Hortifrúti adota métodos para evitar desperdício de alimentos
Mariana Arrivabene, advogada que atua na área de direito ambiental, conta como a triagem sustentável funciona e incentiva que “todos colaborem”
A triagem sustentável, no setor de hortifrútis, é feita desde que o produto chega à loja e engloba uma série de iniciativas, que vão desde a doação até a adubagem dos alimentos. O começo desse processo se dá justamente fazendo a análise do que, entre as hortaliças, verduras e legumes, está apto para ser vendido. Conforme as vendas avançam, o que acaba não sendo escolhido pelos clientes prossegue para as demais etapas de destinação dos alimentos conforme o estado dos produtos. Como explica a especialista em sustentabilidade Mariana Arrivabene, que trabalha no hortifruti Natural da Terra, o objetivo desse processo é sempre reduzir ao máximo o desperdício e fazer uma gestão de resíduos efetiva.
No caso do local em que trabalha, ela explica que o processo começou com um despertar de consciência de toda a equipe que realiza a triagem. “Essa seleção é feita com base na qualidade que é pedida pelos nossos clientes, então é uma qualidade alta, que o alimento fica lustroso e tem calibre. O que não é adquirido na banca já é retirado, e aí passamos para um pós, que é essa fase de redução de desperdício”, explica. Nela, os alimentos ainda estão com boa qualidade e dentro da validade, mas acabam sendo preteridos pelos clientes. É por isso que são utilizados dentro dos refeitórios das próprias lojas, complementando as três refeições oferecidas aos colaboradores ao longo do dia. Ela explica que o processo já começa internamente para que possa ultrapassar as barreiras da empresa.
A triagem dos alimentos também é feita respeitando cada fase dos itens, e, por isso, utiliza vários métodos diferentes. Além do uso nos refeitórios, os alimentos em boas condições e que estão próximos do vencimento vão para a “Gôndola Pegar ou Pegar”, em que se estimula, a partir do desconto de até 50% no preço, a comprar e usar os alimentos antes de vencerem. Além disso, também são utilizados bancos de alimentos, como o Mesa Brasil e o Prato Cheio, para onde a empresa faz doações de alimentos. Esses bancos conectam os produtos com instituições que precisam deles para abastecer os beneficiados.
Há também o uso em parceria de aplicativos, como o Food To Save e B4Waste. Nessa iniciativa, são selecionados alimentos próximos ao vencimento, que já sairiam do ponto de venda pelo processo padrão da companhia, mas que podem ser disponibilizados nos aplicativos com descontos. Mariana explica, também, que a rede está trabalhando agora com a produção de adubo pela rede, como um “fechamento do ciclo sustentável que a marca buscava”. O lixo orgânico produzido em uma das unidades, no Rio de Janeiro, onde o processo começou a ser testado, já vira compostagem e cria-se um novo produto para a empresa.
‘Benefício para a sociedade’
Na visão de Mariana, as ações desenvolvidas na empresa são complementares e, por isso, geram resultados melhores. Ela incentiva que mais empresas adotem métodos como os utilizados no hortifruti, pois a principal vantagem é “deixar de desperdiçar esses alimentos e de destiná-los para os aterros sanitários, onde os lençóis freáticos estão abaixo”, explica. Ela diz ainda que toda a região onde esse lixo excessivo é destinado é afetada, e a partir do momento em que a quantidade de resíduo descartado é reduzida, “já é um benefício para a sociedade”.
A especialista também analisa que, no atual momento, é “inerente a qualquer atividade empresarial um nível de responsabilidade social e ambiental”. Apesar de considerar que isso não é uma obrigação legal, entende que principalmente as empresas que atuam em um mercado em que os produtos vêm justamente da natureza, é preciso ter bastante cuidado até mesmo para preservar a longevidade do próprio negócio. Arrivabene considera, no entanto, que ainda não há muitos exemplos de medidas como essa no mercado. “Em muitos casos, o consumo exacerbado pode parecer o melhor caminho, mas o meio ambiente e a sociedade estão vendo que não, e estamos vendo os efeitos disso nas questões climáticas”, ressalta.
Todos podem colaborar
Conforme a especialista explica, para chegar em um modelo de triagem sustentável, foi preciso de muitas adaptações para pensar o próprio modelo de produção e de venda do hortifruti em questão. No ano de 2022, por exemplo, a rede conseguiu doar 93 toneladas de alimentos através dos bancos e fazer, assim, com que 400 mil refeições fossem complementadas. Além disso, a iniciativa dos aplicativos, que funciona desde agosto de 2022, já conseguiu evitar o desperdício de 50 toneladas de alimentos.
Ela entende, no entanto, que diferentes tamanhos de negócios podem se adaptar de outras maneiras, e que esse processo de triagem pode ser feito por todos – até mesmo por indivíduos em suas próprias rotinas. “Eu diria que tudo pode ter um olhar de sustentabilidade, desde as cópias diárias nas impressoras, a redução dos copos descartáveis e a nossa própria consciência nas escolhas dos alimentos, como por exemplo nem sempre optar pelo mais brilhoso ou encontrar formas de usar os produtos disponíveis antes que estraguem. A sustentabilidade sempre começa com a gente”, afirma.