantemos apesar de tudo o objetivo que é comum a tantas bandas punks do Brasil: ser um reflexo da nossa realidade por meio da música.”
CIRCUITO CULTURAL PUNK
Shows com as bandas Subefeito, NxDxUx, Holokausto Social, DMD, Panguá, Os Calhordas, Traste, Dekradi, Sangue nos Olhos, Acid Drop, Sexy Grandma e 100 Classe
Neste sábado, às 17h
Black Gold Bar
(Avenida Brasil 2.983)