João Penido corre risco de secar
A Represa João Penido corre o risco de secar. Esta é uma realidade que pode ocorrer ainda este ano se persistir o baixo volume de chuvas, como observado nos últimos meses. Pelos cálculos da Cesama, isso poderia ocorrer até outubro de 2015, quando se inicia o novo período de precipitações. Hoje o manancial, que já abasteceu metade da população de Juiz de Fora, está com 30% de sua capacidade de armazenar água.
Para evitar esta situação, a Cesama trabalhará, nos próximos meses, com o intuito de diminuir a dependência da represa e tentar prorrogar, ao máximo, sua vida útil. O plano está em reduzir a vazão de água que sai a cada segundo dela, que normalmente é em torno de 800 litros por segundo para até 250 litros por segundo. Com esta redução, a demanda da João Penido seria atendida pelas águas de Chapéu D’Uvas, embora a estação de tratamento que a atende ainda não esteja com as obras de ampliação concluídas. Outra medida extrema, que poderá virar realidade caso a concentração de chuvas não aumente, está na extensão do rodízio de abastecimento, em vigor desde outubro e que deverá ser novamente prorrogado no fim deste mês. Um novo anúncio deverá ser feito ao longo da próxima semana.
As informações foram divulgadas pelo diretor-presidente da Cesama, André Borges de Souza, levando em consideração a possibilidade de haver concentração de chuvas até março muito menores do que o pior cenário projetado pela companhia. Segundo ele, a escassez de precipitações em todo o período, e repetida de forma ainda mais grave agora em janeiro, poderá fazer o juiz-forano experimentar “um ano de sacrifício, até maior a partir de um certo momento”. “Geralmente chove até março e abril. Se no final deste período o regime de chuvas continuar atípico, deveremos ampliar o rodízio. Ainda não é certo o que poderia ser feito, mas existe a possibilidade de aumentar desde o horário de interrupção do fornecimento até os dias.”
Ele reconhece estas possibilidades por causa da situação atual da João Penido, considerado nível crítico para esta época. “No ano passado, estávamos eliminando água em janeiro e chegamos em abril com 80%. Mesmo assim, ela caiu para 18% (em setembro) até voltar a subir. Então precisamos nos esforçar para que ela inicie o período de estiagem com o maior acúmulo possível. É necessário diminuir sua oferta de água o ano todo para ela não secar. A situação assusta porque há o temor de se tornar padrão daqui para a frente. E caso isso aconteça, a população precisará mudar os hábitos, e isso não é simples e nem rápido.”
Segundo o diretor de Desenvolvimento e Expansão da Cesama, Marcelo Mello do Amaral, o pior cenário de chuvas leva em consideração acumulados mensais mais negativos do que os observados no ano passado. Neste cenário, João Penido deveria terminar janeiro com 39% de água preenchida e chegar a abril com 46% para alcançar 19% em outubro. Caso não chova nem o previsto na mais pessimista projeção, novos planos, ainda mais radicais, deverão ser pensados. “Em janeiro, que era o momento de a represa estar em recuperação, as precipitações estão muito abaixo da média. Esperamos mais chuvas entre fevereiro e março.” Segundo o Inmet, só choveu até agora 22% do esperado para todo o período, que são 299,8 milímetros.
Conforme a climatologista da UFJF Cássia Ferreira, a tendência no momento é que fevereiro tenha, novamente, chuvas abaixo da média histórica, que são 217,4 milímetros.
Sobretaxa
Mesmo com todo o difícil cenário com relação ao abastecimento, ainda não há previsão de aplicar sobretaxa ao consumidor que gastar mais água do que a média anual. Esta situação já é uma hipótese em municípios mineiros abastecidos pela Copasa, conforme anúncio feito pela empresa na última quinta-feira. Durante coletiva de imprensa, a diretoria pediu que os mineiros economizem 30% do consumo diário. Na Cesama, a assessoria de comunicação informou que esta determinação só ocorreria caso fosse solicitada pela Agência Reguladora de Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário do Estado de Minas Gerais. No entanto, apesar de o órgão estar acompanhando e sendo informado de toda a situação local, esta possibilidade ainda não foi discutida.
Maior demanda por Chapéu D’Uvas em fevereiro
Como a demanda média de consumo na cidade é de aproximadamente 1.500 litros de água por segundo, o diretor-presidente da Cesama, André Borges de Souza, explica que o plano está em extrair, a partir de fevereiro, de 250 a 300 litros de água da Represa João Penido, até 140 litros de São Pedro, e entre mil e 1.100 litros da Estação de Tratamento Walfrido Machado de Mendonça (ETA-CDI). Esta estação, que ainda passa por ampliações, recebe e trata a água de Chapéu D’Uvas e do manancial de passagem Ribeirão Espírito Santo.
