Clinton Davisson lança romance de terror ‘Baluartes – terra sombria’

A obra é feita misturando elementos do folclore nacional, personagens históricos e uma intensa pesquisa sobre a cultura africana e indígena


Por Elisabetta Mazocoli, sob supervisão do editor Marcos Araújo

01/03/2023 às 07h00- Atualizada 01/03/2023 às 15h13

O escritor Clinton Davisson lançou, em janeiro de 2023, o romance de terror “Baluartes – terra sombria” através da Editora AVEC. A obra é feita misturando elementos do folclore nacional, personagens históricos e uma intensa pesquisa sobre a cultura africana e indígena, levando 12 anos para ser concluída. Toda a trama se passa na cidade de Santa Rita de Ibitipoca, na Zona da Mata Mineira, durante o Brasil Colônia do Século XVIII. O objetivo do autor é trazer “precisão histórica, terror e pitadas de humor” aproveitando esses elementos que, para ele, muitas vezes não são valorizados pelo público.

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Na nova obra de Davisson, três jovens, sendo um estudante português, um príncipe africano e uma indígena brasileira, são convocados por uma misteriosa sociedade secreta, os Baluartes, para irem até o Brasil Colônia de 1780. Nesse período, eles precisam investigar casos de seres da mitologia brasileira como o Saci, o Boitatá, o Caipora, a Mula sem cabeça. O autor é jornalista e mestre em comunicação pela UFJF, além de também ser pesquisador da Secretaria de Saúde Indígena (SESAI). É o seu quinto livro no mercado, e ele conta que o interesse que tem pelas obras de terror, como essa que publicou, surgiu justamente pelo fascínio e medo que sentia escutando lendas do folclore brasileiro.

Escutava histórias de terror desde criança, seja de uma vizinha ou mesmo de uma mulher que trabalhava em sua casa. Eram histórias do Saci que o deixavam “morrendo de medo” quando tinha por volta dos 10 anos. Posteriormente, ele se apaixonou por filmes de terror e pôde aprofundar o gosto pelo gênero. Seu livro, no entanto, tem inspirações variadas, que vão “desde o Sherlock Holmes, até os desenhos do Scooby Doo e Caverna do Dragão”. Mas a ideia que baseou a maior parte da obra surgiu enquanto estava fazendo uma pós-graduação em Educação, em 2010, em que estudou mais sobre a cultura africana e indígena.

Um de seus professores na época era um escritor brasileiro que fazia livros infantis sobre lendas africanas, e isso motivou Davisson a pesquisar mais sobre o folclore brasileiro. “Descobri que havia um livro excelente de um escritor brasileiro, Roberto de Sousa Causo, que se chamava ‘A Sombra dos Homens'”, conta. O livro foi lançado em 1995, e mostrava um embate entre um índio brasileiro e um viking, apresentando um guerreiro nórdico montado em um kraken (figura da mitologia nórdica representada por um monstro marinho gigantesco) e o indígena montado em um Boitatá. “O livro foi alvo de ataques de ódio nas redes sociais por tentar um olhar mais adulto do folclore nacional. Muita gente dizendo que o Saci não assustava. Pensei: se tem muita gente odiando, é porque é um bom caminho literário a ser seguido”, diz.

No trabalho como escritor, Davisson sempre defende a ideia de que a mitologia brasileira também tem um grande potencial para histórias de terror (Foto: Divulgação)

Processo de pesquisa

O processo de pesquisa foi bastante importante para que o autor conseguisse acertar os fatos históricos que envolvem a história. O genocídio da etnia dos Goitacazes, por exemplo, faz parte da história de uma das protagonistas, a indígena Tŝahi, que tem sua aldeia dizimada. Além disso, também trabalha com figuras como Napoleão Bonaparte, Mozart e mesmo Tiradentes. No começo desse processo, ele fez uma pesquisa em relação a história e lugares antigos europeus e nota que teve uma facilidade de acesso bem maior do que no momento em que começou a procurar no Brasil. Essa parte da pesquisa voltada para a Europa vai acabar sendo utilizada apenas no segundo livro, que ele já começou a desenvolver.

Para conseguir ter domínio de todos esses temas, contou com a ajuda da diretora do museu de Campos dos Goytacazes, Graziela Escocard, que o indicou diversos materiais, e também a pesquisadora em antropologia e sociedades indígenas Eliana Granado, que o ajudou com várias dúvidas. “Mas o livro só saiu mesmo depois que comecei a trabalhar na Secretaria de Saúde Indígena (SESAI), em Brasília, onde estou morando, e passei a conviver com colegas de trabalho que são indígenas e que me ajudaram com minha personagem. Até a forma de segurar o arco, me corrigiram”, conta. Para ele, a pesquisa foi importante para “ter precisão histórica e geográfica”, mas o que é mais importante é “contar uma boa história de aventura e terror envolvendo personagens interessantes”.

Potencial pouco explorado

A escolha por Ibitipoca como pano de fundo veio pelo encanto que ele tem com a cidade, e pelo potencial que enxergou de tornar um lugar simbólico de Minas como cenário fantasioso. “Um dos meus primeiros trabalhos como jornalista, em 2004, foi como cinegrafista em Ibitipoca. Fiquei encantado com a cidade. Eu fui cinegrafista, e a repórter na época se tornou depois a mãe dos meus filhos”, conta. Isso tornou o lugar ainda mais profundo pra ele.

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Em seu trabalho como escritor, Davisson sempre defende a ideia de que a mitologia brasileira também tem um grande potencial para histórias de terror. Acho que temos um tesouro aqui e as pessoas não enxergavam porque se acostumaram a relacionar com as histórias infantis de Monteiro Lobato”, explica. E complementa sobre o potencial do escritor de transformar isso: “Como um menino de uma perna só pode assustar mais que um zumbi? A resposta é que depende da criatividade de quem escreve”, diz.

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