Discurso regional

Atrás na linha de investimentos, a Zona da Mata, especialmente Juiz de Fora, elege bancada expressiva para reverter o jogo

A cidade, e não é de hoje, sempre ouviu apelos de lideranças políticas e empresariais para a eleição de candidatos identificados com a região, a fim de dar consistência às suas demandas. No pleito deste ano, várias entidades deram um tom institucional ao tema, sob o argumento de ser a única forma de ter voz nas instâncias de poder de Belo Horizonte e de Brasília. O eleitor, mesmo aquele infenso a esse discurso, respondeu nas urnas, e nunca na história de Juiz de Fora foram eleitos tantos deputados estaduais e federais ao mesmo tempo: cinco para a Assembleia Legislativa e três para a Câmara Federal. A questão, agora, é saber se há algum projeto de atuação conjunta, embora seja prematuro fazer esse tipo de cobrança.

Quando indagados, logo após a divulgação dos resultados, todos apresentaram sua pauta de ação, inserindo medidas em favor do desenvolvimento do município e da Zona da Mata. Até aí, porém, não há novidades, pois seria um contrassenso ter um discurso contrário. A meta, mesmo ainda sendo cedo, é que todos sentem-se à mesma mesa e coloquem no debate as prioridades. Juiz de Fora, por ser uma cidade perto da fronteira com o Rio de Janeiro, foi uma das mais afetadas pela guerra fiscal do estado fluminense. Várias empresas, ante propostas irrecusáveis, migraram suas sedes para municípios vizinhos, como Levy Gasparian e Três Rios. A despeito de algumas contramedidas, elas foram insuficientes para evitar o êxodo industrial.

Centro econômico de Minas Gerais na primeira metade do século passado, Juiz de Fora vem, no decorrer dos anos, perdendo posições no ranking de arrecadação, arrastando consigo o desempenho pífio da Zona da Mata. E não se trata, necessariamente, de gestões ineficazes, mas de um sistema de afastamento regional das ações do centro de poder. Com oito deputados, é possível reverter essa lógica, pois trata-se, sobretudo na Assembleia, de um quórum expressivo para qualquer votação. Se estiverem dispostos a trabalhar em grupo, independentemente do viés ideológico, os deputados estarão, de fato, agradecendo aos eleitores que apostaram em seus mandatos. E não serão os únicos, pois a Zona da Mata elegeu outros tantos que poderão engrossar o bloco.