Execução pública revela audácia de criminosos
A execução de um jovem de 25 anos dentro da Unidade de Atenção Primária à Saúde (Uaps) no Bairro Santa Rita, Zona Leste, levou pânico a usuários e funcionários do posto na manhã de ontem. O crime ocorreu às 7h30, quando o motorista de caminhão Maxwell Ferreira Guedes foi assassinado, sofrendo 18 perfurações no corpo. Além dele, um paciente de 50 anos, que também aguardava atendimento na sala de espera, foi atingido por um tiro no tórax. O crime chocou pela extrema violência dos três bandidos, que entraram no local, onde havia cerca de 50 pessoas, descarregando três armas contra Maxwell. Além disso, demonstra a ousadia de criminosos, que agiram durante o dia e em ponto de aglomeração de pessoas.
Segundo a Polícia Militar, mesmo ferido pelos primeiros tiros, o rapaz ainda tentou escapar acessando a parte interna da unidade, mas foi perseguido pelos criminosos e alvejado por mais disparos. Já a outra vítima foi socorrida pelo Samu, encaminhada ao Hospital e Maternidade Therezinha de Jesus e, conforme a PM, precisou passar por cirurgia.
Os atiradores teriam percebido a presença do jovem no local e retornado segurando capacetes, dos quais teriam sacado as armas e iniciado a série de disparos, que levaram desespero aos cerca de 40 usuários e dez funcionários da Uaps. A mulher da vítima contou que aguardava para realizar um exame de sangue, quando os criminosos, em um grupo de cinco pessoas, chegaram em motos. “Quando ele viu (os suspeitos), apertou minha perna, e eu perguntei: quer ir embora? Mas ele disse que estava tudo bem”, relatou a mulher, 21. De acordo com o boletim de ocorrência, antes da fuga, o trio que atirou ainda ameaçou de morte a companheira de Maxwell, e ela se escondeu no banheiro.
Quatro suspeitos moradores do mesmo bairro foram identificados pela PM, mas ninguém foi preso. Após a perícia, o corpo da vítima foi encaminhado para necropsia no Instituto Médico Legal (IML). De acordo com a PM, a suspeita é de que o crime tenha sido motivado por outro homicídio ocorrido recentemente na região. O caso já está sendo investigado pela Delegacia Especializada de Homicídios. Segundo o delegado Rodrigo Rolli, os suspeitos do crime foram identificados e, “em breve, os resultados serão apresentados”.
Portas fechadas
A assessoria de comunicação da Secretaria de Saúde confirmou que as duas vítimas de disparos buscavam atendimento na unidade. Segundo a pasta, devido ao ocorrido, a Uaps, referência para nove mil pessoas da região, manteve as portas fechadas durante todo o dia. Em nota, a secretaria lamentou o episódio e comunicou que, “para facilitar o trabalho de perícia no local, a unidade foi fechada no dia de hoje (ontem) e os atendimentos suspensos. Tão logo seja restabelecida a normalidade no local, os serviços serão retomados. A secretaria informa que está colaborando com as autoridades policiais que investigam o caso”.
Já a assessoria da comunicação da Secretaria de Administração e Recursos Humanos (SARH) informou, por meio de nota, que a unidade de saúde do Santa Rita “conta com sistema de alarme, resguardando o patrimônio no horário fora do expediente, além de ter um porteiro, que tem a função de controlar o acesso dos usuários. Além disso, a Guarda Municipal realiza o patrulhamento nas unidades, podendo ser acionada pelo telefone 153”. A pasta ressaltou que “o incidente foi um caso iniciado fora dos domínios da unidade, cujas origens fogem do âmbito administrativo da Prefeitura, que lamenta o ocorrido”.
Inocentes atingidos em outros pontos da cidade
O homicídio na Uaps do Santa Rita trouxe à tona, mais uma vez, a preocupação com a violência no município que, há menos de duas semanas, teve seu 1º Fórum de Segurança, organizado pela Prefeitura, em parceria com a iniciativa privada, polícias Militar e Civil, Ministério Público e Poder Judiciário. Após o evento, um documento chamado “Declaração de Juiz de Fora” foi elaborado e ainda será entregue a autoridades governamentais nos âmbitos estadual e federal. A violência não só tem assustado a população, como tem feito vítimas pessoas inocentes, que não têm relação direta com as ocorrências. Além do morador de 50 anos do Santa Rita, atingido no tórax apenas por estar ao lado do alvo de criminosos, outros casos recentes reforçam o perigo. No dia 26 de agosto, uma criança, 6, e uma mulher, 59, ficaram feridas ao serem alvejadas por disparos na Avenida Doutor Simeão de Faria, no Bairro Santa Cruz, Zona Norte, em plena manhã. Elas estavam em um ponto de ônibus, quando criminosos armados dispararam contra o adolescente Thalys Lourenço de Oliveira, 17. O rapaz não resistiu, e as vítimas fora medicadas, com ferimentos na mão e perna, respectivamente.
Já no dia 15 de setembro, dois adolescentes, de 13 e 15, foram baleados por um grupo que assassinou Robson Felipe da Silva Júnior, 18. O crime teria sido motivado por rivalidade entre jovens das vilas Esperança I e II, na Zona Norte. Após capturados, suspeitos revelaram que o alvo era apenas Robson Júnior.
Na tentativa de coibir esses acontecimentos, a declaração elaborada durante o Fórum de Segurança propôs, a curto, médio e longo prazos, ações de combate à criminalidade, como a implantação do projeto estadual “Fica vivo”, que tem como objetivo controlar e prevenir a ocorrência de homicídios dolosos em áreas com altos índices de crimes violentos e a criação de um Plano Municipal de Segurança Pública, que visa a traçar políticas de enfrentamento à violência. Já no que diz respeito à participação de adolescentes no crime, situação que tem se agravado na cidade, o documento prevê a implantação do Centro Integrado de Atendimento ao Adolescente Autor de Ato Infracional e instalação de uma nova Vara da Infância e Juventude. Só no primeiro semestre deste ano, cerca de 600 adolescentes foram apreendidos pela PM.
Ações imediatas
De acordo com o secretário de Governo da Prefeitura, José Sóter de Figueirôa Neto, a ideia era entregar a “Declaração de Juiz de Fora” também aos candidatos ao governo estadual, mas, devido ao período eleitoral, o envio ainda não foi realizado. Segundo o secretário, isso irá acontecer imediatamente após o pleito.
Na avaliação de Figueirôa, o que ocorreu na Uaps do Santa Rita só reforça a necessidade de ações imediatas. “Não podemos ficar de braços cruzados, embora estejamos em um quadro de transição política”, afirma, acrescentado que o fórum é permanente e serão realizadas reuniões continuamente a fim acompanhar o andamento das demandas formatadas no evento. “Vale ressaltar que o fórum integrou todos os órgãos envolvidos nessa questão, como as polícias, Prefeitura, iniciativa privada, Ministério Público e Poder Judiciário, o que evidencia a preocupação de todos. Ele ainda garantiu que a Prefeitura está tomando todas as providências para assegurar a segurança de todos os funcionários do SUS na cidade.
*colaborou Michele Meireles