Família se tranca em quarto, enquanto ladrão age em apartamento e PM não chega


Por Marcos Araújo

23/01/2015 às 18h10- Atualizada 23/01/2015 às 20h05

No visor do aparelho, aparecem as ligações feitas pelos moradores ao telefone de emergência da Polícia Militar
No visor do aparelho, aparecem as ligações feitas pelos moradores ao telefone de emergência da Polícia Militar

Agonia. Essa palavra resume os momentos que uma família passou trancada dentro de um quarto, enquanto um bandido vasculhava o apartamento, no Bairro Nossa Senhora Aparecida, Zona Sudeste. O criminoso ficou cerca de uma hora no imóvel, durante a madrugada desta sexta-feira (23), e as vítimas, à sua mercê, não conseguiram acionar a viatura da Polícia Militar, apesar das ligações que teriam sido realizadas ao 190 de dentro do quarto. No cômodo, estavam uma professora, de 24 anos, a mãe dela, 52, e o irmão, de 15. Conforme a família, os policiais chegaram quase duas horas depois, por volta das 7h, quando o ladrão já tinha ido embora e levado diversos pertences dos moradores. De acordo com a professora, que prefere não ser identificada, o ladrão teria escalado o prédio e invadido o apartamento no primeiro andar por um meio de uma varanda. “Eu levantei para beber água e permaneci na cozinha sentada por cinco minutos, quando levantei, vi uma sombra na parede e, em seguida, o ladrão. Entrei no quarto, onde estavam minha mãe e meu irmão, acordei-os e contei do bandido. Trancamos a porta e ainda colocamos a cama e outros móveis atrás para impedir a passagem”, relatou a moradora.

Com o celular da mãe, passaram a ligar para o 190. No visor do aparelho, aparecem as ligações feitas pelos moradores ao telefone de emergência da Polícia Militar. “Primeiro uma policial atendeu, e contamos o que estava acontecendo. Ela pediu o endereço e disse que mandava uma viatura. Minutos depois, nada tinha acontecido. Ligamos novamente, sempre falando baixo, com medo de sermos ouvidos. A mulher pediu o endereço de novo. Avisei que tinha gente dentro da minha casa e ficamos esperando. Novamente nada aconteceu. Então ligamos uma terceira e quarta vezes. Na última, um policial atendeu e chegou a insinuar que nossa ligação se tratava de um trote. Ele colocou uma musiquinha para minha mãe ouvir, falando a respeito de trote ser crime. Um absurdo! Enquanto isso, o ladrão andava toda a minha casa, acendeu luzes e revirou tudo”, contou a professora, acrescentando que o pai dela, de 58 anos, dormia em outro quarto e não acordou.

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“Foi muita agonia, pois, a todo tempo, achávamos que ele iria entrar no quarto e nos matar. Foi desesperador. Chorei muito. Sem ser atendidos pela polícia, ligamos para meu cunhado, e ele ligou para o 190. Só às 7h, a viatura apareceu, mas o bandido já tinha ido embora”, disse a vítima, lembrando que o ladrão, entre outras coisas, levou um videogame, um receptor de antena, uma bolsa, uma carteira com cerca de R$ 100 e cartões de banco. “O problema maior não é o prejuízo, que foi pouco, mas o trauma que vivemos. Queria enfatizar o descaso com a gente e o sufoco que passamos de ter um bandido dentro de casa. Além de tudo isso, duvidaram do que falamos.”

No boletim de ocorrência registrado pela PM, os policiais responsáveis por preenchê-lo, relataram que o bandido teria entrado no apartamento após escalar um poste que fica junto à varanda do apartamento, onde ele encontrou uma porta aberta para acessar o local. No documento, não há menções a respeito da demora para envio de viatura. Na manhã desta sexta-feira (23), a assessoria da 4ª Região da Polícia Militar informou que as vítimas ainda não tinham procurado a instituição para comunicar a sua reclamação, mas o caso seria analisado.

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