A intenção é que cada uma destas duas fontes de recursos forneça metade do volume total estimado. A diferença é que a água de Chapéu D’Uvas irá direto para o processo de filtração, pois os decantadores ainda não foram construídos, como a Tribuna já informou em reportagem publicada no fim do ano. No entanto, André garantiu que a água deste manancial é naturalmente decantada na barragem, e por isso não há prejuízos a sua qualidade, que se manterá nos padrões determinados pelo Ministério da Saúde. “Vamos tirar o máximo possível da ETA para preservar João Penido.”
Ainda de acordo com André, o quadro seria muito mais grave se Chapéu D’Uvas, 11 vezes maior que a João Penido e que está com 40% de sua capacidade preenchida, já não estivesse em operação. Até fevereiro, ela continuará contribuindo com 300 litros de água por segundo no sistema, pois, ao chegar à ETA, ainda se mistura com a água do ribeirão e passa pelo processo de purificação nos mesmos equipamentos. No mês que vem, com o uso de outro filtro e outro floculador, já construídos, as águas serão separadas e o volume a ser tratado poderá ser ampliado, com a expectativa de tratar até 500 litros por segundo.
O outro manancial da cidade, o de São Pedro, voltou a cair e está com 77%. Por ser muito menor em relação aos outros dois em operação, ele é mais sensível a longos dias de estiagem. Apesar das chuvas dos dois últimos dias, a situação nas represas não mudou.
Forte massa de ar seco e quente é maior problema
Considerando a hipótese de não haver mais chuva em janeiro, o volume acumulado de precipitações entre outubro e o fim da tarde de sexta-feira é de somente 49% do esperado, conforme a média histórica dos últimos 30 anos do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Em outubro, o acumulado foi de 47,9%, enquanto que, em novembro, chegou a 94,3%. Dezembro terminou com 47,6%, e este mês, até o momento, somou apenas 22,2% das chuvas.
O problema de janeiro está na presença de uma forte massa de ar seco e quente em praticamente todo o Estado de Minas Gerais. É ela que impede a aproximação de instabilidade, afasta as nuvens de chuvas, favorece a queda da umidade relativa do ar e aumenta as temperaturas máximas. Por isso, o consumo na cidade está alto, conforme explicou o diretor-presidente da Cesama, André Borges de Souza. De acordo com o diretor de Desenvolvimento e Expansão da Cesama, Marcelo Mello do Amaral, o rodízio tem funcionado de forma a reduzir o pico de consumo. “Como estamos economizando cerca de 6% em toda a rede, temos conseguido manter a média de 1.500 litros de água por segundo, mesmo em dias muito quentes.”
Lei não sancionada
De autoria do vereador Antônio Aguiar (PMDB), a lei municipal que prevê multa para o cidadão que lava calçada com água tratada ainda não foi sancionada pelo Executivo. Segundo o legislador, a dificuldade da Prefeitura está em encontrar maneiras de fiscalizar o cumprimento das regras. “Isso devido à carência de recursos humanos. Quando criamos a lei, deixamos a cargo do Executivo definir como seria esta fiscalização. Lembrando que a intenção é de ela ser sazonal. Ou seja, vale apenas nos períodos em que a Cesama achar necessidade, como nos meses de estiagem”, informou, ressaltando que outras cidades de médio e grande porte do país já replicaram a ideia, como Santos (SP).
A assessoria de comunicação da Cesama informou que o cumprimento da lei deverá ser feito pela própria companhia. Mas para que isso ocorra, fiscais deverão ser contratados, já que esta função não existe em seu quadro de pessoal. A assessoria explicou que não poderá ser feita contratação direta, sendo necessário promover concurso público que, no entanto, não tem previsão para acontecer.
Região
Enquanto o desabastecimento é visto como uma possibilidade em Juiz de Fora, em outros municípios da região a situação já é realidade. Em Ubá, foi decretada situação de emergência em razão da estiagem e falta de água potável. Com isso, a empresa pode contratar serviços necessários para minimizar a crise sem a necessidade de abrir processos licitatórios. Em Viçosa, o Poder Executivo voltou a implantar sistema de rodízio, enquanto que, em Ewbank da Câmara, o quadro também é preocupante. Na cidade, o município já iniciou a perfuração de dois poços artesianos para tentar reduzir os impactos do desabastecimento, que perdura há duas semanas.