‘Eu quero ir-me embora, eu quero dar o fora’


Por Júlia Pessôa

05/10/2014 às 07h00- Atualizada 06/10/2014 às 09h13

“Não aguento mais viver nessa cidade.”  Há algumas décadas, esta frase costumava expressar o desejo de deixar o interior rumo à “cidade grande”, onde estavam as oportunidades e a possibilidade de uma vida melhor. Atualmente, cada vez mais pessoas se referem à vontade de abandonar estes centros em direção a lugares menores. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), este movimento faz parte de uma conjuntura maior e está relacionado às transformações econômicas e, consequentemente, de mercado de trabalho. “O principal motivo das migrações para cidades médias e pequenas é a busca por trabalho, embora reconheçamos que também se apresentam outros motivos, tais como estudo e busca por melhor qualidade de vida, entre outros”, afirma o pesquisador do IBGE e doutor pela Unicamp, Antônio Tadeu Ribeiro de Oliveira.

Segundo ele, apesar de haver este crescimento no fluxo de pessoas para cidades médias e pequenas, os grandes centros continuam sendo polos atrativos de migrantes, mas em volumes menores na comparação com os observados no passado. “A curto prazo, o principal impacto será o rápido crescimento dessas cidades que atraem população e o declínio nas taxas líquidas migratórias dos grandes centros. A longo prazo, diria que vamos estabelecer uma estabilidade e equilíbrio nos fluxos migratórios.”

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Para Tadeu, os atrativos que o interior oferece costumam compensar os que são perdidos quando se deixa uma grande cidade. “As cidades menores proporcionam um modo de vida mais calmo, distâncias mais curtas para o acesso ao trabalho e aos serviços e menos violência, que, de certo modo, compensariam os aspectos negativos associados, na maioria dos casos, à falta de estrutura como boas escolas, hospitais, lazer e transporte aéreo.”

Já o professor Luiz Fernando Soares, coordenador do Laboratório de Demografia e Estudos Populacionais da UFJF, observa que, no caso específico de Juiz de Fora, a cidade, caracterizada como grande centro regional em Minas Gerais tem, por um lado, esta capacidade de receber e oferecer bens e serviços para uma parcela de migrantes, provenientes não só, de sua periferia imediata, mas também de outros grandes centros ou metrópoles à procura de uma qualidade de vida melhor. “No entanto, o crescimento demográfico, alimentado pela migração, passa a demandar certas políticas públicas, decorrentes dos problemas mais característicos das grandes cidades. Dentre estes problemas, destacam-se aqueles relacionados ao trânsito (mobilidade) e segurança, por exemplo.”

O pesquisador do IBGE Antônio Tadeu Ribeiro destaca que cada cidade e cada área profissional tem sua especificidade, e que o sonho da vida no interior não é uma tendência generalizada. “O caso do programa “Mais médicos”, do Governo federal, é bem emblemático. Mesmo com um salário considerado vantajoso, em comparação ao obtido nos grandes centros, boa parte dos médicos brasileiros não se dispõe a ir trabalhar nas cidades pequenas justamente pela falta de estrutura, não só para exercer a medicina, mas a falta de estrutura no geral”.

Segundo o professor da UFJF Luiz Fernando Soares, para ver os pontos positivos e negativos da migração para uma cidade menor, é preciso conhecer o próprio estilo de vida, o motivo do deslocamento e o que a cidade oferece. “Só assim podemos considerar se a sua chegada será ou não boa para ele – o migrante – e para a cidade, no sentido de que seus anseios serão alcançados ou não e se a cidade estará pronta para recebê-lo e tirar proveito de sua presença. A chegada de um novo morador em uma cidade demanda mais serviços e produtos, assim como uma possível oferta de mão de obra. Não devemos, no entanto, esquecer que Juiz de Fora possui um número significativo de estudantes, resultado da existência de uma universidade federal e de faculdades particulares, o que pode impactar este cenário”, pondera ele.

A Tribuna conversou com diversas pessoas que tomaram a decisão de viver em cidades menores por diferentes razões: a chegada de um bebê, um cenário profissional promissor, a possibilidade de se deslocar a pé, a proximidade com as pessoas, entre vários outros motivos. Conheça um pouco das histórias destas pessoas, que optaram pelo “menos é mais”.

 

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